segunda-feira, 7 de outubro de 2019

PATHIA, APATIA, ANTIPATIA, SIMPATIA, EMPATIA.



Os gregos davam ao sofrimento o nome de Pathós. Traduzida também como doença, ela originou várias palavras em nosso idioma. Todas elas, de alguma forma associadas ao nosso sofrimento e ao sofrimento do outro. Diante do sofrimento encontramos quatro palavras que derivam de ‘pathós’: simpatia, empatia, antipatia e apatia. 

SIMPATIA: O simpático olha e sente a dor, mas não se envolve para minimiza-la. Simpatia é o olhar social da dor, aquilo que podemos chamar de ‘pena’ ou ‘dó’, que soa até caridoso, mas que nada tem da caridade efetiva.

APATIA: O apático vê a dor, mas nada sente. É um inerte a qualquer sentimento. Nada o mobiliza na direção de um socorro. É capaz de permanecer frio diante da maior tragédia, impassível frente a qualquer lagrima derramada.

ANTIPATIA:  O antipático, como o nome já diz, é ‘alguém contra a dor’. Mas ser ‘alguém contra a dor’ não no aspecto de lutar para que ela seja diminuída. Sua luta é que a dor do outro não o incomode. Assim, se nota algum sinal de sofrimento que lhe atrapalhe o dia, esbraveja irritado porque perdeu alguns minutos do seu tempo. Não importa o quão aguda seja a dor alheia. Ela é uma inimiga mortal se o toca em algum ponto da sua jornada.

EMPATIA: O empático (‘sentir junto’) sente a dor do outro como se ela fosse sua. Como a dor do outro também dói nele, faz de tudo para conseguir ajudar, para conseguir resolver o que quer que seja e que esteja ao seu alcance. A sua meta é parar a dor, diminui-la, ameniza-la ou interrompe-la. Usa tudo o que estiver á mão para fazer isso.

Martin Heidegger diz que Pathós em sua origem é disposição afetiva fundamental. Não há como divorciar a dor da disposição afetiva. 

Neste caso, seriam o antipático e o apático pessoas que não sentem dor, que não sofrem? De forma alguma, porque a condição humana é marcada por pathós e dela nenhum de nós está imune. Algumas pessoas até conseguem negar a sua dor de uma forma racional e, talvez, os dois grupos acima, sejam os que conseguem sentir a dor sem demonstra-la. 

Mas no fundo, mesmo que se negue, ela persiste no centro da vida e irá se manifestar de alguma forma, burlando a racionalidade e esvaindo solta pelos poros da existência. Uma vez que a dor é tão generalizada e universal não deveríamos nos ver uns aos outros como seres qualificados ou desqualificados por conta dela. Ao abordarmos uma outra vivencia diferente da nossa, que a ferramenta a ser usada não seja a xenofobia. 

Porque a verdade é que tomos doemos, apenas o motivo da dor é diferente. E se todos sofremos não há intensidade, adjetivo, moralidade nem definição que restrinja, explique, solucione ou conforte.

 A única saída é a empatia. É ela que nos torna pessoas que demonstram ter um coração e uma alma. O que nos diferencia do mundo cibernético e robótico, futuro não distante de todos. 

Me lembro de um curta que assisti chamado ‘Perfection’. Uma jovem senhora de 50 anos recorda que toda a sua vida foi regada pela busca da inerrância ao som macabro de um cronometro cruel que não para. Até que ela suspira longamente e decide apertar o botão do cronometro.

O suspiro foi o grito da dor implorando para ser ouvida. Empatia consigo mesma.

 É hora de pratica-la. Com você, com outros, para que a passagem inexorável do tempo não nos leve a vida que ainda nos resta.
Caleb Mattos.

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Falta um pedaço de mim.


Hoje eu quero lembrar você de duas músicas muito conhecidas. 

Djavan, falando sobre o amor, declara:
“E o coração de quem ama,fica faltando um pedaço”.

Dominguinhos, comentando sobre a saudade de quem ama, afirma:
“É duro, ficar sem você,vez em quando; parece que falta um pedaço de mim”.

Você já sentiu que parece faltar um pedaço de você em você? Isso é perfeitamente natural e não deveria ser para nós uma surpresa. Somos seres incompletos, seres da falta, gente que busca preencher esse vazio que falta, esse pedaço ausente. 

Nós éramos completos quando fomos feitos pelo Criador. Na experiência da completude o vazio não existia, porque falta é justamente a sensação de vazio.
Adão estava só, mas completo. Mas Deus percebeu que sua solidão não era boa. Decidiu fazer para ele uma mulher que lhe correspondesse, que fosse sua amada, sua auxiliar e companhia. Tirou uma das costelas do homem e fez Eva. 

Santo Agostinho comentando esse texto diz que Eva não foi tirada dos pés de Adão, para ser pisada por ele. Nem de sua cabeça, para mandar nele. Mas de seu lado, de junto do seu coração, para ser por ele amada, abraçada e para que ambos em mesmo nível partilhassem da vida e da presença daquele que complementa toda a falta.

Por isso sempre sentimos que falta um pedaço de nós. E ainda que procuremos encher essa falta com tudo que existe, o pedaço novo não encaixa no vão vazio. É como um quebra-cabeças, faltando uma peça, que se perdeu. Vai ficar faltando mesmo. Mas o projeto foi construído dessa maneira.

Imagine se fôssemos absolutamente completos e acabados, sem nada faltar. Se disséssemos que nada nos falta e não precisamos de ninguém. Que nos bastamos neste mundo e que tudo e todos são para nós desnecessários. 

Todos os déspotas e ditadores do mundo que por aqui já passaram e se foram sem deixar saudade se achavam completos. Para eles não faltava a costela. E acreditando na falsa premissa da perfeição de si próprios tinham-se por deuses no mundo dos homens. O seu fim, porém, é a garantia e a confirmação de que faltar um pedaço em nós é necessário para a saúde mental, para a proteção da sociedade e para o equilíbrio em meio a tanta desigualdade.

Paulo escreve no Novo Testamento sobre o amor. Assim como Djavan e Dominguinhos escreveram. Ele poetiza na frase que diz: ‘Agora vemos tudo de modo imperfeito, como um reflexo no espelho, mas então veremos tudo face a face. Tudo o que sei agora é parcial e incompleto (grifo meu) mas conhecerei tudo plenamente, assim como Deus já me conhece plenamente’. 

Então, que a sua falta não o leve a um estado de espírito de rebeldia, nem a uma amargura infantil própria daqueles que acreditam que merecem tudo sem nada faltar. A falta é condição humana. A falta é o que nos torna conscientes de que precisamos uns dos outros.
Caleb Mattos.

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

A fé é como uma semente.



‘Assim como o corpo sem fôlego está morto, também a fé sem obras está morta’(Tiago).

Eu li um trecho do livro bíblico de Tiago e descobri que, no trecho que li, menciona três personagens relacionados com a fé. O primeiro são os demônios. Eles creem que Deus existe, e tremem. A segunda personagem é Abraão. Ele creu em Deus e ofereceu seu filho Isaque. A terceira personagem é Raabe. Ela creu em Deus e escondeu os espias israelitas enviados a Jericó, salvando a vida deles. Tres tipos de fé e três reações, resultados, evidencias.

A fé nunca deixa de produzir uma ação. Não existe fé que não gere algum efeito. Fé cristã e ausência de movimento é a mesma coisa que não crer, estar morto espiritualmente. Existem dois momentos cruciais em nossa vida, que podemos chamar de as duas linhas da vida. A primeira linha é como uma cadeia de montanhas, altos e baixos, como montanha russa. A segunda linha é uma reta. A mesma que aparece nos monitores cardíacos quando alguém morre.

A vida acontece entre estas duas linhas. Por causa da fé em Cristo, queremos que a nossa vida seja sempre uma reta, sem surpresas, sem imprevistos, sem sustos. Mas se a vida estiver como uma linha reta isso é sinal de morte. Só na morte é que a vida para e entra num estado de continua normalidade. A fé que temos em Cristo não evita que estes picos de altos e baixos apareçam.

Eles tem mesmo que aparecer porque prova que ainda estamos vivos. A vida é composta de vitórias e fracassos, alegrias e tristezas, pôr do sol e amanhecer. Nós temos uma pele nova a cada 4 semanas. Nossos glóbulos vermelhos são renovados a cada meio ano. Nosso fígado se renova uma vez a cada dois anos. Se tudo muda nós também mudaremos. Se tudo se renova nós também seremos renovados.
Queremos que tudo fique como está, mas esquecemos que uma linha da vida plana e retilínea só mostra que deixamos de gerar, produzir.

 Haverá sol e chuva, perdas e ganhos, mas temos que aprender a ficar em pé e superar. Jesus disse que estaria conosco todos os dias. Não apenas nos dias que sorrimos e vencemos. Mas que estaria conosco também nos dias que choramos e perdemos. Se estamos com saúde hoje isso significa que somos mais felizes do que um milhão de pessoas no mundo que morrerão esta semana de alguma enfermidade.

Se temos comida na geladeira, sapatos nos pés, roupas no corpo, uma cama para dormir e um teto sobre a cabeça somos mais ricos do que 75% das pessoas do mundo. E mesmo que tenhamos uma nota na carteira, ou dinheiro no banco, ou moedas em casa estamos entre os 8% mais ricos de todo o planeta.
E aquele em quem cremos garante: 'Nunca te deixarei, jamais te abandonarei'.

O escritor Wayne Dyer: ‘ Quando mudamos a maneira como vemos as coisas, as coisas que olhamos mudam’. E se temos fé em Cristo, então, sem sombra de duvida, somos as pessoas mais felizes da terra. 

Será que realmente nós temos razão para nos queixarmos da nossa vida?
Caleb Mattos.

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Solo sagrado.




Houve tempo em que eu acreditava que Deus havia me chamado para chegar em um ambiente e em um grupo para consertar e modificar pessoas e coisas. Me achava dono da verdade e apto para, em nome dele, corrigir e alterar o que predominantemente era e estava ruim. Eu estava cego para as minhas próprias inconsistências naquele período, e me guiava muito mais pelo que deveria ser, numa projeção teórica de tudo e de todos, do que abraçar a verdade tal como estava estabelecida.

Não era capaz de ver as coisas de acordo com o princípio da Criação, segundo o qual ‘tudo era muito bom’. Não via o bem em nada e em pessoa alguma. Depois, com o passar dos anos e com uma abordagem com Deus muito mais amistosa, entendi que eu é que devo chegar e pedir licença para participar e cooperar com aquilo que ele já vem fazendo antes de eu pisar naquele solo sagrado da existência dos outros.

Então vi que é mais importante aprender antes de querer ensinar. Tenho graduação em Pedagogia e sei do poder da educação na transformação de vidas e cenários. Educar é guiar, é conduzir, é levar pela mão. Educar é partir, porém, do que me é trazido e não do que eu imagino. Tive que readaptar minha atividade ao saudável ato de escutar antes de responder ou dar algum conselho que está escrito, como se fosse fácil repetir um mantra genérico a todos, de forma generalizada.

Jesus nunca se atreveu a dizer qualquer coisa que fosse a alguém antes de ser perguntado ou antes de ser solicitada a sua ajuda. Ele não é invasor, sua atitude é de bater educadamente à porta.

Certo dia eu recebi uma garota para atendimento. Ela me estendeu uma folha enorme de papel com ambos os lados preenchidos. Leu tudo aquilo com sentimentos marcantes de irritabilidade. Dirigiu a mim algumas afirmações de que eu havia sido omisso em algumas posturas para com sua família. Depois de ouvir essa leitura carregada de emoção eu não tinha nada para lhe dizer. Àquela altura eu já sabia que seu pai estava preso por ter assassinado um outro numa briga.

Senti sua alma mais do que suas palavras. Pedi que ficasse em pé e apenas lembrei: ‘Você está precisando de um pai. Seu pai está aqui’. Lagrimas volumosas se misturaram com aquele abraço. Veio o pedido de perdão e um sorriso novamente voltou. Percebi naquela tarde que minhas palavras pouco poder teriam se a minha alma não tivesse escutado a dor.

Tudo aquilo mudou na vida daquela garota que hoje é mãe de lindos filhos e tem um lar maravilhoso. Ela, como tantos outros que atendo, são o solo sagrado que Deus me convida a adentrar e, sem a intenção soberba de dizer que sei, apenas observar, sentir, dizer que o Bem está ali. E em paz, observar plantas novas surgindo em meio á aridez do solo da vida.

Caleb Mattos.

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Quer saber por que voce anda frustrado?



Frustrações tem muito a ver com expectativas que nós mesmos criamos em nosso inconsciente. Porque imaginamos como a vida deva ser e como as coisas precisam acontecer, na medida em que se descortina o cenário real, nos deparamos com a verdade que nem sempre corresponde ao idealismo projetado. Daí ficamos decepcionados. 

E injustamente lançamos a ira do nosso descontentamento sobre o tempo, sobre a vida, sobre circunstancias, sobre Deus, sobre pessoas. Perceba: nenhum deles tem, necessariamente, o dever de viabilizar aquilo que nosso inconsciente pede, determina, exige. Então, qual é o caminho para driblar a frustração? 

Eu acho que tudo começa com uma pergunta: ‘eu sou grato?’

 Não. Não se trata de conselho de autoajuda. Diz respeito ao exercício de compreender o fato mais inquestionável da vida: tudo é dádiva e não mérito. Você e eu nascemos neste mundo não porque ele precisava muito de nós, mas como ato de amor apaixonado de duas pessoas. Recebemos as primeiras fontes de recursos, teto, afeto, abrigo, educação quando nada poderíamos fazer para colaborar com tudo isso. 

Temos uma carreira, mas ela em si não é autossustentável e nem auto existente. Alguém criou o espaço onde você executa seu trabalho e de onde você tira o seu sustento. Pessoas amam a você não exatamente porque você é a obra prima da criação e o centro do Universo, mas sim, porque o amor está no coração delas e você é amado apesar de quem você é e não por causa de quem é. Examine suas chatices e você há de concordar comigo.

 Quando você abastece o seu carro o frentista faz o favor de lhe atender bem. Quando você compra seu pãozinho deve se lembrar do trabalho do padeiro e do esforço dos funcionários em sorrir mesmo que estejam tristes. Quando você pega seu filho na escola deve se lembrar que ele ficou horas ali sendo bem tratado, respeitado, protegido e orientado por profissionais competentes que ajudam no seu desenvolvimento presente e futuro. 

Quando você dorme precisa estar ciente de que há pessoas de plantão nos hospitais e nas ruas fazendo a segurança, caso você precise. E quando respira não pode se esquecer de que é o Criador que permite sua existência na terra. 

Por todas estas coisas, antes de dar mais um grito de protesto, antes de xingar o vizinho, antes de discutir com sua família, antes de maldizer sua empresa, pergunte: ‘eu sou grato?’ No fundo, nossas frustrações são apenas o eco de nossa insatisfação inquieta, injusta e infantil. 

Carpe Diem!
Caleb Mattos.

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Antes que a casa caia.



Tudo o que é valioso é construído de dentro para fora. Veja uma casa ou um bebê. Nos alicerces se acha o segredo da estrutura e o quanto de peso irá suportar. No útero se encontra nutrição, segurança e calor para garantir o crescimento até o parto. 

Por isso é que tantos andam desmoronados pela vida. Não cuidam do primordial, a sua alma. Curioso que a palavra ‘ânimo’ vem de alma. Quem anda desanimado é porque descuidou da alma, essa essência que nos mantem vivos, motivados e dispostos. Jesus certa vez falou que não adianta nada ganhar o mundo se com isso perdermos a alma. 

Porque o que é exterior pesa muito sobre nós. Mas sem a alma, que a tudo sustenta, perdemos a uma e a outro. Li sobre a invasão de Jerusalém pela Babilônia nos tempos bíblicos. Percebi que a invasão se deu de dentro para fora. O rei caldeu começou por destruir o templo, depois o palácio real, em seguida as casas, depois os prédios públicos e só por último, os muros da cidade. 

Não teria sido mais logico começar por derrubar os muros? Mas a sua estratégia foi cuidadosamente planejada. Ele queria destruir primeiro a base da fé e da confiança dos israelitas em Deus. Destruído o símbolo de proteção, destruiu todo o resto com facilidade. 

Nosso tempo é caracterizado pela exposição. Somos solicitados a dar respostas, a postar fotos, a dar opiniões sobre tudo, a aparecer, a comparecer, a revelar, a consumir, a amar o que passa. Observe como, ao mesmo tempo, crescem os cursos de coaching, psicanalise, meditação e yoga. 

Estamos adoecidos por dentro em razão de não darmos valor justamente àquilo que é a base de sustentação das relações, da existência e de todos os compromissos de agenda.
Tentamos construir um refúgio superficial em meio a vida mas empregamos para isso a fragilidade da areia do ativismo, um seminário de autoajuda aqui, um fim de semana motivacional ali, uma sessão de encorajamento acolá. Como é que uma casa se sustenta sem reforço no alicerce? 

Nossas constantes rachaduras são a denuncia do descaso com nossa essência. Nossos vazamentos levam junto pouco do que sobra da vitalidade que um dia tivemos. Não dá para morar numa casa muito tempo sem fazer constante manutenção nos sistemas que ela possui. Sem isso, a casa adoece e, nós que moramos nela, também. 

Não são as circunstancias da nossa vida que nos entristecem e desmotivam. O problema é interno. Tempo de manutenção, para que suportemos o que ocorre com um poder que vem do alto e nos conduz, vitoriosos, até o fim da jornada.
Caleb Mattos.