Os gregos davam ao sofrimento o nome de Pathós. Traduzida também
como doença, ela originou várias palavras em nosso idioma. Todas elas, de
alguma forma associadas ao nosso sofrimento e ao sofrimento do outro. Diante do
sofrimento encontramos quatro palavras que derivam de ‘pathós’: simpatia,
empatia, antipatia e apatia.
SIMPATIA: O simpático olha e sente a dor, mas não se
envolve para minimiza-la. Simpatia é o olhar social da dor, aquilo que podemos
chamar de ‘pena’ ou ‘dó’, que soa até caridoso, mas que nada tem da caridade efetiva.
APATIA: O apático vê a dor, mas nada sente. É um
inerte a qualquer sentimento. Nada o mobiliza na direção de um socorro. É capaz
de permanecer frio diante da maior tragédia, impassível frente a qualquer lagrima
derramada.
ANTIPATIA: O antipático,
como o nome já diz, é ‘alguém contra a dor’. Mas ser ‘alguém contra a dor’ não
no aspecto de lutar para que ela seja diminuída. Sua luta é que a dor do outro
não o incomode. Assim, se nota algum sinal de sofrimento que lhe atrapalhe o
dia, esbraveja irritado porque perdeu alguns minutos do seu tempo. Não importa
o quão aguda seja a dor alheia. Ela é uma inimiga mortal se o toca em algum
ponto da sua jornada.
EMPATIA: O empático (‘sentir junto’) sente a dor do
outro como se ela fosse sua. Como a dor do outro também dói nele, faz de tudo
para conseguir ajudar, para conseguir resolver o que quer que seja e que esteja
ao seu alcance. A sua meta é parar a dor, diminui-la, ameniza-la ou
interrompe-la. Usa tudo o que estiver á mão para fazer isso.
Martin Heidegger diz que Pathós
em sua origem é disposição afetiva fundamental. Não há como divorciar a dor da disposição
afetiva.
Neste caso, seriam o antipático e
o apático pessoas que não sentem dor, que não sofrem? De forma alguma, porque a
condição humana é marcada por pathós e dela nenhum de nós está imune. Algumas
pessoas até conseguem negar a sua dor de uma forma racional e, talvez, os dois grupos
acima, sejam os que conseguem sentir a dor sem demonstra-la.
Mas no fundo, mesmo que se negue,
ela persiste no centro da vida e irá se manifestar de alguma forma, burlando a
racionalidade e esvaindo solta pelos poros da existência. Uma vez que a dor é
tão generalizada e universal não deveríamos nos ver uns aos outros como seres
qualificados ou desqualificados por conta dela. Ao abordarmos uma outra vivencia
diferente da nossa, que a ferramenta a ser usada não seja a xenofobia.
Porque a verdade é que tomos
doemos, apenas o motivo da dor é diferente. E se todos sofremos não há
intensidade, adjetivo, moralidade nem definição que restrinja, explique, solucione
ou conforte.
A única saída é a empatia. É ela que nos torna
pessoas que demonstram ter um coração e uma alma. O que nos diferencia do mundo
cibernético e robótico, futuro não distante de todos.
Me lembro de um curta que assisti
chamado ‘Perfection’. Uma jovem senhora de 50 anos recorda que toda a sua vida
foi regada pela busca da inerrância ao som macabro de um cronometro cruel que
não para. Até que ela suspira longamente e decide apertar o botão do
cronometro.
O suspiro foi o grito da dor
implorando para ser ouvida. Empatia consigo mesma.
É hora de pratica-la. Com você, com outros, para
que a passagem inexorável do tempo não nos leve a vida que ainda nos resta.
Caleb Mattos.
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