terça-feira, 26 de julho de 2011

Da dor à paz.

A morte do filho que Davi teve com Bate-Seba é uma das historias mais importantes sobre a superação das dores do passado. Logo que a criança nasce é acometida de uma enfermidade mortal. Davi fica em jejum por um longo período e se recusa a desfrutrar das alegrias do palácio, tudo em função de seu filho.

 Ele vive intensamente o momento, fazendo todo o possível para buscar a cura da criança. Mas, apesar do seu esforço, de seu jejum prolongado e de seus longos dias de oração a criança morre. 

Davi então decide retomar a sua vida. Ele toma um banho, se perfuma, troca de roupas e se alimenta. Isso causa estranheza em seus conselheiros porque Davi não faz o luto da criança mas passa imediatamente a uma nova fase de superação da dor que ele viveu por longos meses. A sua resposta aos conselheiros é: “Enquanto a criança ainda estava viva, jejuei e chorei. Mas agora que ela morreu, por que deveria eu jejuar? Poderia eu traze-la de volta á vida? Eu irei até ela, mas ela não voltará para mim”.

O principio que Davi demonstra é que a intensidade do sofrimento precisa ser vivida na hora em que ele acontece e nunca depois. Davi se entristece, jejua, muda sua rotina em função da enfermidade da criança. O primeiro principio:

1.    ENFRENTAR A DOR COM TODO O SEU REALISMO.
 A primeira reação que ele tem é a de não negar a sua dor ou fingir que ela não existe. Ao dar espaço para a realidade da doença de seu filho Davi nos ensina que é preciso viver a historia tal como ela se apresenta e não como achamos que deveria ser.   O ato da negação é comum em momentos de dor. Serve como um mecanismo de afastamento emocional da sensação da dor, embora isso seja ineficaz. È como tomar um sedativo para dormir a fim de esquecer do problema por algumas horas. O fato é que ninguém pode viver sedado durante toda a vida. Por mais doloroso que seja o acontecimento ele precisa ser encarado com realidade no momento em que ocorre. Davi passa sete dias em absoluto jejum, ausência de sono e se afasta das atividades do governo. Ele está focado no problema de seu filho, buscando a Deus pela cura da enfermidade. Grande parte das pessoas, ao se depararem com o imprevisível, o não esperado, empreendem uma fuga da realidade: alguns optam por beber, outros preferem ir às compras, alguns querem mudar de cidade, de emprego, outros tomam remédios. 

Nossa geração está sendo ensinada a não aceitar a vida mas a maquia-la para lhe dar uma imagem menos ruim. E quanto mais dura o adiamento da realidade maior a frustração e as neuroses. O que Davi nos lembra é que há um tempo para cada realidade da vida e nós não podemos pular etapas quando o sofrimento bate à nossa porta.

 Não fuja do problema quando ele se apresentar, nem rejeite-o como se isso não pudesse acontecer. Viva a realidade por mais difícil que ela seja porque isso contribuirá para sua maturidade emocional e principalmente para aprender a confiar no amor de Deus. 

2. BUSCAR INTENSAMENTE A PRESENÇA DE DEUS.
A segunda decisão de Davi foi buscar a Deus pelo filho. Ele permanece sete dias em jejum e oração onde a única coisa que faz é estar na presença de Deus. O que o sustenta durante este período de abstinência é a companhia do Senhor. Ele não adoece por passar tanto tempo sem comer e sem dormir; ele não perde a razão por estar tanto tempo orando. 

Seus oficiais estão muito preocupados com sua saúde mas Davi está bem, tanto no corpo quanto na mente. Quando Davi faz da oração o sustento na hora da dor isso revela uma regra: que é Deus quem nos sustenta em nossa historia de vida, nos momentos bons e maus. Davi não se alimenta mas Deus preserva a sua saúde; ele não dorme mas Deus preserva o seu cérebro.

 Nós confiamos pouco na pratica da oração. Achamos que orar e dedicar tempo a Deus é privilegio de alguns mais treinados nessa pratica. Damos mais credito às soluções que nós podemos criar do que à intervenção de Deus. No entanto, o que as Escrituras nos ensinam é que o que comanda a vida na terra é o governo de Deus e não a sabedoria dos homens.

 Quando apresentamos as nossas dores a Deus isso proporciona uma transferência saudável de ansiedade – ela passa das nossas mãos para as mãos de Deus. È como se largássemos um fardo pesado que estamos carregando sozinhos.

Mais do que mudar uma situação desagradável, a oração tem o poder de nos mudar, nos transformar: ela diminui a tensão; reduz a ansiedade; produz a sensação de bem estar; e faz crescer a certeza de que Deus está cuidando da nossa questão e dará a ela a melhor solução que poderia existir.

 3. RETOMAR A VIDA DEPOIS DA PERDA.
 Deus levou a criança, mesmo com todo o seu empenho  no jejum e na oração. Isso demonstra que Davi sabia aceitar a soberania de Deus mesmo quando ela não estava de acordo com as suas idéias. Ele não se revolta com Deus, nem com a vida, mas adota duas posturas que sinalizam a superação do passado.

 A primeira é retomar a alegria de viver: “Então Davi levantou-se do chão, lavou-se, perfumou-se e trocou de roupa. Depois, entrou no santuário do Senhor e o adorou. E, voltando ao palácio, pediu que lhe preparassem uma refeição e comeu”. 

Davi se perfuma – há um aroma e uma expectativa de novidade em sua historia. È preciso trocar o cinza pelas cores; o odor pelo perfume e o choro pela alegria.

 Davi adora a Deus – é a manifestação de um coração reconciliado com sua historia e com Deus. È necessário fazer as pazes com Deus e com a historia antes que a amargura tome conta dos sentimentos. 

Davi come  o prazer de se alimentar é o sinal de que ele está curado. Os longos dias de oração e jejum produziram em Davi a restauração do seu corpo( a refeição); da sua alma( o perfume ); do seu espirito( a adoração no templo).  Faça o mesmo depois que você passar pela dor. 

A segunda medida de Davi depois do luto é decidir ter outro filho: “Depois Davi consolou sua mulher Bate-Seba e deitou-se com ela, e ela teve um  menino, a quem Davi deu o nome de Salomão”. A palavra “Salomão” vem de “shalom” = paz. 

Davi estava definitivamente restaurado do seu sofrimento porque ele resolve ter outro filho no lugar daquele que morreu. E a este novo filho ele dá o nome de ‘paz’. Esse era o estado do seu coração naquele novo momento.

 Isso quer dizer que toda dor não precisa acabar em tragédia; ela pode terminar em paz desde que a postura seja a mesma de Davi.

O filho que Davi perdeu não teve um nome; foi um filho não planejado, fruto do seu adultério. Mas o filho que ele planejou recebeu o nome de ‘paz’. 

 Os nossos erros do passado não devem nos perseguir pelo resto da vida – precisam ser esquecidos, perdoados, sepultados. Mas os nossos acertos do presente, com Deus, precisam ser nomeados, celebrados e comemorados com muita festa e muita paz.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Ressignificando o passado.

Uma das maneira eficazes de lidar com o passado é reinterpreta-lo, o que exige lidar com ele com menos complexidade, atribuir-lhe menos perigo do que se supõe ou menor prejuízo do que pensamos ter causado.
 A tendência do choque do trauma sofrido é aumentar o seu potencial destrutivo, o que implica que sempre dimensionamos para mais aquilo que aconteceu. Dimensionamos para o pior, para o negativo, para a autocompaixão. E uma das consequências é nos vitimarmos diante da situação.
Esta foi a postura da esposa de Jó, diante das perdas que eles sofreram:
“Então sua mulher lhe disse: ‘Voce ainda mantém a sua integridade? Amaldiçoe a Deus e morra”.
A mulher de Jó não olha os bons tempos do passado: prosperidade- bem estar- filhos felizes- mas se concentra na tragédia e não enxerga nada bom no futuro. Se vê como vitima e culpa a Deus por tudo o que aconteceu.

 Quando agimos assim deixamos de encarar a nossa responsabilidade em agir diante da crise sofrida. Porque quem se vitimiza se fragiliza, se retrai, esperando apenas a compaixão das pessoas.
 Agir pela via da vitimização só aumenta a dor e não ajuda a curar os efeitos do trauma. Quando caminhamos pela via da responsabilidade, nós assumimos que temos um papel na solução do que aconteceu. E isso exige pararmos de esconder o que aconteceu. 
Essa é a primeira reação natural de quem enfrentou uma crise: ter vergonha do que os outros vão dizer. Ter medo de ser culpada por outros pelo que sucedeu. È o caso dos divórcios e adultérios. A parte inocente não quer que ninguém descubra porque de certa forma atribui inconscientemente uma culpa pela traição. Acha que não cuidou da aparência,  devia ser mais paciente, dar mais atenção. 
Mergulhar neste circulo de culpabilidade quanto ao passado: ‘por que eu não fiz....’ não contribuirá para o prosseguimento da vida, o que é o mais importante. Por mais dolorido que seja nunca esconda o seu passado, mas compartilhe sua dor com pessoas que possam ajudar a diminui-la. 
A reação adequada a seguir é o enfrentamento responsável da situação. Por maior que seja a dor temos que parar de brigar com quem nos feriu porque a hostilização aumenta os efeitos da ira, da revolta e da angustia. 
Enfrentar a situação neste caso é reler o acontecido com menos exagero e mais realidade:
1.    “Isso poderia ter acontecido comigo”, em vez de: “Isso jamais deveria acontecer”.
2.    “Outras pessoas também sofreram esta dor”, em vez de: “Eu sou a única pessoa do mundo que passou por isso”.
3.    “È possível superar esta dor” em vez de: “Nunca vou conseguir superar isso”.
4.    “Deus irá me curar essa angustia” em vez de : “Essa é uma ferida incurável”.
A reação de Jó sinaliza a postura certa diante das dores do passado. Ele vê a historia não como ela deveria ser em sua imaginação e sonhos, mas como ela está acontecendo. Ele não procura retocar a historia, mas agarra-se a Deus para superar a dor:
“Disse Jó: ‘Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei. O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor”.
A história da humanidade não é o registro do ideal e sim do real. A Biblia não revela a perfeição de um mundo edênico mas a realidade de um paraiso perdido, onde as pessoas romperam com Deus, com seu próximo e consigo mesmas, dando vazão ao pecado e a seus desejos. 
A consequencia foi catastrófica e ruim. Mas Deus decidiu apanhar os cacos desta humanidade esfacelada e recomeçar o seu projeto original através do seu Filho, Jesus Cristo. 
O que prova que Deus não desistiu do ser humano apesar dos erros que a humanidade tem cometido. Sua intenção é restaurar o ser humano por meio de dois instrumentos muito poderosos: o perdão e o amor.   
Por meio do perdão, em Jesus, Deus redime nossos pecados porque Jesus os tomou sobre si na cruz. Ele se tornou o culpado e substituiu-nos a fim de que possamos nos reaproximar de Deus com confiança e na condição de filhos.
O seu amor nos garante que sua relação conosco não é meritória mas intermediada pela Graça. Seu amor pode nos curar e nos ajudar a curar nossos relacionamentos quebrados com as pessoas.
Ressignificar o passado é incluir nele o perdão e o amor de Deus; permitir a sua intromissão no acontecido, a fim de que a restauração produzida por Jesus nos erga do desalento, da tristeza e da ausência de sentido. 

terça-feira, 12 de julho de 2011

Pare de brigar com seu passado!

Quando falamos de passado nos referimos a um tempo que ficou para trás. Embora este tempo tenha se tornado passado ele marcou a nossa historia. Por isso, o passado não é apenas um tempo, ele é uma memoria viva, porque as lembranças que ele evoca permanecem presentes.

Um aroma que sentimos pode evocar as lembranças da infância, assim também lugares e brincadeiras com nossos filhos. Não é possível apagar o passado porque ele constitui uma parte essencial da nossa historia. E quando as lembranças são boas temos que recuperar o passado para que as boas sensações alimentem nossa felicidade.

Mas nem sempre o passado é positivo. E quando ele nos marca negativamente se apresenta na forma comum dos traumas. Todo trauma tem a capacidade de ser ressentido, repetido quanto às sensações e angustias que vêm do ontem para o hoje. E traumas precisam ser saneados para que não nos impeçam de viver com esperança e alegria. O grande desafio que temos sobre o passado é o seu fardo de lembranças ruins.


Este fardo cria em nós uma atitude de confronto em relação às pessoas e à vida. È como se nós estivéssemos de prontidão, armados, para evitar que qualquer novo acontecimento ou pessoa nos faça sofrer o que sofremos no passado. Isso leva muitos de nós a nos tornarmos extremamente desconfiados com tudo o que acontece, cheios de medo e insegurança quanto ao futuro e incapazes de manter amizades mais íntimas pelo receio de abrirmos o coração e sermos traídos.

Quando a lembrança do passado é ruim ela apresenta a memoria de forma automática, não permitindo interpretações mais amplas do cenário à nossa volta, mas nos conduzindo a tão somente reagir por impulso, baseados em sentimentos e nem sempre na razão.  O que acontece neste caso  não é uma reflexão racional, adequada,  mas apenas uma reação emocional, permeada de patologias. 

Então, quando falamos do passado temos que pontuar duas verdades sobre ele: 1.ele é uma parte integrante da nossa historia; 
2.ele se tornou uma forma de memória integrada ao nosso psiquismo.
 Portanto, se não é possível apagar o passado, o que é necessário é reinterpreta-lo, resignifica-lo, retirando dele o poder de nos fazer adoecer e acabar com nossa alegria no presente e esperança no futuro.

O que precisa mudar não é o passado; o que precisa mudar é a nossa atitude sobre ele, deixando de considera-lo como um gigante invencível ou um demônio poderoso. 

Um dos exemplos desta abordagem correta encontramos na historia de José no Egito. Depois de reencontrar seus irmãos após longos anos ele recorda o seu passado familiar cheio de patologias de inveja, rancor e ódio de seus irmãos, e lhes diz:
 “Voces planejaram o mal contra mim(passado), mas Deus o tornou em bem(presente), para que hoje fosse preservada a vida de muitos(futuro)”. Gênesis 50: 20.

Estas três frases ditas por José pontuam a abordagem correta sobre o passado:

 Primeiro, ele precisa ser compartilhado e reafirmado como algo que feriu. Esconder o passado, reprimi-lo ou nega-lo só piora os sintomas de adoecimento da alma. José está repetindo em palavras o que os irmãos lhe fizeram há anos atrás. A confissão, a terapia, o aconselhamento pastoral proporcionam o necessário desabafo, alguém que escute e participe da dor, ajudando a carregar aquele fardo tão pesado e insuportável.

Segundo, o passado precisa permitir vermos a mão de Deus na história.  Ele afirma que Deus transformou o mal em bem. Sua convicção é a de que Deus não apenas participa do nosso passado, como também interage nele para filtrar os excessos de maldade que poderiam nos destruir.
È a perspectiva acerca da soberania de Deus que pode nos ajudar a suportar as difíceis lembranças do passado e enxerga-las de uma forma teológica: Deus participa da nossa historia muito tempo antes de adquirirmos a consciência: "Meus ossos não estavam escondidos de ti quando fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir".Salmos 139:15-16. 
A soberania de Deus significa sua intervenção em nosso ser antes de qualquer dia da nossa existência sobre a Terra. Davi afirma que Deus escreveu os nossos dias antes de nascermos. Isso significa que a historia que estamos vivendo não é resultante de eventos sem conexão, aleatórios, mas que tudo está devidamente amarrado a uma linha que está sendo segurada pela mão de Deus. A caneta que escreve a nossa historia não está nas mãos do destino, mas nos dedos do nosso Criador.

Terceiro,  o passado pode ser um instrumento a serviço dos objetivos de Deus. Se José não fosse para o Egito, nem se tornasse governador, a fome mundial teria atingido os israelitas e exterminado a geração dos patriarcas,  e todo o povo de Deus. Ao permitir tudo aquilo Deus estava retirando José do risco de ser morto pelos irmãos para salvar a vida deles e para preservar a historia de Israel, e assim cumprir a promessa do nascimento de Jesus, a salvaçao, o perdão dos pecadores e o anuncio do Evangelho à todo o mundo.

O que José diz sinaliza um fato inegável: nossa historia não se resume a nossas questões e preocupações: Deus está utilizando nossa vida e os acontecimentos para nos empregar como parte de seu plano para a Humanidade. O fato de que fazemos parte de uma historia maior do que nós mesmos, de que compomos o enredo de Deus neste mundo deve nos abrir os olhos para enxergarmos o nosso passado não como algo destrutivo mas construtivo – algo está em construção e o resultado será melhor do que o processo atual. 

Não brigue mais com seu passado; enxergue-o como parte da historia que Deus está ainda escrevendo, cujo final será surpreendentemente melhor e abençoado!

terça-feira, 5 de julho de 2011

Felizes os que praticam a misericórdia.

"Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia" - Mateus 5.7.


Misericórdia é o ato de demonstrar compaixão pelas pessoas que passam necessidade. O substantivo grego sempre trata da dor e desespero. O misericordioso é aquele que se envolve para aliviar a angustia que percebe na vida do seu próximo.
Jesus conta a parábola sobre o bom samaritano. Existem 4 personagens centrais: a vitima que foi assaltada; o sacerdote que passou por ela e nada fez; o levita que agiu de forma semelhante; e o samaritano que não apenas prestou os primeiros socorros mas pagou toda a despesa do tratamento.
Jesus faz questão de ressaltar que os dois homens mais religiosos da historia se recusam a aliviar a dor da vitima porque estavam ocupados com suas tarefas no templo. E o samaritano, que era considerado inimigo dos judeus, pagão e impuro é o que se envolve para socorrer o ferido. O que revela que nem sempre a religiosidade humana é de fato cristã.
Está mais preocupada com tarefas sagradas e códigos escritos do que com a vida. Naquele episodio o samaritano demonstrou que estava muito mais próximo de Deus do que os dois religiosos a caminho do templo. O verdadeiro cristianismo tem se provado ao longo da historia como a atitude de se inserir no sofrimento do mundo e colaborar para diminui-lo.
 Na Inglaterra do século XVIII, Willian Wilberforce, um protestante, foi o primeiro a empreender um movimento para a libertação mundial dos escravos em varias colônias. Os missionários daquele período carregavam consigo, além da Biblia, uma sacola de remédios e outra de sementes.
No século XIX, a maioria dos missionários que foram para a Africa combateram o trafico de escravos, a prostituição de menores e o comercio do opio. Em 1785, Robert Raikes, cansado de ver as crianças que trabalhavam  nas fabricas durante toda a semana, analfabetas e sem futuro, vagando pelas ruas no domingo, criou a primeira Escola Dominical da historia cujo objetivo era tira-las das ruas, alfabetiza-las e ensinar-lhes o Evangelho. Orfanatos, universidades, asilos, alcoolicos anônimos são todos de origem cristã-protestante.
A grande preocupação da Igreja sempre foi melhorar as condições do mundo e diminuir o sofrimento das pessoas. Não havia a noção de Igreja como uma instituição destinada ao lazer, entretenimento e satisfação pessoal dos crentes. A historia do bom samaritano é na verdade uma denuncia: de que os cristãos se omitiram da sua verdadeira missão, enquanto Deus é forçado a contar com outros que nem estão dentro do circulo cristão para promover o seu Reino e a sua Justiça sobre a terra. Jesus afirma que se quisermos provar a felicidade temos que praticar a misericórdia com o próximo. E socorrer onde quer que seja  necessário.
A pratica da misericórdia segue alguns parâmetros: Primeiro, entender que o que Deus deseja não são rituais mas sim demonstração do Evangelho. Na historia, o sacerdote e o levita deixam o ferido na estrada e partem para cultuar Deus no templo.Não perceberam que, o Deus que eles iriam adorar no templo, naquele momento, estava na estrada com o homem ferido. O verdadeiro Evangelho não se constitui em declarações doutrinárias mas em ações de misericórdia. Jesus não discursou sobre amor, Ele desceu e se encarnou neste mundo para socorrer, aliviar e salvar pessoas.
Segundo,  amar o próximo significa, primeiro, romper a distancia e chegar mais perto. Jesus conta a parábola por causa de uma pergunta que lhe fazem: “Quem é o meu próximo?”(Lucas 10.29).  A resposta de Jesus é simples: o próximo é aquele de quem eu me aproximo. Proximo tem a ver com proximidade. A questão não é quem está perto de mim, mas de quem eu estou perto na hora da necessidade. De quem eu sou o próximo.
O samaritano precisou vencer vários preconceitos para demonstrar misericórdia: preconceito racial     ( o ferido era judeu); preconceito estético(o ferido estava ensanguentado e sujo); preconceito moral              ( não seria o homem um bandido de quem teriam se vingado?) ; preconceito social ( ele pertencia a aristocracia- tinha dinheiro – e o outro era um pobre de quem tinham roubado tudo). A não ser que vençamos nossos preconceitos dificilmente iremos praticar misericórdia com os necessitados.
Jesus é o supremo exemplo de superação dos preconceitos: tocou leprosos, cadáveres, curou cegos, libertou endemoninhados, conviveu com gente desonesta, prostitutas e foi cruficicado entre dois ladrões. Mas todo viram Deus em sua vida. Não está na hora de acabar com nossas desculpas para não praticarmos misericórdia?
Terceiro, praticar misericórdia exige usarmos nossos próprios recursos a favor dos que sofrem. O samaritano coloca o homem ensanguentado em cima de seu cavalo e o leva até a hospedaria. Chegando lá paga com seu dinheiro tudo o quanto for necessário para a recuperação do homem que ele nem conhece. A noção do ‘proximo’ foi completamente destruída pelo capitalismo. Porque ele é visto como opositor, concorrente e inimigo.
O que temos só é nosso e de mais ninguém, muito menos de estranhos. Mas essa guinada cultural só aconteceu após a Revolução Industrial, porque antes a humanidade ainda tinha assentados os valores da solidariedade, da justiça social e da misericórdia. È preciso extinguir essa falsa idéia ‘cristã’ que Deus está interessado em nos abençoar e nos tornar em ‘cabeça e não cauda’. Nos deixar sempre por cima e não por baixo. Porque isso gera justamente a injustiça que Deus abomina.
Igrejas que pregam a prosperidade do crente e a sua felicidade econômica não estão apenas equivocadas; estão na contramão do cristianismo, opondo-se a Deus, por tornarem seus fiéis um bando de egoístas, mesquinhos e desumanos que não se importam com a dor do próximo e nada fazem para alivia-la. Tudo que nós temos não é nosso – é de Deus.
Ele apenas nos emprestou para que sirvamos a Ele, no ato de servir as pessoas. Seja dinheiro, casa, carro, bens, roupas, tempo e formação. Quem usa tudo apenas para si mesmo é infeliz e insatisfeito – está sempre exigindo mais. Quem usa o que tem para os outros faz muitos amigos e descobre a mais nobre verdade do cristianismo: “Há maior felicidade em dar do que em receber”. Atos 20.35. 
Comece a exercer misericórdia com quem precisa e que está bem perto de você. Não feche os olhos, fingindo não ver. Não culpe o Governo e as Instituições pelas necessidades que você mesmo pode suprir. Abra seu coração e deixe o amor de Deus em Cristo estravazar por suas mãos, atitudes e palavras.