quarta-feira, 19 de junho de 2019

Antes que a casa caia.



Tudo o que é valioso é construído de dentro para fora. Veja uma casa ou um bebê. Nos alicerces se acha o segredo da estrutura e o quanto de peso irá suportar. No útero se encontra nutrição, segurança e calor para garantir o crescimento até o parto. 

Por isso é que tantos andam desmoronados pela vida. Não cuidam do primordial, a sua alma. Curioso que a palavra ‘ânimo’ vem de alma. Quem anda desanimado é porque descuidou da alma, essa essência que nos mantem vivos, motivados e dispostos. Jesus certa vez falou que não adianta nada ganhar o mundo se com isso perdermos a alma. 

Porque o que é exterior pesa muito sobre nós. Mas sem a alma, que a tudo sustenta, perdemos a uma e a outro. Li sobre a invasão de Jerusalém pela Babilônia nos tempos bíblicos. Percebi que a invasão se deu de dentro para fora. O rei caldeu começou por destruir o templo, depois o palácio real, em seguida as casas, depois os prédios públicos e só por último, os muros da cidade. 

Não teria sido mais logico começar por derrubar os muros? Mas a sua estratégia foi cuidadosamente planejada. Ele queria destruir primeiro a base da fé e da confiança dos israelitas em Deus. Destruído o símbolo de proteção, destruiu todo o resto com facilidade. 

Nosso tempo é caracterizado pela exposição. Somos solicitados a dar respostas, a postar fotos, a dar opiniões sobre tudo, a aparecer, a comparecer, a revelar, a consumir, a amar o que passa. Observe como, ao mesmo tempo, crescem os cursos de coaching, psicanalise, meditação e yoga. 

Estamos adoecidos por dentro em razão de não darmos valor justamente àquilo que é a base de sustentação das relações, da existência e de todos os compromissos de agenda.
Tentamos construir um refúgio superficial em meio a vida mas empregamos para isso a fragilidade da areia do ativismo, um seminário de autoajuda aqui, um fim de semana motivacional ali, uma sessão de encorajamento acolá. Como é que uma casa se sustenta sem reforço no alicerce? 

Nossas constantes rachaduras são a denuncia do descaso com nossa essência. Nossos vazamentos levam junto pouco do que sobra da vitalidade que um dia tivemos. Não dá para morar numa casa muito tempo sem fazer constante manutenção nos sistemas que ela possui. Sem isso, a casa adoece e, nós que moramos nela, também. 

Não são as circunstancias da nossa vida que nos entristecem e desmotivam. O problema é interno. Tempo de manutenção, para que suportemos o que ocorre com um poder que vem do alto e nos conduz, vitoriosos, até o fim da jornada.
Caleb Mattos.

terça-feira, 18 de junho de 2019

ENTRE EVA E MARIA.



Desde muito tempo eu aprendi que o símbolo de fragilidade, de pecado, de indecência, de maus hábitos, enfim, o arquétipo de tudo que é ruim se define em um nome: Eva. Ela foi a principal personagem que causou a destruição do Éden e levou ao caos a humanidade de quem ela é a mãe. Como não a culpar, como não lhe atirar pedras, como não a eleger a vilã de cada dia, a causa de todo descaminho?

 O pobre Adão, vitimado por uma esposa que lhe foi dada, mas não solicitada, teve que arcar com as consequências da compensação amorosa e fim da solidão: quem mandou se sentir sozinho e sem auxiliar? 

Passa o tempo e as filhas de Eva não tem espaço, nome, lugar e direitos. Eram mercadoria a serviço de patriarcas numa cultura que começou lá, mas não terminou aqui. Desde então tudo é culpa da raça evínica. 

A mulher, por sua vez, para ter sua existência reconhecida e sair dos escombros das pedras sobre ela lançadas por todas as culturas do mundo, se revestiu de força e coragem e não podendo contar mais com um Adão escondido atrás da arvore, que abandonando sua virilidade não assume o que faz, preferindo culpar aquela que antes lhe deu prazer e companhia, sai, portanto, Eva da condição de maldita e percorre a todo custo e com muito sacrifício a vereda da afirmação de si mesma, independente de ser apenas uma costela mas, agora, um ser completo, independente, e capaz de construir benefícios, colaborar para o bem e transformar um mundo mergulhado em crise.

 Eva finda seus dias como mancha da História. Mas ela dá à luz uma filha: Maria. E esta jovem, sem relevância ainda num mundo patriarcal, e desconhecida, é escolhida pelos céus para engravidar. E engravida, mas sem um José, filho de Adão. Engravida por ato divino, espiritual e no seu ventre o menino que há de nascer não tem pecado e nem terá. 

Não terá pecado por ter nascido de Maria? Como não terá se é da linhagem de Eva, pecadora? Claro fica que não terá pecado por não nascer de José, por não nascer de Adão, por não nascer daquele que lançou Eva na vergonha, na culpa e abandono. 

Esse é o maior resgate de um nome, de uma raça, de uma condição e de uma pessoa já vistos em todos os tempos. Jesus decide nascer sem a cooperação de José.

 Se Eva foi humilhada, Maria será exaltada. Se Eva recebeu a culpa, Maria portará o perdão que mora no seu ventre. Se Eva é maldita entre todos, Maria será a bendita entre todas as mulheres. Em Eva todos caem. Em Maria, todos renascem. Em Eva, a terra produz espinhos. Em Maria surge uma nova terra. 

Em Eva a morte atinge a todos. Em Maria, a ressurreição vence a morte. De Eva nasce Caim, o primeiro assassino. De Maria nasce o Salvador, que dá vida, salvação e paz. Benditas sois vós, Evas e Marias!
Caleb Mattos.

sexta-feira, 14 de junho de 2019

AMAR É UM VAZIO E UM CHEIO.



Eu tenho percebido que amar é o maior desejo que existe. E que para aquilo que é mais valioso se paga o preço mais alto.

Porque nem sempre amar acontece em águas tranquilas e sim, geralmente, em águas densas. Não me refiro ao tipo de amor de evidencia, que precisa ser mostrado como endosso de bom comportamento, aquele amor que aparece bonito e sorridente e não custa nada. Amor de estagio infantil, onde a gente não conhece nada da vida, nem nada diferente do Bem.

O amor que cresceu, todavia, atravessa avenidas perigosas sempre com riscos e custos. Amar é acreditar que vale a pena investir em alguém, ainda que a retribuição seja quase nula ou inexistente até. 

O amor do tipo que não desistiu da Humanidade apesar de enxerga-la em toda sua nudez rude, grosseira e destituída do belo.
Já amei muita gente e foi tão bom que isso me motivava a viver e dedicar-me ao ser humano com leveza e integralidade. 

Amei com amor de criança quando não via maldade alguma, apesar de ela existir. Amei com amor adulto, calando-me para não retribuir, silenciando para não agredir, sofrendo para não impor alguma dor.

E perdi muito pelo amor. Mais do que algo a ser mensurado, perdi até por um tempo a crença neste que é o motivo do existir e sem o qual tudo se perde. Todo que ama doa, e por doar muito se esvazia. E por se esvaziar, sem reposição devida, soa como eco de memórias, às vezes, somente delas.

Meu desafio de hoje é olhar o amor com o carinho que ele merece. Ele não se finda, não se esgota, não se extingue objetivamente. O amor jamais acaba. 

E por ser de tal qualidade eterna o amor, eu creio que ele volta, meio assim como o vento que sopra onde quer e que se faz brisa na pele quando menos se espera.
Caleb Mattos.