Intolerância deveria ser uma praga já extirpada do convívio
social. Especialmente em tempos de tanto esclarecimento e recursos de
informação como o nosso. Das pessoas se esperaria uma postura mais democrática
e menos hostil, afinal , nunca se falou tanto sobre fraternidade e amor como na
era da Internet.
No Brasil de 1898, no agreste pernambucano, na cidade de
Canhotinho, um homem comum de nome Manuel Vilella acompanhava um médico
missionário por aquelas bandas em uma viagem de objetivos humanitários. No meio
da estrada um cavaleiro rápido chega, retira um punhal de suas vestes e tenta
matar o doutor Buttler. Manuel Vilella, mais rápido que o assassino, se coloca
na frente do missionário e recebe o golpe que lhe ceifa a vida.
O motivo do crime: intolerância religiosa numa era em que
ser protestante no Brasil era ser uma seita do diabo. Os anos passaram e em
plena campanha presidencial um candidato no meio do publico recebe uma facada
de um outro intolerante, agora por motivação política. O candidato, á frente
das pesquisas, é o símbolo do medo da violência, da volta da Ditadura, da ameaça
ao socialismo.
Naqueles antigos tempos o coronelismo nordestino imperava e
bastava uma ordem do poderoso da região para inocentes morrerem pelas mãos de
contratados, á semelhança do coronel Lampião e sua quadrilha. Eu achei que os
tempos do coronelismo já tinham acabado por aqui, mas não.
Basta um desafeto, uma discordância ao discurso vigente e a morte
ronda aqueles que ousam pensar diferente e anunciar suas ideias. No calor dos últimos
acontecimentos do país a deputada federal Benedita da Silva, de uso da Bíblia,
menciona que para seu partido, ‘sem derramamento de sangue não haverá redenção’.
O paradoxo é gritante: alguém que, dadas suas limitações tão mencionadas pelo
seu partido a exaustão, de ser mulher, de ser negra e pobre, chega ao elevado
posto de deputada, agora usa um texto da Biblia, que defende o perdão, o amor e
a tolerância, justamente para instigar seus companheiros a lutar pelo que
acreditam, até se for preciso, usando do expediente da violência.
È por isso que eu acho que nunca houve Democracia no Brasil.
Temos sim, todo o enredo democrático, o voto do povo, a liberdade de ir e vir.
Mas na pratica partidária e na vivencia das ruas no cotidiano, o que temos
mesmo é o velho, mas cada dia mais vivo, coronelismo da peixeira.
Pois é, leitor,
estamos em 2018 mas com as mesmas mentes tacanhas de 1898. Que Deus nos ajude,
que ele nos salve, mas sem derramamento de sangue nenhum porque o único necessário
já foi derramado há mais de dois mil anos.
Caleb Mattos.
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