quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Com a língua de fora.




Na minha mesa de estudos eu tenho vários livros que utilizo para produção de meus textos. Percebo agora duas Bíblias, ambas com ‘línguas de fora’, aquelas fitas usadas como marca-textos. 

As duas fitas estão penduradas para fora como que me chamando para abrir e ver o que estão marcando. Que texto, que mensagem, que palavra, que possível reflexão. Mas eu não vou abri-las. 

Prefiro o mistério de não saber o que estão marcando, já que, diferente da Bíblia que uso todos os dias, estas são bíblias de consulta. Usadas esporadicamente apenas para comparar versões e linguagens. 

Não pude escapar da metáfora. Línguas de fora diante do peso das palavras que estão dentro. De fato, a Palavra de Deus é pesada não porque seja difícil, mas em razão de ser o mistério revelado. Ela é mais do que podemos conhecer, digerir, entender, viver. Sob o peso desta Palavra diariamente eu sou envergado, curvado, submetido á sua autoridade na condição de convertido ao Deus que a expressou e mandou escrever. 

Dela dependem meus dias, minhas escolhas, meu futuro. Mas a metáfora que eu me refiro é sobre outro tipo de palavra. A palavra nossa de cada dia. O que nós falamos e escutamos de outros. 

Eu acredito que você também concorda que no final do dia todos ficamos com a ‘língua de fora’ de tanta informação coletada, de tanto ouvir e não poder falar, de tanto escutar sem ter uma resposta razoável  e de tanto sermos cobrados sem podermos dar mais. 

Exauridos na mente corremos para o nosso ‘happy-hour’ e ali, na companhia dos amigos, desovamos um pouco deste peso falando de amenidades, coisas simples, risos, levezas. 

A palavra é nossa forma de comunicação com o mundo mas de tão poderosa que é, pode construir ou destruir. 

Pode ser instrumento de saúde ou fonte de enfermidades. Rocha que esmaga ou algodão com remédio.

Não resisti. Não cumpri o meu acordo comigo mesmo. Abri uma das Bíblias marcadas com a ‘língua de fora’. E o que li, de imediato, foi isso: ‘Refrigera-me a alma’. Curioso. 

A mesma Palavra de Deus que pensamos ser tão pesada foi escrita para refrigerar-nos. Para aliviar. Para remover peso dos ombros. Eu amo a Palavra de Deus por causa disso. 

Porque o que Ele fala é sempre assim: refrigério. E eu convido  você a fazer de suas palavras e de suas interações a mesma coisa.
Caleb Mattos.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Não acredito em receita de felicidade.






‘Jamais aprenderíamos a ser corajosos e pacientes se no mundo houvesse apenas felicidade’. Helen Keller.
Cada vez mais me inspiram as palavras, especialmente aquelas que são fruto de vivências concretas que dão embasamento sólido e confiável ao que se escreve. Esta frase que você leu acima é de Helen Keller. 

Helen Adams Keller foi uma escritora, conferencista e ativista social americana. Foi a primeira pessoa surda e cega a conquistar um bacharelado. A história sobre como sua professora, Anne Sullivan, conseguiu romper o isolamento imposto pela quase total falta de comunicação, permitindo à menina florescer enquanto aprendia a se comunicar, tornou-se amplamente conhecida através do filme ‘O Milagre de Anne Sullivan (1962), dirigido por Arthur Penn. 

Seu aniversário em 27 de junho é comemorado como o Helen Keller Day no estado da Pensilvânia e foi autorizado em nível federal por meio da proclamação presidencial de Jimmy Carter em 1980, no centenário de seu nascimento. 

Tornou-se uma célebre e prolífica escritora, filósofa e conferencista, uma personagem famosa pelo extenso trabalho que desenvolveu em favor das pessoas com deficiência. Keller viajou muito e expressava de forma contundente suas convicções.  

Helen fala de duas palavras: coragem e paciência, estas mesmas duas de que ela precisou para superar suas deficiências. Mas, ela frisa, só lhes foram possíveis porque no mundo não há só felicidade.
 Eu penso que estamos sendo engolidos por uma onda de idéias sobre a felicidade que carecem de constatação e lastro. 

Nunca se escreveu tanto sobre o tema mas com uma abordagem quase infantil que tem levado homens e mulheres a um estilo de vida irresponsável em lidar com suas próprias historias.
 
 Eles estão constantemente transferindo seus conteúdos a outros que possam lhes ser salvadores de lagrimas, de dores, e de fracassos. Não elaboram estas coisas em si, não querem passar pela perda. 

Preferem repetir mantras de celebridades do mundo do coaching e frases já desgastadas de pregadores como uma forma de ‘fingir’(fugir) que se eu disser que ‘tudo está ok, então tudo ficará ok’.
Nosso tempo desvaloriza o choro porque endeusou a risada, mesmo sem motivo. 

Veja a explosão dos ‘stand-ups’ e você vai entender o que estou dizendo. Como Marx dizia no passado ser ‘a religião o ópio do povo’, hoje nem é necessário toma-la como única via para o escapismo. Estou vendo com muita frequência ‘opiados e opiadas’ em meus momentos de aconselhamento, de abordagem pastoral e de vivencias de observação. 
 
Por não podermos ter um mundo sem dor criamos uma porta para Narnia, e lá ficamos por um tempinho até estanquemos a lagrima que teima em cair. Mas na historia só os que entenderam que felicidade é algo feito de alguns momentos neste mundo e por isso mesmo tiveram que ir á luta para crescer, de fato inspiram hoje como seres que foram forjados na escola da dor.

Porque deficiências só são vencidas com muito trabalho. E a felicidade, neste caso, só vem depois deste agir-sobre-a-dor, nunca sobre o fugir dela. Eu pessoalmente tenho escutado muitos mais a filósofos hoje do que a pregadores e celebridades do mundo literário.

 Porque os filósofos de verdade me preparam para a realidade nua e crua. E é com ela que eu tenho que lidar, para, a partir disso, suportá-la com paciência, ou no caso de um milagre, ter a coragem de  crer que tudo será diferente.
Caleb Mattos.