Recentemente eu estudei Neemias. Ele conta suas memórias em um livro que leva seu nome. No tempo em que os persas dominavam o mundo também governavam a terra de seus pais. Neemias servia o rei como copeiro. Era responsável em provar a bebida antes do monarca verter o copo. Profissão de status e também de risco.
Era preciso estar feliz na presença do rei
para lhe dar a bebida. Mas um dia Neemias recebe a carta de seu irmão. Seu país
está devastado, a cidade queimada, ruínas por todo o lado e seu povo passando
por humilhação e dificuldades. Lida a carta, Neemias fica triste, passa dias
orando, sem comer e chorando. Até que toma coragem e pede ao rei um tempo para
voltar à sua pátria e ajudar da forma que for possível.
Então o soberano o autoriza
e lhe fornece material, dinheiro e cartas de recomendação para que circule
naqueles domínios em segurança. Ele fica incomodado com o sofrimento. E este
incômodo não o faz criar um movimento político-revolucionário. Seu incomodo
pessoal o faz abrir mão de seu conforto e estabilidade social por um tempo para
amar de maneira concreta.
Tem muita gente que
entende o cristianismo como um movimento zen. Uma anestesia que fecha os olhos para
a realidade e nos insere num tipo de paraíso místico cheio de palavras e gestos
que abrem portais mágicos para um tipo de mundo ideal, onde não se participa de
nada que traga dor e nem incomode a paz. Aprendi que Cristo deixou seu conforto
celestial, a homenagem diuturna dos anjos, a plenitude da perfeição eterna, e
desceu á nossa terra repleta de necessitados que não sabem discernir a mão
direita da esquerda.
Que amou concretamente
fornecendo pão, abraço, palavra e companhia. Nunca levantou bandeira a favor ou
contra Cesar. Não tinha tempo a perder com isso. O incomodo dos que sofriam o
incomodava. E ele se movia para onde quer que havia um pedido. A fé cristã não é
um anestésico, ela é um colírio. Não visa ganhar um lugar na corte do rei, mas
ter mãos ocupadas em prol da reconstrução de quem foi destruído.
Caleb Mattos