terça-feira, 12 de novembro de 2013

A SABEDORIA DO EVANGELHO.

                  

             
              Os gregos tinham como valor maior da vida a sabedoria.  A SOPHIA era inclusive cultuada como deusa em alguns lugares. Esta sabedoria consistia em buscar em tudo a virtude como contraponto ao vicio. Eles estabeleciam varias escolas, cada uma delas com uma linha de pensamento como a de Platão, Sócrates  Epicuro, Zenão, Aristóteles.

        Nem sempre a sabedoria era de fato virtuosa e respeitosa, especialmente se determinados conceitos eram conflitantes com o padrão estabelecido. Quando Paulo anuncia Jesus Cristo no  Areópago os alunos das escolas de Zenão e de Epicuro o chamam pejorativamente de 'tagarela', 'inventor de fábulas'. 

        Em Corinto Paulo estabelece uma igreja cristã mas ele percebe que alguns de seus membros tinham sérios problemas com o Evangelho porque a leitura que faziam dele era a da antiga visão das escolas gregas de sabedoria.

      Um dos efeitos era o entendimento de que os pregadores eram apenas mestres do saber, e por isso, eles dividiram-se em grupos de interesse conforme a linha filosófica que colocavam erroneamente sobre o Evangelho. Isso os fazia debater entre si e discordarem, abrindo mão da tolerância e da boa convivência, já que numa mesma comunidade havia os de Paulo, os de Apolo, os de Pedro e os de Cristo.

       Isso apenas revela um fato:  para o Evangelho a sabedoria de Deus não envereda pelos mesmos caminhos da sabedoria humana porque esta, no parecer de Paulo não conduz o ser humano a Deus.


         O problema não é o conhecimento em si, mas a arrogância que ele produz naqueles que vivem para disputar opiniões e impor as suas.  Para quem decide conhecer o Evangelho, o importante não é adquirir um conhecimento distintivo e que classifica pessoas. Seu objetivo é unir em uma mesma fé naquele que é o Senhor todos os que pensam de maneira diferente sem que isso seja um problema para a convivência.

          Os valores do Evangelho percorrem uma distância enorme ao que se espera do conhecimento em si. Ele não ensina a preservar-se para não ser ferido mas a amar mesmo que se sofra. No lugar da entronização do Eu, ele convida ao ato de servir uns aos outros. Finalmente,  o Evangelho centraliza a Cristo e não o homem.

        E isso é uma mensagem profundamente contraria a cultura contemporânea que endeusa a felicidade pessoal e subjetiva acima de tudo. O Evangelho vai adotar a postura de Cristo em amar por meio do serviço aos outros. Além disso, para Paulo, o critério de pertencimento a Deus não é o mesmo critério de pertencimento a uma escola de sabedoria. 

           Enquanto para essa o que importa é o curriculum familiar, financeiro e social, os que são convidados ao Evangelho não reúnem em si mesmos nada que seja referencial ou digno. Deus chama para compor sua família os que nada são, os fracos, desajustados, e os que estão á margem do valor ditado pela sociedade.

         Isso nos leva a uma diferença substancial entre a sabedoria segundo Deus e a sabedoria humana. Elas diferem tanto quanto a sua origem quanto a seu objetivo. Na de Deus a finalidade sempre é nos levar a aprender o amor e o bom relacionamento, o respeito, a destruição de preconceitos, a simplicidade. A sabedoria segundo Deus não coloca pessoas em sistema de competição mas as une em um mesmo amor.

         A sabedoria de Deus não nos leva a desprezarmos a ninguém pela diferença que possui em algum nível mas nos faz conviver com todos que são diferentes de nós em qualquer aspecto. Esta sabedoria não vê cor, raça, sexo, religião e escolhas mas aprende a amar porque imita um modelo que vem da cruz.

         Ao pé da cruz estavam inimigos políticos como Herodes e Pilatos; inimigos sociais como romanos e judeus; religiosos e pecadores como prostitutas e corruptos; gente que amava Deus e gente que venerava ídolos;  crianças e velhos. Ao lado da cruz estavam o santo de Deus e dois ladrões.


        Somente a sabedoria do Evangelho poderia unir tamanhas diferenças. Por isso, toda sabedoria que procede do Evangelho é a única capaz de mudar um ambiente, transformar o mundo, perdoar ofensas e dar sentido a tudo. 

          O sábio, afinal, não é o que acumula conhecimentos para se vangloriar de quanto sabe mais do que alguém, mas sim aquele que, como Jesus, desce ao nível dos menos favorecidos para promover o crescimento deles, seu progresso e sua transformação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário