quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Falta um pedaço de mim.


Hoje eu quero lembrar você de duas músicas muito conhecidas. 

Djavan, falando sobre o amor, declara:
“E o coração de quem ama,fica faltando um pedaço”.

Dominguinhos, comentando sobre a saudade de quem ama, afirma:
“É duro, ficar sem você,vez em quando; parece que falta um pedaço de mim”.

Você já sentiu que parece faltar um pedaço de você em você? Isso é perfeitamente natural e não deveria ser para nós uma surpresa. Somos seres incompletos, seres da falta, gente que busca preencher esse vazio que falta, esse pedaço ausente. 

Nós éramos completos quando fomos feitos pelo Criador. Na experiência da completude o vazio não existia, porque falta é justamente a sensação de vazio.
Adão estava só, mas completo. Mas Deus percebeu que sua solidão não era boa. Decidiu fazer para ele uma mulher que lhe correspondesse, que fosse sua amada, sua auxiliar e companhia. Tirou uma das costelas do homem e fez Eva. 

Santo Agostinho comentando esse texto diz que Eva não foi tirada dos pés de Adão, para ser pisada por ele. Nem de sua cabeça, para mandar nele. Mas de seu lado, de junto do seu coração, para ser por ele amada, abraçada e para que ambos em mesmo nível partilhassem da vida e da presença daquele que complementa toda a falta.

Por isso sempre sentimos que falta um pedaço de nós. E ainda que procuremos encher essa falta com tudo que existe, o pedaço novo não encaixa no vão vazio. É como um quebra-cabeças, faltando uma peça, que se perdeu. Vai ficar faltando mesmo. Mas o projeto foi construído dessa maneira.

Imagine se fôssemos absolutamente completos e acabados, sem nada faltar. Se disséssemos que nada nos falta e não precisamos de ninguém. Que nos bastamos neste mundo e que tudo e todos são para nós desnecessários. 

Todos os déspotas e ditadores do mundo que por aqui já passaram e se foram sem deixar saudade se achavam completos. Para eles não faltava a costela. E acreditando na falsa premissa da perfeição de si próprios tinham-se por deuses no mundo dos homens. O seu fim, porém, é a garantia e a confirmação de que faltar um pedaço em nós é necessário para a saúde mental, para a proteção da sociedade e para o equilíbrio em meio a tanta desigualdade.

Paulo escreve no Novo Testamento sobre o amor. Assim como Djavan e Dominguinhos escreveram. Ele poetiza na frase que diz: ‘Agora vemos tudo de modo imperfeito, como um reflexo no espelho, mas então veremos tudo face a face. Tudo o que sei agora é parcial e incompleto (grifo meu) mas conhecerei tudo plenamente, assim como Deus já me conhece plenamente’. 

Então, que a sua falta não o leve a um estado de espírito de rebeldia, nem a uma amargura infantil própria daqueles que acreditam que merecem tudo sem nada faltar. A falta é condição humana. A falta é o que nos torna conscientes de que precisamos uns dos outros.
Caleb Mattos.

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