quarta-feira, 29 de abril de 2015

A TEOLOGIA DA MPB - Lenine




Já faz algum tempo que admiro a poesia de Lenine.
Capaz de dizer muito com poucas palavras ele chama a atenção para a essência das coisas e não para a superfície.
Numa de suas canções chamada ‘Paciência’ já se vê o tom da sua busca- coisas do interior que tragam sentido e paz ao coração. Na letra desta musica uma frase em particular me emociona:
‘Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma,
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma,
A vida é tão rara, a vida não para’. https://youtu.be/9X-hhzu0riw
Não temos mais aquela percepção de que possuímos uma alma e ela clama. Clama pela falta e reclama pelo excesso. Não temos calma para mais nada e vivemos empurrados de um compromisso a outro de tal forma que deixamos de perceber a vida em sua raridade. Para ser notada ela tem que ser observada no silencio e na parada.
A alma humana tem sede de contato com aquele que a fez.  No salmo 42 os coraitas clamam: ‘ A minha alma tem sede de Deus’. Deus e a alma humana são tão íntimos e amigos mas por vezes um se desconecta do outro pela via da agitação e do olhar externo.
Distraída a nossa alma vagueia e se irrita porque lhe empurramos tudo quanto ela não suporta: pressa, excessos, ausência de parada, falta de meditação.
E Lenine diz que ‘o mundo vai girando cada vez mais veloz’.
Nesta velocidade nós nem percebemos a passagem dos anos.
E quando vemos já estamos na meia-idade ou passamos dela.
A sensação é de que corremos com tanta velocidade e força mas não ganhamos nenhum premio compensatório. Temos o que queremos, guardamos no interior da casa mas, nossa alma continua vazia, com fome.
Quem dera déssemos ouvidos ao clamor da nossa alma que diz: ‘quero vida porque ela é rara, quero Deus, só ele me basta, quero mais alma menos corpo’.
Caleb Mattos.

terça-feira, 14 de abril de 2015

A TEOLOGIA DA MPB - Paulinho da Viola.





Não, você não leu errado.
Nas próximas postagens deste Blog dedicarei algum tempo para refletir sobre a teologia por trás de algumas musicas da MPB. Sou pastor presbiteriano há 24 anos mas não vou falar da Teologia da IPB e sim da Teologia da MPB.

Aprendi que Deus se comunica, além da Escritura, também através das culturas. E cada cultura tem a sua expressão mais forte através da arte. Não sem motivo muitos cristãos reformados do passado dedicavam a Deus sua arte, seus quadros, que retratavam a Criação, o amor divino e a pessoa do Salvador – além, é claro de homens e mulheres com os quais Ele se importa.

Tenho ouvido várias musicas da MPB ao longo de um bom tempo. Confesso que não tinha me dedicado a prestar atenção em como Deus usa a arte dita ‘secular’ como um veiculo de manifestação da sua presença e da sua obra.

Um dos músicos que vou comentar aqui é Paulinho da Viola. Em especial a sua musica interpretada por Marisa Monte: ‘Dança da solidão’. A musica fala do que é próprio da condição humana: a possibilidade de se frustrar no amor e nos relacionamentos. Ele cita os nomes de sofredores pelo amor: Camelia, Joana, Maria... e por aí vai. https://youtu.be/VI2GnTbLTG4

Nestas desilusões da vida, amorosas ou não, sempre vem aquele período comparado à noite: o silencio, a solidão, o desconhecido amanhã. E Paulinho lamenta: ‘quando vem a madrugada meu pensamento vagueia; corro os dedos na viola contemplando a lua cheia’. A lua por única companheira e assistente, a gerar musica na dor, e um grito de possível esperança.

E ela, a esperança, vem em seguida na letra de Paulinho:
‘Apesar de tudo existe uma fonte de água pura, quem beber daquela água não terá mais amargura’.
Fiquei impressionado porque certa vez Jesus disse isso  a uma mulher também desiludida com o amor dos homens. Tinha tido vários maridos e agora vivia com um que não era legalmente seu. O Mestre detectou sua tristeza interna e vazio e lhe disse: ‘Quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede de novo’.

A cultura estabelece alguns pontos de contato com o Evangelho. Ela tem um lado bom que é servir de veiculo de expressão da Graça. Desconheço a cosmovisão de Paulinho, nem sei da sua fé. Mas talvez sem saber disso ele foi instrumentalizado para reverberar as palavras de Jesus no meio cultural: a expectativa de que alguém maior forneça o amor de que todos precisamos.
Fiquei feliz com a musica. Percebi que de fato estamos vivendo a era do Reino de Deus, que ele atua neste mundo muito mais do que supomos. De que não é apenas a Igreja que o manifesta porque seria pequena demais para tanto.

Deus aparece e se mostra em lugares e contextos inesperados para tocar corações e convergi-los a Si. Felizes são aqueles que o percebem e cooperam com Ele para tornar mais clara a sua mensagem neste mundo.
Caleb Mattos.