Desde muito tempo eu aprendi que
o símbolo de fragilidade, de pecado, de indecência, de maus hábitos, enfim, o arquétipo
de tudo que é ruim se define em um nome: Eva. Ela foi a principal personagem
que causou a destruição do Éden e levou ao caos a humanidade de quem ela é a
mãe. Como não a culpar, como não lhe atirar pedras, como não a eleger a vilã de
cada dia, a causa de todo descaminho?
O pobre Adão, vitimado por uma esposa que lhe
foi dada, mas não solicitada, teve que arcar com as consequências da compensação
amorosa e fim da solidão: quem mandou se sentir sozinho e sem auxiliar?
Passa o tempo e as filhas de Eva
não tem espaço, nome, lugar e direitos. Eram mercadoria a serviço de patriarcas
numa cultura que começou lá, mas não terminou aqui. Desde então tudo é culpa da
raça evínica.
A mulher, por sua vez, para ter sua existência reconhecida e sair
dos escombros das pedras sobre ela lançadas por todas as culturas do mundo, se revestiu
de força e coragem e não podendo contar mais com um Adão escondido atrás da
arvore, que abandonando sua virilidade não assume o que faz, preferindo culpar
aquela que antes lhe deu prazer e companhia, sai, portanto, Eva da condição de maldita
e percorre a todo custo e com muito sacrifício a vereda da afirmação de si
mesma, independente de ser apenas uma costela mas, agora, um ser completo,
independente, e capaz de construir benefícios, colaborar para o bem e transformar
um mundo mergulhado em crise.
Eva finda seus dias como mancha da História.
Mas ela dá à luz uma filha: Maria. E esta jovem, sem relevância ainda num mundo
patriarcal, e desconhecida, é escolhida pelos céus para engravidar. E
engravida, mas sem um José, filho de Adão. Engravida por ato divino, espiritual
e no seu ventre o menino que há de nascer não tem pecado e nem terá.
Não terá pecado por ter nascido
de Maria? Como não terá se é da linhagem de Eva, pecadora? Claro fica que não
terá pecado por não nascer de José, por não nascer de Adão, por não nascer daquele
que lançou Eva na vergonha, na culpa e abandono.
Esse é o maior resgate de um
nome, de uma raça, de uma condição e de uma pessoa já vistos em todos os tempos.
Jesus decide nascer sem a cooperação de José.
Se Eva foi humilhada, Maria será
exaltada. Se Eva recebeu a culpa, Maria portará o perdão que mora no seu
ventre. Se Eva é maldita entre todos, Maria será a bendita entre todas as
mulheres. Em Eva todos caem. Em Maria, todos renascem. Em Eva, a terra produz
espinhos. Em Maria surge uma nova terra.
Em Eva a morte atinge a todos. Em
Maria, a ressurreição vence a morte. De Eva nasce Caim, o primeiro assassino.
De Maria nasce o Salvador, que dá vida, salvação e paz. Benditas sois vós, Evas
e Marias!
Caleb Mattos.
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