quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Descer para depois subir.




Jacó se encontrou ali com Deus quando sua vida como um todo estava resolvida, abençoada, prospera e com um futuro garantido. Mas ele desceu ao vale sem saber o que o aguardava. Sem perceber que Deus estava ali apenas esperando a ocasião. Ele não precisaria ter descido, mas por alguma razão desconhecida manda passar á sua frente tudo o que tem e ajuntou ao longo de uma vida, para descer.
E descer absolutamente sozinho. 

Parece até que o Espírito Santo, livre como o vento, que sopra onde quer, o instigou para percorrer aquela descida. E durante a noite toda ele luta. Ele é ferido, mas prevalece. Ele agride e é agredido. Ele soca e é socado. Ele combate e é combatido. Mas sai dali com vida. Porém ferido e marcado para o resto de seus dias. 
 
Eu não sei por que Deus nos faz descer ao vale justamente no momento da vida em que ir até lá é a última coisa que queremos. Porque já temos uma certa idade, estamos comemorando as vitórias obtidas de anos de trabalho, estamos ajustados com as condições e, embora nem tudo seja perfeito e bom, acabamos compensando uma coisa com outra. E na balança da vida equilibramos um prato mais pesado com outros pesos no prato ao lado para desta forma prosseguirmos a marcha. 

No entanto, parece que uma voz ali dentro da  alma insiste em dizer que temos que ir sozinhos ao vale. Que precisamos passar á nossa frente tudo que anexamos como ganhos e então fazer ali no vale aquilo que por vezes é o maior dos desafios de todos os tempos. 
Responder a pergunta que nos é feita: ‘qual é o seu nome?’ 

Para a cultura oriental do período o nome era a pessoa, a pessoa era o nome. De forma que responder era consultar quem se era sem as bênçãos, sem as vitorias, sem os amores e amizades, sem ganhos e lucros, sem reputações obtidas, sem nada disso. E não sei se responderíamos tão prontamente: ‘Eu sou Jacó’(suplantador) depois de tantos anos em que nos tornamos alguém melhor do que um ‘Jacó’. 

Porque a tendência de todos nós é que o que nos tornamos compensa quem fomos. E quem fomos não é bonito na maioria das vezes. Mas quem nos tornamos é um suposto atestado de aprovação. Ora, diria eu, hoje sou um ‘reverendo’.

 Jacó foi mais honesto. Disse quem era e sempre foi. E Deus lhe mudou o nome. Eu mesmo desci meu Jaboque a pouco tempo. E por ficar lá e lutar, porque não sou tão forte como o antigo Jacó, fui ferido mais do que na coxa. Quase me arrasto hoje. Mas estou subindo de novo as encostas do morro para voltar ao caminho original. 

Sei que perdi, que fui alijado de algumas coisas. Ando meio tonto, meio desorientado ás vezes. Resultado da briga. Mas permaneço, mesmo surrado, agarrado ao meu Deus. Porque eu já apanhei de pessoas e a surra foi muito mais doída.

 Mas a surra dele não. Ele faz a ferida e a cura, como está escrito. Mas digo com convicção: ter passado o Jaboque foi a melhor coisa que me aconteceu. Hoje eu não dou importância ao que me tornei, dou valor ao nome que Deus me deu. E baseado nisso eu continuo a minha jornada seguindo os passos de Jesus. Porque quero ser achado nele, não em mim. Acho que estou me convertendo, de novo, e isso é muito bom.
Caleb Mattos.

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