Jacó se encontrou ali com Deus quando sua vida como um todo
estava resolvida, abençoada, prospera e com um futuro garantido. Mas ele desceu
ao vale sem saber o que o aguardava. Sem perceber que Deus estava ali apenas
esperando a ocasião. Ele não precisaria ter descido, mas por alguma razão
desconhecida manda passar á sua frente tudo o que tem e ajuntou ao longo de uma
vida, para descer.
E descer absolutamente sozinho.
Parece até que o Espírito
Santo, livre como o vento, que sopra onde quer, o instigou para percorrer
aquela descida. E durante a noite toda ele luta. Ele é ferido, mas prevalece.
Ele agride e é agredido. Ele soca e é socado. Ele combate e é combatido. Mas
sai dali com vida. Porém ferido e marcado para o resto de seus dias.
Eu não sei por que Deus nos faz descer ao vale justamente no
momento da vida em que ir até lá é a última coisa que queremos. Porque já temos
uma certa idade, estamos comemorando as vitórias obtidas de anos de trabalho,
estamos ajustados com as condições e, embora nem tudo seja perfeito e bom,
acabamos compensando uma coisa com outra. E na balança da vida equilibramos um
prato mais pesado com outros pesos no prato ao lado para desta forma
prosseguirmos a marcha.
No entanto, parece que uma voz ali dentro da alma insiste em dizer que temos que ir
sozinhos ao vale. Que precisamos passar á nossa frente tudo que anexamos como
ganhos e então fazer ali no vale aquilo que por vezes é o maior dos desafios de
todos os tempos.
Responder a pergunta que nos é feita: ‘qual é o seu nome?’
Para a cultura oriental do período o nome era a pessoa, a
pessoa era o nome. De forma que responder era consultar quem se era sem as bênçãos,
sem as vitorias, sem os amores e amizades, sem ganhos e lucros, sem reputações
obtidas, sem nada disso. E não sei se responderíamos tão prontamente: ‘Eu sou
Jacó’(suplantador) depois de tantos anos em que nos tornamos alguém melhor do
que um ‘Jacó’.
Porque a tendência de todos nós é que o que nos tornamos
compensa quem fomos. E quem fomos não é bonito na maioria das vezes. Mas quem
nos tornamos é um suposto atestado de aprovação. Ora, diria eu, hoje sou um ‘reverendo’.
Jacó foi mais
honesto. Disse quem era e sempre foi. E Deus lhe mudou o nome. Eu mesmo desci
meu Jaboque a pouco tempo. E por ficar lá e lutar, porque não sou tão forte
como o antigo Jacó, fui ferido mais do que na coxa. Quase me arrasto hoje. Mas
estou subindo de novo as encostas do morro para voltar ao caminho original.
Sei que perdi, que fui alijado de algumas coisas. Ando meio
tonto, meio desorientado ás vezes. Resultado da briga. Mas permaneço, mesmo
surrado, agarrado ao meu Deus. Porque eu já apanhei de pessoas e a surra foi
muito mais doída.
Mas a surra dele não.
Ele faz a ferida e a cura, como está escrito. Mas digo com convicção: ter
passado o Jaboque foi a melhor coisa que me aconteceu. Hoje eu não dou
importância ao que me tornei, dou valor ao nome que Deus me deu. E baseado
nisso eu continuo a minha jornada seguindo os passos de Jesus. Porque quero ser
achado nele, não em mim. Acho que estou me convertendo, de novo, e isso é muito
bom.
Caleb Mattos.
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