terça-feira, 16 de abril de 2013

O SINO DA MATRIZ E O APITO DA FEPASA.

          



      Cresci ouvindo dois sons distintos, que me eram percebidos em dois momentos diferentes.

        Um era o sino da Igreja Matriz da minha cidade, que de hora em hora, fazia-se badalar, lembrando às pessoas que, em meio à correria diária, era preciso lembrar-se da presença de Deus em seus afazeres. O sino lembrava devoção, esperança, expectativas melhores para os problemas, e, sobretudo, a certeza de que a semana cheia de ocupações e adrenalina daria espaço ao Domingo, o momento de parar tudo e encher a alma com a Palavra de Deus e as orações.

         O outro som que eu ouvia era o apito da antiga companhia de trens, a Fepasa. De manhã, por volta das 06h00 ou 07h00, na hora do almoço, ás 11h15 e no fim da tarde, ás 17h30. Não tenho certeza da exatidão dos minutos, mas o certo é que este apito lembrava o outro lado da vida: a produção, a atividade remunerada, compromissos financeiros, exigências  suor, dedicação ao trabalho.

        O apito nos chamava à responsabilidade de lidar com a nossa vida e seus desdobramentos, ele marcava o ritmo, o compasso das famílias.  Entre os apitos, a vida se desenvolvia, do levantar ao momento da refeição e desta a mais um período de exigências até o seu término, com o recolhimento das famílias ao reduto da segurança do lar.

       Vivi um bom tempo fora da cidade. Compromissos, preparação da carreira, casamento e tantas outras responsabilidades próprias da vida adulta. 

      Voltei para a minha cidade onde exerço minhas atividades há mais de 23 anos.
       Nunca mais eu ouvi os sons da minha infância...

         A cidade anda tão cheia de novos sons que provavelmente encobrem os sinos da Igreja.
       A Fepasa não existe mais. Seu apito calou para sempre.

        Mas, dentro de mim os dois sons, por tão longo tempo repetidos, formataram meu modo de vida. Hoje eu acordo cedo para o trabalho porque aquele apito ainda está no inconsciente  me chamando para produzir, empreender, dedicar-me àquilo para o que fui chamado. E o faço com prazer, dedicação e profundo senso de satisfação.

         Mas o outro som, confesso, para mim é o mais dominante.
O sino da Igreja é o chamado da voz de Deus para que eu esteja convergindo em todo o tempo para  Ele. È o momento em que pela oração e pela Escritura eu acho meu equilíbrio entre ação e devoção.

       O som do sino não é mais necessário hoje para mim.
      Porque o contato com Deus acontece em todos os momentos, em qualquer lugar, em qualquer situação.

        O tempo da nossa Era Contemporânea não é mais medido pelo som da Igreja e pelo som da Fabrica. Talvez seja por esta razão que há tão pouca responsabilidade com os compromissos, os laços familiares, a fidelidade aos amigos e o cultivo de relacionamentos.

       Talvez seja por isso que existe tão pouca devoção a Deus, hoje trocada pela Deusa Felicidade.

      Hoje somos nós que temos que tocar o apito para nossos filhos, para lembra-los de que a vida madura é permeada dos compromissos e deveres.

        Hoje somos nós que temos que tocar o sino para nossos filhos, para recorda-los de que é fundamental amar a Deus e dedicar-lhe a vida.

      Vamos tocar o sino? Vamos soar o apito?