Para mim existe uma diferença entre as duas palavras, embora
elas pareçam entre si muito semelhantes. Estar sozinho é uma condição nem
sempre planejada e desejada mas ás vezes acontece por uma necessidade, por uma
enfermidade, por um momento sobre o qual não se conseguiu lidar. E nestes casos
é preciso, mesmo que não queira, estar sozinho, mesmo porque não há outra
opção.
Há muita gente sozinha que jamais planejou estar assim, mas
que as circunstancias da vida a empurraram para esta realidade sem que elas
pudessem oferecer resistência, ou mesmo depois de longo trabalho para
manutenção da unidade e companhia mas sem sucesso. Estar sozinho produz,
naturalmente, um elevado grau de deslocamento daqueles pertencimentos de
outrora.
A comunhão diária já não existe, a parceria desfeita, o
querer bem desaparece. No lugar resta o inevitável pensamento do fracasso, da
inadequação, do não ter sido suficiente e capaz. Perde-se os poderes imaginados
e utópicos de super-homem e agora você se vê na absoluta consciência de que é
apenas e tão somente um ser humano, desprovido de poder, de argumentos,
totalmente á mercê como nunca da Graça de Deus.
Já o estar solitário é, para mim, uma escolha espontânea, de
não rompendo nenhum vinculo, promover pequenos retiros de horas onde se fica só
para orar, contemplar e reabastecer-se de Deus não perdendo de vista seus alvos
para nós entre a agitação deste mundo. Estar solitário é uma necessidade numa sociedade
que exige que você esteja ocupado sempre com algo ou com alguém. Mas quem vive
assim na escravidão da agenda perde aos poucos a consciência de ser individuo.
Perde a noção de quem é quando não está cumprindo uma tarefa ou exigência. Vai
se tornando apêndice da vida alheia, anula-se, e se reconhece somente pelo que
faz e pelos papéis que representa socialmente.
Às vezes a vida leva a alguém para a solidão a fim de estar
solitário. È um processo de recuperação da própria identidade. Isso não é uma
perda. È um meio em que acredito envolver a intervenção de Deus. Conheço tantos
que nem sabem mais quem são. Eles se tornaram alguém que representam
socialmente e com maestria o que lhe mandaram fazer. Mas tem medo de refletir e
ficarem sozinhos com seu interior. Tem medo de se analisarem e perguntarem se
são o que fizeram deles ou se tem existência própria.
Paulo numa de suas cartas afirma: ‘Pela graça de Deus sou o
que sou’.
Ele não diz: ‘Pela graça de Deus faço o que faço’.
Esta é a diferença entre a liberdade dos filhos de Deus e a
escravidão dita religiosa.
Quem é você, afinal?
Somente a ida á solidão ou a pratica constante de em certos
momentos estar sozinho é que lhe pode dar a resposta.
Caleb Mattos.
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