Os
gregos tinham como valor maior da vida a sabedoria. A SOPHIA era inclusive cultuada
como deusa em alguns lugares. Esta sabedoria consistia em buscar em tudo a
virtude como contraponto ao vicio. Eles estabeleciam varias escolas, cada uma
delas com uma linha de pensamento como a de Platão, Sócrates Epicuro, Zenão,
Aristóteles.
Nem sempre a
sabedoria era de fato virtuosa e respeitosa, especialmente se determinados
conceitos eram conflitantes com o padrão estabelecido. Quando Paulo anuncia Jesus Cristo no Areópago os alunos das escolas de Zenão e de Epicuro o chamam pejorativamente de 'tagarela', 'inventor de fábulas'.
Em Corinto Paulo
estabelece uma igreja cristã mas ele percebe que alguns de seus membros tinham
sérios problemas com o Evangelho porque a leitura que faziam dele era a da
antiga visão das escolas gregas de sabedoria.
Um dos efeitos
era o entendimento de que os pregadores eram apenas mestres do saber, e por
isso, eles dividiram-se em grupos de interesse conforme a linha filosófica que
colocavam erroneamente sobre o Evangelho. Isso os fazia debater entre si e discordarem, abrindo mão da tolerância e da boa convivência, já que numa mesma comunidade havia os de Paulo, os de Apolo, os de Pedro e os de Cristo.
Isso apenas revela um fato: para o Evangelho a sabedoria de Deus não envereda pelos
mesmos caminhos da sabedoria humana porque esta, no parecer de Paulo não conduz
o ser humano a Deus.
O problema não é o conhecimento em si, mas a
arrogância que ele produz naqueles que vivem para disputar opiniões e impor as
suas. Para quem decide
conhecer o Evangelho, o importante não é adquirir um conhecimento distintivo e que classifica pessoas. Seu objetivo é unir em uma mesma fé naquele que é o Senhor todos os que pensam de maneira diferente sem que isso seja um problema para a convivência.
Os valores do Evangelho percorrem uma distância enorme ao que se espera do conhecimento em si. Ele não ensina a preservar-se para não ser ferido mas a amar mesmo que se sofra. No lugar da entronização do Eu, ele convida ao ato de servir uns aos outros. Finalmente, o Evangelho centraliza a Cristo e não o homem.
E isso é uma
mensagem profundamente contraria a cultura contemporânea que endeusa a
felicidade pessoal e subjetiva acima de tudo. O Evangelho vai adotar a postura
de Cristo em amar por meio do serviço aos outros. Além disso, para Paulo, o
critério de pertencimento a Deus não é o mesmo critério de pertencimento a uma
escola de sabedoria.
Enquanto para essa o que importa é o curriculum familiar,
financeiro e social, os que são convidados ao Evangelho não reúnem em si mesmos
nada que seja referencial ou digno. Deus chama para compor sua família os que nada são, os fracos, desajustados, e os que estão á margem do valor ditado pela sociedade.
Isso nos leva a uma diferença substancial
entre a sabedoria segundo Deus e a sabedoria humana. Elas diferem tanto quanto
a sua origem quanto a seu objetivo. Na de Deus a finalidade sempre é nos levar
a aprender o amor e o bom relacionamento, o respeito, a destruição de
preconceitos, a simplicidade. A sabedoria segundo Deus não coloca pessoas em sistema de
competição mas as une em um mesmo amor.
A sabedoria
de Deus não nos leva a desprezarmos a ninguém pela diferença que possui em
algum nível mas nos faz conviver com todos que são diferentes de nós em
qualquer aspecto. Esta sabedoria não vê cor, raça, sexo, religião e escolhas
mas aprende a amar porque imita um modelo que vem da cruz.
Ao pé da cruz estavam inimigos políticos como
Herodes e Pilatos; inimigos sociais como romanos e judeus; religiosos e
pecadores como prostitutas e corruptos; gente que amava Deus e gente que
venerava ídolos; crianças e velhos. Ao
lado da cruz estavam o santo de Deus e dois ladrões.
Somente a sabedoria do Evangelho poderia unir tamanhas
diferenças. Por isso, toda sabedoria que procede do Evangelho é a única capaz
de mudar um ambiente, transformar o mundo, perdoar ofensas e dar sentido a
tudo.
O sábio, afinal, não é o que acumula conhecimentos para se vangloriar de
quanto sabe mais do que alguém, mas sim aquele que, como Jesus, desce ao nível
dos menos favorecidos para promover o crescimento deles, seu progresso e sua transformação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário