terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Idéias furtadas não geram fruto.

                 


                 Quando Sansão teve denunciado o segredo da sua força aos inimigos filisteus pela mulher a quem amava, ele disse aos seus opositores: "Se vocês não tivessem arado com a minha novilha, não teriam solucionado meu enigma" ( Juízes 14.18 ). O furto de segredos, de intimidades e de idéias não é novo. E graças ao advento da Internet  nunca se tornou tão fácil extrair o que é do outro e afirmar que fomos nós que tivemos a iniciativa, a proposta, o pensamento e o discurso.

               Peço licença para transcrever, isso mesmo, transcrever um trecho do livro 'Sermões Escolhidos' do Padre Antonio Vieira, profundamente esclarecedor quanto a este ponto. Ele diz que o pregador que prega o que copiou de outros não produzirá frutos, na análise do seu famoso Sermão da Sexagésima, pregado no ano de 1655. O texto é dele, deixo bem claro. Mas desejo esclarecer que, se desejamos em qualquer campo de atividade ter algum progresso, é fundamental cultivar idéias próprias,  pensamentos que tenham nossa assinatura, e criação que seja, de fato, autêntica. 
                Vamos ao texto que dispensa comentários:

              "Muitos pregadores há que vivem do que não colheram e semeiam o que não trabalharam. Depois da sentença de Adão, a terra não costuma dar fruto, senão a quem come o seu pão com o suor do seu rosto. O pregador há de pregar o seu e não o alheio. Porque o alheio e o furtado não é bom para semear. Alguém dirá que o alheio nasceu em casa, mas esteja certo, se não nasceu em casa não há de deitar raízes, e o que não tem raízes, não pode dar frutos. Eis porque muitos pregadores não fazem fruto; porque pregam o alheio e não o seu. O pregar é entrar em batalha com os vícios ; e armas alheias, ainda que sejam as de Aquiles, a ninguém deram vitória. 

                Quando Davi saiu a campo com o gigante, ofereceu-lhe Saul as suas armas, mas ele não as quis aceitar. As armas de Saul só servem a Saul, e as de Davi a Davi, e mais aproveita um cajado e uma funda própria  que a espada e a lança alheia. Pregador que peleja com as armas alheias, não hajais medo que derrube gigante.

              Fez Cristo aos apóstolos pescadores de homens. E que faziam eles? Diz o texto que 'refaziam suas redes'. Não diz que eram suas porque as compraram, senão que eram suas porque as faziam, porque lhes custavam seu trabalho. Com redes alheias, podem-se pescar peixes, homens não se podem pescar. A rede tem chumbada que vai ao fundo, e tem cortiça que nada em cima da água. A pregação tem umas coisas de mais peso e de mais fundo e tem outras mais leves, e, governar o leve e o pesado, só o sabe fazer quem faz a própria rede. Na boca de quem não faz a pregação, até o chumbo é cortiça. As razões não hão de ser enxertadas, hão de ser nascidas. O pregar não é recitar".

            Tenhamos mais coragem de pensar com a nossa própria cabeça, e de criar com os recursos que Deus nos capacitou. Para que assim os frutos que venhamos a provar sejam, de fato, nascidos em nosso próprio pomar.

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