quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Pernalonga.



Eu o tenho sobre a minha mesa de trabalho.
Um dos muitos brinquedos que meu filho ganhou na renomada rede de Fast Food e com os quais já não brinca.
Por isso eu decidi mante-lo perto de mim enquanto trabalho.
Ele fala. A antiga e classica frase: 'O que é que há, velhinho?'
O personagem que encantou a infância de gerações como a minha e que tinha todo aquele jeitão descontraido e leve de conduzir a vida sempre com uma cenoura na mão.
Muitos se irritavam com ele justamente por causa da pergunta que ele fazia.
E eu decidi mante-lo perto exatamente em função deste bordão.
Meus dias nem sempre são tranquilos e marcados pela calmaria.
Há oscilações de humor e sentimentos, modificados por vezes na arremetida das circunstancias,
Me pego levando a sério demais a minha ansiedade, medos, projetos e prazos.
Nessas horas a brincadeira se esconde por trás da pilha de compromissos e agendas e o carrancudo homem aparece de novo com extrema gravidade no ser, falar e relações.
Nessas horas eu levanto o bracinho do pernalonga e ele me repete:
-'O que é há, velhinho?'
E eu me divirto de novo porque o velhinho sou eu, com mais anos do que tenho quando envelhecido pelas rugas de preocupação, pensamento reticente, acreditando que posso mesmo dar jeito na vida e encontrar resposta para tudo. Um velho antecipado que ainda crê na suposta capacidade de entender o mistério e que tem a obrigação de ser referencia para todos e para tudo.
O Pernalonga na mesa tem me ensinado a olhar para mim com simplicidade. Com a saudavel atitude de ter a cenoura na mão e ir andando pelo caminho para alertar aos velhinhos de sempre que eles estão errados quando se deixam abater, quando se levam por demais a sério, e quando perdem a capacidade de rir da vida, de si mesmo, de tudo.
Obrigado Pernalonga, por me recordar mais uma vez que com cenoura na mão e bom humor tudo um dia se encaixa, se resolve, independente de mim.
Graças a Deus.