quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Pixinguinha, uma vida e um talento desperdiçados pela Igreja.

           

          A noticia me encheu de um misto de alegria e lamento.

         Alegria quando fiquei sabendo, através de um Blog de autoria de Atilano Muradas, que Pixinguinha era casado com uma senhora membro da Igreja Presbiteriana de Ramos. No artigo, Atilano diz que, lá pelos anos de 1954 a 1956 o mestre da musica sempre ia aos cultos com Dona Albertina Vianna, sua esposa.

        Chegava meio tímido e sentava nos fundos. 

        O pastor nunca lhe deu atenção. Fruto de uma época conservadora, condenava de púlpito o contato com gente que cantava com violão, pandeiro e cuíca. Pixinguinha devia ouvir tudo isso mas permanecia quieto, na sua. 

          Quando, em 1957, o referido pastor foi estudar fora, nos Estados Unidos, teve a possibilidade de compreender um pouco mais amplamente a mensagem do Evangelho de Cristo. Lembrou-se da missão de Jesus dirigida justamente aos que são do mundo, era amigo deles, comia em suas casas e os apresentava a Deus como aquele que tem interesse em amar e socorrer, aceitar e ao mesmo tempo transformar.

              Quando o pastor regressa, em 1959, sente vontade de conversar com Pixinguinha, mas ele já tinha partido para a fama e gloria da musica popular brasileira. Mesmo assim, nos anos em que frequentou a Igreja Presbiteriana, o musico fez amizade com um diácono da mesma igreja e deixou com ele, quem diria, uma musica dedicada à mesma Igreja que frequentou.

          Era uma musica sacra, a única que ele compôs, que era baseada no Salmo 28:6-7: "Bendito seja o Senhor, que ouviu a minha súplica. O Senhor é a minha força e o meu escudo, nele o meu coração confia". Esta composição, infelizmente, se perdeu. Um jovem da Igreja levou-a para tocar e nunca mais a devolveu. Não sabemos como era a melodia, os detalhes da composição, a unica que Pixinguinha fez como uma provável experiencia de fé pessoal em Cristo. 

            O autor de "Carinhoso" marcou a história do Brasil e do mundo com suas composições inesquecíveis e com seu estilo próprio de tocar. Todos o reconhecem como um patrimônio brasileiro e mundial da musica.

          A parte que eu lamento é que Pixinguinha foi julgado indigno da fé, apenas pelo fato de frequentar bares, tocar musica 'profana' e ser amigo de outros pecadores. Como seria o fim desta historia se o pastor tivesse uma percepção um pouco menos 'evangélica' e um pouco mais bíblica sobre as pessoas que aparecem numa igreja? 

       Que influencia Pixinguinha teria entre os músicos de sua época e entre as pessoas do ramo artístico se a Igreja que ele frequentou fosse acolhedora e gostasse de ser amiga das pessoas que estão em busca de Deus mas que precisam de uma comunidade mais aberta, menos seletiva e principalmente disposta a ser a expressão genuína do Evangelho de Cristo? 

        Eu também sou pastor, e presbiteriano. 

       Essa história, para mim, serve de alerta. 

        Para que eu entenda e pratique a missão de Jesus, fazendo da Igreja que pastoreio um convívio franqueado principalmente para as pessoas a quem, via de regra, a igreja insiste em preferir que permaneçam do lado de fora.

        Porque eu não quero que um outro futuro Pixinguinha tenha que sair da igreja que cuido, triste talvez, mas mais crente do que muitos, a ponto de escrever um hino e deixa-lo como homenagem ao grupo que frequentou mas que nunca o acolheu. 

          Quero  receber bem , amar e ser amigo destas pessoas que tocam pandeiro, frequentam bares, fumam e bebem, mas que, no fundo do coração, vão a uma Igreja porque estão, sinceramente, em busca de Deus.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

De Constantino à Edir Macedo: o novo rosto da Igreja Brasileira.

                      

         Até por volta do ano 300 DC o cristianismo permanecia restrito aos valores ensinados por Jesus, que chamou pessoas para segui-lo com a especifica missão de torna-lo conhecido no mundo e comunicar a todas as pessoas a possibilidade de se conectarem com Deus, aprenderem a sair do labirinto do pecado, amarem a Deus e ao próximo  e fazerem de suas vidas um meio de evidenciar o Evangelho, que aponta para Cristo, honra a Cristo, prega a Cristo, e faz as pessoas ficarem frente a frente com ele e sua Palavra. 

                  Tudo ia bem até a 'conversão' de Constantino. Lutando pela unificação da parte oriental e ocidental do Império Romano, ele tem uma suposta 'visão' onde a cruz no céu garante que será vitorioso contra seu oponente. A vitória acontece, e o adorador do Sol Invicto ordena que todos os seus soldados se tornem cristãos via batismo, querendo ou não, compreendendo ou não a mensagem real do Evangelho. 

                Ato contínuo, ele suspende a perseguição contra a Igreja, movida por seus antecessores e oficializa a fé cristã como representante do Império  Daí para a frente, o conceito da Igreja Cristã ficou para sempre associada com a experiencia de vitoria militar de Constantino: ela existe para trazer conquista, superação e conseguir, de Deus, a garantia de que todos os nossos fracassos de ontem serão triunfo hoje apenas pelo fato de crer em Cristo.

           Não tenho nada contra a pessoa de Edir Macedo, embora não compactue com seu jeito de entender a fé Cristã. Eu o menciono neste artigo apenas como um dos muitos que lideram a  faceta evangélica brasileira. Ele é somente o precursor, muitos aprenderam com ele a fazer da igreja um caminho de triunfo pessoal. Para mim, que pertenço a um movimento reformado, tem sido cada vez mais difícil explicar às pessoas que Igreja não existe como substituta do trabalho responsável, nem como mediadora da benção divina. 

               Vez por outra aqueles que me ouvem chegam com sua influencia macediana, com a expectativa de que nosso grupo seja continuidade deste modelo, que para mim, é a pior deturpação histórica do cristianismo. Mas não é novo, nem recente. Constantino deixou um legado que permanece. 

                    O triste é que pastores, bispos ou seja lá o nome que usem, prefiram ter uma formação pagã, inspirada em Constantino, em vez de se voltarem para o lastro confiável daqueles que, de fato, pregaram e viveram o genuíno Evangelho.Como efeito, o Brasil evangelico está cada dia mais alinhado com a cultura do individualismo, da ganância pela riqueza, pela visão de Deus como o 'coach' do momento, que ensina os que pagam seus dízimos a prosperar e a querer sempre mais, em detrimento dos que nada têm.

                     Estes, que aprendam direito a ter fé e a pratica-la. Eu, teimosamente, prossigo, anunciando que o Evangelho tem mais a cara de Jesus do que a cara de Edir Macedo. Que a Igreja existe para ensinar os cristãos a praticarem o bem e o amor, a solidariedade e  a justiça no mundo. 

             A fazer o bem, a dividir, compartilhar, se importar com os desesperados, e ajudar os caídos a buscarem a Deus, sendo por ele transformados, bem como a sua vida e seus relacionamentos. Ainda acredito que é possível crer em Cristo mesmo sem ter dinheiro. E que ser Igreja não é fazer saques, mas doar-se, imitando Jesus, para a gloria de Deus.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Heróis ou Vilões.




"Repeti o pedido três vezes; então ele me disse: Minha graça é o bastante; é tudo de que você precisa. Minha força brota da sua fraqueza. Assim que ouvi isso, achei melhor me resignar. Desisti de ficar pensando na limitação e comecei a apreciar o dom. Foi uma oportunidade para que a força de Cristo trabalhasse na minha fraqueza".     2  Coríntios 12: 8-9.

             Desde o primeiro vilão da História, Lúcifer  o anjo rebelde, que ofendido por ter sido expulso da presença de Deus, por querer ser igual ao Criador, se torna príncipe dos demônios e ocupa a terra para perverter a beleza, a ordem e a sanidade das pessoas, até os mais recentes vilões, personagens que marcaram as épocas do nosso tempo, incluindo aí os personagens de desenhos e filmes, todos eles tem em comum o fato de que lidaram com uma grande decepção pessoal:  frustração, dor, crise e não souberam ou não quiseram elabora-las de forma construtiva porque decidiram se vingar do acontecido, praticando o mal e projetando sua raiva sobre seus pares. 

               A vilania percorre todos os ambientes que frequentamos, na medida que encontramos aqueles que parecem não ter outra forma de ler a vida senão a leitura da ira, da competição e do desejo da eliminação. Vilões fazem da sua história uma meta: tentar, de alguma forma, compensar a perda daquele antigo estado de bem estar e felicidade que habitavam.

             Mas, quando olhamos para a vida dos heróis, vamos perceber que eles, igualmente, passaram pela dor e pela angustia. O Filho de Deus, na agonia da cruz, sentindo em plena potência toda a intensidade da agonia, faz uma oração a favor dos que lhe impunham  a pena: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem".
   
            Desde Jesus até o desenvolvimento da sociedade moderna, os heróis nunca são personagens imunes à crises. Eles também a vivenciam, mas optam em fazer da sua historia um meio de terapêutica que Deus possa utilizar no alivio da dor dos que o circundam. Isaías, o profeta, afirmou que 'as feridas de Jesus é que podem nos curar das nossas". 

              Ele é um curador, mas um curador que foi ferido por nossa causa. Sendo assim, a unica diferença entre heróis e vilões é a reação ao sofrimento. Porque ambos sofrem, algo próprio e inescapável da condição humana. Mas, uns acabam por culpar a humanidade á sua volta pela perda daquele tempo feliz que um dia viveram. 

               E gradualmente, vão descarregando toda sua ira sobre outros que não tem responsabilidade alguma pelo que o atingiram. 

             Outros, decidem fazer das suas feridas um dom, capaz de se identificar com dores parecidas e com elas partilhar o longo mas eficaz caminho da Graça de Deus que despeja o poder da superação, da paciência, da paz em meio ao cenário desolador. 

           Desejo que você não tome o caminho da vilania - já temos vilões demais no mundo. Mas que se aproprie da visão de sentido para  a dor, de proposito divino para ela - ajudar a curar com a operação eficaz da Graça de Deus.

            Seja um herói. Porque tanto nos filmes como na realidade, o bem sempre vai vencer o mal.