quinta-feira, 14 de março de 2013
O PRESTÍGIO DE HUGO CHÁVEZ NO CÉU.
Fiquei feliz com a escolha de Jorge Mario Bergoglio, o agora Papa Francisco, um argentino como líder da instituição católica mundial.
A escolha do nome Francisco sinaliza a identificação da trajetória de vida de Jorge à frente da causa dos pobres e da constante oposição ao antigo presidente Nestor Kirchner, marido da atual presidente argentina.
O novo Papa tem enormes desafios pela frente mais até do que a questão da pedofilia por parte dos padres. Espera-se que ele dê um novo rumo à Igreja Católica, tradicionalmente voltada para a Europa e tão distante das questões mais emergenciais dos países da America Latina, Ásia e Africa.
Por seu histórico na Argentina, de militância em favor de causas sociais, Francisco parece ser a pessoa ideal que a Igreja Católica precisa neste momento tumultuado que enfrenta, uma possibilidade de voltar-se mais para o povo, numa atitude realmente pastoral, do que continuar apenas tentando se manter como religião oficial de países.
Mas o que me chamou a atenção em todo este processo do conclave foi o pronunciamento de Nícolás Maduro, que ocupa provisoriamente a vaga deixada por Hugo Chávez depois da sua morte.
Ele disse a uma reportagem que a escolha do argentino aconteceu graças à intervenção do ex-presidente venezuelano, que, tendo chegado ao céu, intercedeu diretamente a Jesus Cristo para que Jorge fosse o escolhido.
Para além da declaração pastelônica de Maduro, que para mim parece bem verde, existe uma crença no mundo da politica de que lideres caudilhos e populistas como Chávez de tão aclamados, devem ter não apenas na terra a indiscutível liderança, mas que também depois da morte, ocupam no Paraíso um lugar de destaque ao lado da própria Trindade.
Eu temo pelo futuro da Venezuela se homens como Maduro se tornarem tão devotos do Chavismo a ponto de colocarem para ele um quarto trono no Céu.
Porque se a legitimação da continuidade deste tipo de regime já é defendida com muito discurso inflamado na terra, pior é quando esta legitimação tem como base a religião, o sentimento de que, afinal, Chávez foi tão santo que, quem sabe, mereça até uma futura canonização pelas mãos do novo papa.
Já embalsamaram o corpo, estão tentando embalsamar a alma. A alma de Chávez está viva, digo alma no sentido da sua presença politica no país.
Difícil tarefa para a oposição, porque o sentimento religioso ao qual a figura do antigo presidente está ligada é muito forte e por vezes sempre foi empregada como reforço da continuidade do mesmo.
Não bastaram os anos em que Chávez reinou absoluto na Venezuela, agora quer um principado no Céu?
Eu diria que a declaração de Maduro revela apenas uma coisa: como presidente interino, ele é um excelente motorista de caminhão.