quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Quando o dilúvio chegar.



Você deve conhecer a história do diluvio. Através dele Deus destruiu tudo o que havia feito por causa da maldade humana que já chegara a um ponto insuportável. Tudo estaria condenado, até os animais e o ser humano não fosse por causa de um único homem na terra para quem Deus olhou o coração e gostou do que viu ali dentro: Noé.

O relato bíblico comenta: “Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor. Era homem justo e íntegro em sua geração e andava com Deus”. Por causa deste único homem, Deus ordena a construção da arca e que nela se coloque um animal de cada espécie. Assim, os seres são preservados e, por meio de Noé, e seus filhos, uma nova geração povoa a nova terra.

Narrativa semelhante nós encontramos na mitologia grega que narra a passagem da Era de Ouro para a Era da Prata, desta do Bronze e deste para a Era do Ferro, quando os homens constroem armas e se matam uns aos outros. Os deuses do Olimpo, em assembleia, decidem fazer naufragar nas águas todos os seres, com exceção de Deucalião e sua esposa Pirra que são devotos dos deuses.

Num mundo em que as eras de ouro são sucedidas pelas eras do menos nobre, de desconstrução acelerada de tudo que é virtuoso, de uma liquidez no linguajar de Bauman, é necessário que sejamos a verdadeira resistência à decomposição e caos. Deus precisa novamente encontrar em homens e mulheres do século 21 a mesma graça que ele encontrou em Noé, que, apesar de viver numa sociedade corrupta, mantinha sua integridade e devoção.

O Brasil está mudando no sentido de querer de volta aqueles valores que nossos avós e pais tanto ensinavam e lutavam para fazer perpetuar. Há que se lutar hoje contra o domínio do vulgar, do ilícito, da cultura da mediocridade. Vale a pena insistir em ser melhor, em buscar a excelência na vida. Principalmente em ser alguém que sirva de inspiração para quem vem na sequência da História, em nossos passos.

A lama suja é a herança mais imediata para aqueles que não fazem questão de esforço, de se diferenciarem, de investirem na alma muito além do ouro. Quanta coisa ruim a gente pode evitar para nós e para quem está do nosso lado se tão somente nos desviarmos daquilo que pode causar um diluvio. 

Não deixe que a influencia do pior relegue você ao lado de fora da arca. Ame as coisas que Deus gosta e entre na arca pelas portas. Ali é lugar de segurança, salvação e recomeço. A questão não é que País deixaremos para nossos netos. A questão é que modelo de ser humano eles terão para seguir.
Caleb Mattos.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Graça e Paz.



‘Que vocês tenham cada vez mais graça e paz à medida que crescem no conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor’. 2 Pedro 1:2.

Graça e Paz são duas palavras que iniciam cada carta do Novo Testamento.

Em Paulo e demais elas são um tipo de saudação aos fiéis que perseveram em sua fé cristã. Acabaram ambas se tornando meio de cumprimento dos cristãos de diferentes tradições até os dias de hoje. Quem não ouve essas duas palavras quando se encontra com alguém que também crê em Cristo?

Mas eu notei que Pedro é o único que menciona as duas palavras não como mera saudação ou desejo de que tenhamos paz e alegria (‘graça’ vem do grego ‘charis’, alegria). Para ele elas estão de certa forma condicionadas. Elas dependem de um crescimento nosso na direção de conhecermos mais a Jesus.

Porque na ótica do Mestre as coisas de Deus são acrescentadas em nossa vida mediante uma ligação essencial, mediante um relacionamento. É preciso seguir a Cristo para que tudo o que ele tem a oferecer possa ser assimilado por nós, inclusive a paz e a alegria.

Ninguém desfrutou de um coração tão pacifico e de uma mente tão alegre como Jesus. Parece que nada o perturbava no quesito provocação. Ele se indignava, é verdade, mas apenas quando via uma injustiça feita contra outros e nunca contra ele mesmo. A mente de Jesus não permitia mergulhar na melancolia, na autopiedade, na irritação.

Ele era uma pessoa feliz, basta notar que apelidou alguns de seus discípulos, que punha crianças no colo, que ia em festas de casamento, que bebia vinho, que se deixava elogiar como quando Maria beijou seus pés com perfume caro. Não é possível encontrar neuroses em Jesus, de nenhum tipo.

Sendo o Filho de Deus ele não era o religioso típico, moralista e cheio de estereótipos. Ficou conhecido como amigo de pecadores, comilão e bebedor de vinho. Mas sua paz e sua alegria arrastavam as pessoas atrás dele. Porque no fundo é isso que todo mundo precisa para viver.

Eu acho até lúdico ver cristãos hoje tentando ensinar as pessoas a resolverem seus dilemas de tristeza existencial ensinando-as a irem a um workshop e darem ali gritinhos de ‘eu posso’, ‘eu consigo’, ‘eu faço acontecer’, coisa das mais comuns e vistas como a solução mais indicada para quem é infeliz e sem paz.

Para mim o caminho é mais simples: basta aprender com Jesus e de Jesus. Quanto mais a gente o conhece e desfruta dele mais em paz e em alegria a gente vive. O caminho para a salvação é Cristo. O caminho para a alegria e a paz, também. Graça e Paz para você hoje.

Caleb Mattos.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Porque eu me tornei otimista.



‘A fé, sempre que se desenvolve em esperança, não traz quietude, mas inquietude; não traz paciência, mas impaciência. Ela não acalma o coração inquieto, ela é esse coração inquieto’.
(Jürgen Moltmann)

O contraditório é parte da experiencia cristã legitima. Vivemos entre dois mundos e somos cidadãos de duas pátrias. Somos pecadores e salvos ao mesmo tempo. Esperamos muitas vezes contra a esperança. Somos loucos e sábios. Doentes e curados. Perdidos e achados. Nada temos e possuímos um reino. Estamos cheios e ao mesmo tempo vazios.

O que não pode faltar à nossa fé se chama esperança. Ambas andam de mãos dadas no trajeto, do começo ao fim da jornada. Sem fé é impossível agradar a Deus e sem esperança é impossível viver neste mundo corrompido. Mas a esperança que recebemos e que precisamos cultivar não é um sentimento que nos deixa passivos, deitados ‘eternamente em berço esplendido’.

Esta esperança é responsável por incontáveis alterações benéficas no histórico das sociedades em todo o mundo. Vemos um faminto e não aguardamos que uma ação governamental crie uma lei para fornecer dignidade ao mesmo. Socorremos de pronto o que tem fome.

 Assistimos uma discussão familiar e não tiramos uma selfie disso, nem procuramos o tribunal das pequenas causas. Intervimos em amor e nos oferecemos para orar e conversar. Não temos resposta para tudo mas cremos numa intervenção de Deus sobre todas as coisas que hoje tornam a vida sofrida e distante do que deveria ser.

Por essa causa somos otimistas em meio ao caos e desordem, mas não com um otimismo baseado na crença no ser humano. Nosso otimismo se baseia na palavra do Deus que anunciamos, que fez Cristo sair do tumulo vivo, que venceu a cruz pela ressurreição.

Acreditamos na sua promessa de que, onde quer que estejamos reunidos em seu nome, ele estará ali conosco. Acreditamos que tudo que fizermos em seu nome, ele fará juntamente conosco. 

Mesmo em contradições cremos e temos esperança. Nosso coração é inquieto, mas não por perturbação nossa e sim pela vontade de criar um mundo melhor a partir de agora.
Caleb Mattos.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

A capela.



Martim de Tours nasceu por volta de 335 na região onde hoje fica a Hungria. Seu pai era um soldado pagão e por esse motivo Martin esteve em várias partes do Império Romano neste período. 

Contra a vontade do pai decidiu ser cristão aos 10 anos e por isso se inscreveu como candidato ao batismo. Indignado, o pai o envia ao exercito e ele se torna um oficial de destaque.

 Certa vez, quando entrava na cidade de Amiens, um mendigo seminu, com frio, se aproximou e pediu uma esmola. Não tendo dinheiro, o soldado pegou sua própria capa, rasgou-a em duas partes e deu uma parte ao pedinte. Nesta noite ele sonhou que Jesus lhe dizia: ‘Tudo que fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizeste’. 

Nas pinturas que representam o agora santo do catolicismo se vê esta cena da capa. Deste mesmo episodio surgiu nossa expressão ‘capela’, uma parte da capa, ou, uma pequena capa. Capelas e capelães derivam seu nome desta cena histórica.

 Se a capela é uma parte que o glorioso dá ao miserável, então, somos nós capelas diante daquele que é a Capa do Universo. Diariamente ele divide conosco seus recursos, sua atenção e bondade para nos cobrir todas as vezes em que nossa nudez incomoda e causa frio, insensibilidade. João, no seu livro, irá usar na expressão ‘O Verbo se fez carne’ a palavra que é traduzida como ‘tenda’. O Deus encarnado em Cristo tabernaculou, montou sua tenda entre nós. 

E como essa tenda, sendo dele, é partilhada, hoje temos a garantia do refúgio, da companhia, da sombra em tempos de abrasamento. O mandato para repartir o que somos procede deste primeiro gesto daquele que viu e agiu. Ele vê e age hoje por meio da sua disposição em ver e partilhar. 

Quanto mais de Deus teremos no mundo se individualmente distribuirmos capelas e tabernáculos aos nossos amigos, á nossa família, aos que estão próximos de nós. É mais fácil amar o desconhecido, mesmo porque ele não incomoda. 

Mas o compromisso de ser capa e tenda começa primeiro com os domésticos. Cuide dos seus para que sua vida seja uma capela onde Deus seja visto e ofereça refrigério, um pequeno céu para quem nem tem ideia do que seja isso.
Caleb Mattos.