quarta-feira, 20 de junho de 2012

'NUNCA MAIS, PASTOR'!

                            Eles cantavam: "ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na videira, o meu coração se alegra em ti, Jesus". Eram uns 45 internos da Casa de Recuperação onde presto assistência semanalmente. Rostos sofridos pela dependência química, olhos fechados ao cantar a canção da esperança. Ninguém ali tem certezas, apenas esperanças. 

                         Dias que se arrastam no processo de libertação, alguns retrocedem e deixam a casa, voltando para a antiga realidade. Alguns novos chegam diariamente. Nesse entra e sai vejo rostos novos e antigos. Sinto falta de alguns que já estavam quase no fim do tratamento mas abandonaram. O cântico que eles cantavam recorda o desafio de permanecer firme até o fim; conseguir ficar limpo e iniciar uma nova vida. Não é fácil mas todos sabem disso. Por isso cantam e ouvem a mensagem do Evangelho.

                            Existe uma grande expectativa de receber algo de Deus que possa dar aquele estalo, fazer cair a ficha, promover um insight, sentir o sopro do vento do alto que transforma o coração. Depois da mensagem oramos e nos abraçamos. Existe sempre uma frase repetida: 'força aí'. Equivale a dizer : 'vamos juntos mais um dia em busca da tão sonhada liberdade.

                           Vou embora daquele lugar em oração. Espero mesmo que Deus produza algo de sua parte sobre aquele conjunto de destroços que somos todos nós. Só mesmo um milagre para fazer um dependente romper com aquilo que o seduz e o arrasta. Mas vale a pena. Um dia desses reencontrei com um dos internos. Havia terminado seu tempo e saído. Ele me reconheceu, eu não me lembrava dele. Estava diferente. Alegre em te-lo encontrado perguntei se estava limpo. Ele me respondeu: "Graças a Deus, nunca mais pastor". Ganhava seus trocados olhando os carros. Mas feliz por estar em liberdade. 

                          Mesmo que muitos saiam de lá ainda presos,  antes do tempo da internação, encontrar um deles na rua, apegado a Deus e sem mais a neurose da droga é o que me faz perseverar toda semana. È o que me faz repetir junto, com eles, 'ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na videira, o meu coração se alegra em ti, Jesus".

quarta-feira, 6 de junho de 2012

PARA AMADURECER, É NECESSÁRIO SAIR.

            
             Jesus conta a historia de dois filhos: um mais novo e outro mais velho. 
          O mais novo resolveu sair de casa e ter suas experiencias e aventuras. Ele o faz ainda adolescente, deixando para trás um pai que aguarda sua volta e um irmão ressentido.


          Anos depois, com seu regresso, já consciente de que suas escolhas o levaram a lugar algum, arrependido, pede perdão ao pai e se reconcilia com ele. Na casa existe agora um clima de festa e celebração pelo simples fato de que ele voltou. Saiu imaturo mas voltou responsável. Saiu garoto mas voltou homem. O pai não cabe em si de felicidade e lhe dedica o melhor que tem.


          O irmão mais velho reclama que nunca ganhou nada,  que sempre cumpriu todas as regras, que sempre fez o seu dever. O pai lhe diz que ele nunca teve  porque nunca pediu. Que deveria participar da festa, que era tempo de rever sua rigidez e perdoar o irmão. Ele, porém, envelhece com a mesma atitude de rancor, de amargura. Maltrata o pai e odeia o irmão. 


         A diferença entre um e outro é que o mais novo saiu de casa. E ao sair pode olhar de forma mais ampla todas as coisas e valorizar aquilo que era permanente. Ele regressa porque soube, pela experiencia própria e escolha subjetiva, que o que desprezou no inicio era a unica coisa permanente na vida: o amor e o perdão do pai. E amadurece porque nem sempre o convívio próximo com aquilo que é o melhor nos faz enxergar o seu valor.


          O mais velho nunca saiu. Ele se acostumou com o bom. E o bom passou a ser desprezível. Reclama dos erros do outro mas não tem consciência de seus erros. È com se  nunca tivesse errado. E quem nunca erra tem uma visão de mundo utópica - o mundo é o lugar mais parecido comigo mesmo. O mundo sou eu.


          Ele permanece o resto da vida imaturo. Não saiu, não experimentou ser responsável pelas próprias decisões e escolhas. Viveu á sombra do pai se escondendo de si mesmo e não conhecendo o próprio coração. 


          Quem nunca sai da sua área de conforto fica na janela espiando a vida dos outros: comenta, julga, discrimina, rejeita. É um triste resultado do medo.


          Deus acolhe aqueles que saem e que voltam. Deus cura os que erram e admitem. Mas ele sempre diz para os que se recusam a amadurecer: 'por que você nunca tentou?'