Não, você não leu errado.
Nas próximas postagens deste Blog dedicarei algum tempo para
refletir sobre a teologia por trás de algumas musicas da MPB. Sou pastor
presbiteriano há 24 anos mas não vou falar da Teologia da IPB e sim da Teologia
da MPB.
Aprendi que Deus se comunica, além da Escritura, também
através das culturas. E cada cultura tem a sua expressão mais forte através da
arte. Não sem motivo muitos cristãos reformados do passado dedicavam a Deus sua
arte, seus quadros, que retratavam a Criação, o amor divino e a pessoa do
Salvador – além, é claro de homens e mulheres com os quais Ele se importa.
Tenho ouvido várias musicas da MPB ao longo de um bom tempo.
Confesso que não tinha me dedicado a prestar atenção em como Deus usa a arte
dita ‘secular’ como um veiculo de manifestação da sua presença e da sua obra.
Um dos músicos que vou comentar aqui é Paulinho da Viola. Em
especial a sua musica interpretada por Marisa Monte: ‘Dança da solidão’. A
musica fala do que é próprio da condição humana: a possibilidade de se frustrar
no amor e nos relacionamentos. Ele cita os nomes de sofredores pelo amor:
Camelia, Joana, Maria... e por aí vai. https://youtu.be/VI2GnTbLTG4
Nestas desilusões da vida, amorosas ou não, sempre vem
aquele período comparado à noite: o silencio, a solidão, o desconhecido amanhã.
E Paulinho lamenta: ‘quando vem a madrugada meu pensamento vagueia; corro os
dedos na viola contemplando a lua cheia’. A lua por única companheira e
assistente, a gerar musica na dor, e um grito de possível esperança.
E ela, a esperança, vem em seguida na letra de Paulinho:
‘Apesar de tudo existe uma fonte de água pura, quem beber
daquela água não terá mais amargura’.
Fiquei impressionado porque certa vez Jesus disse isso a uma mulher também desiludida com o amor dos
homens. Tinha tido vários maridos e agora vivia com um que não era legalmente
seu. O Mestre detectou sua tristeza interna e vazio e lhe disse: ‘Quem beber da
água que eu lhe der nunca mais terá sede de novo’.
A cultura estabelece alguns pontos de contato com o
Evangelho. Ela tem um lado bom que é servir de veiculo de expressão da Graça.
Desconheço a cosmovisão de Paulinho, nem sei da sua fé. Mas talvez sem saber
disso ele foi instrumentalizado para reverberar as palavras de Jesus no meio cultural:
a expectativa de que alguém maior forneça o amor de que todos precisamos.
Fiquei feliz com a musica. Percebi que de fato estamos
vivendo a era do Reino de Deus, que ele atua neste mundo muito mais do que
supomos. De que não é apenas a Igreja que o manifesta porque seria pequena
demais para tanto.
Deus aparece e se mostra em lugares e contextos inesperados
para tocar corações e convergi-los a Si. Felizes são aqueles que o percebem e
cooperam com Ele para tornar mais clara a sua mensagem neste mundo.
Caleb Mattos.
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