Eu não a conheci.
Por estes misteriosos propósitos de Deus ela morreu ao dar à luz. E eu permaneci vivo, restando-me as lembranças dos relatos e algumas fotos da sua beleza e encanto.
Esta é uma das fotos. Ela parece ser uma adolescente. Está em pé na segunda fileira, é a segunda da esquerda para a direita, de cabelinhos curtos.
Seu pai, o meu avô está assentado no centro da foto, de terno escuro e lenço branco no paletó.
Sempre senti uma espécie de vazio em minha vida sem saber ao certo defini-lo ou explica-lo. Uma certa sensação de saudade por alguém que eu sequer conheci. Mas com quem tive uma ligação embrionária que marcou minha história para sempre.
Agradeço à Deus por ela, não apenas por ter me gerado, mas pela fé que mantinha com o Criador e Senhor da sua vida. Gostava de falar dele aos amigos e conhecidos.
Anunciava o Evangelho por palavras, através do canto e do testemunho coerente entre crer e viver a verdade. De alguma forma hoje eu continuo o que ela começou por meio do pastoreio de pessoas, e do mesmo amor a Deus que ela nutria.
Sei que um dia toda a distância será descontinuada e a saudade finalmente saciada no grande encontro que a Biblia chama de ‘parúsia’, o retorno de Jesus em glória e a ressurreição de todos os que o amaram para estarem eternamente juntos com Ele.
Houve tempo em que um sentimento de tristeza dominava meu coração; falta de sentido; culpa pelo seu falecimento; distância do Deus de toda Graça e Amor.
Hoje, não mais. O que existe atualmente é gratidão e alegria por ela ter existido e ter me dado à luz.
Por de alguma forma ter permitido que eu vivesse neste mundo, e com muita honra, continuar a fazer o que ela iniciou – anunciar por meio da vida Aquele que restaura os de coração ferido, erguendo-os da ausência de significado existencial e chamando-os a colaborar com o Evangelho para que muitos outros encontrem Nele a paz interior, o amor que sentem necessidade e uma razão maior para viver.