Estas palavras do apostolo Paulo são motivadas por uma enfermidade que ele chama de ‘espinho na carne’. Orou por esta enfermidade por 3 vezes mas não foi curado. Deus lhe diz estas palavras: “Minha graça é suficiente para você”. Diante, portanto, de um sofrimento físico, Paulo recebe a revelação do que a Graça de Deus é capaz de fazer. Ela é uma experiência manifestada na hora da necessidade e significa a concessão da bondade de Deus para aqueles que padecem.
Graça na Biblia tem o sentido de ajuda, socorro e intervenção divina. O contraste do texto está nas palavras ‘espinho’ e ‘Graça’. Enquanto o espinho aponta para a consequencia do desmoronamento humano depois da Queda no Èden, a Graça sinaliza o ato de Deus curar as feridas destes espinhos. Os espinhos são o paradigma da condição humana; a Graça é a manifestação de Deus no mundo.
Desde o Eden, espinho e Graça convivem lado a lado, e mesmo na maldade humana, a presença da Graça é a evidencia de que nem tudo está perdido. Nós habituamos a construir uma visão de mundo extremamente ruim e pessimista, que exclui a possibilidade da presença e atuação de Deus. Os mais céticos negam Sua existência; os menos otimistas acreditam que ele criou este mundo mas não interfere em nada do que acontece. A cosmovisão bíblica, no entanto, trata da soberania de Deus sobre todos os acontecimentos da Historia.
Deus transforma o que acontece em algo melhor e inesperado. Quando se julgava que os judeus eram um povo extinto no pós guerra, o Estado de Israel é criado em 1948. Um povo condenado à escravidão nos séculos 18 e 19, sem futuro e esperança, arrancados da Africa para servirem de mão de obra no mundo, deste povo Deus escolhe um que se torna presidente da nação mais importante da Terra, um homem de origem africana com sobrenome árabe. Estes e muitos outros fatos da Historia atestam a convivência da Graça ao lado dos espinhos.
“Minha graça é suficiente para você”.
Aurelio define a palavra “suficiente” como ‘aquilo que está entre o bom e o sofrivel’. A Graça de Deus é esta balança que equilibra a existência nos permitindo viver satisfeitos nos bons momentos e também nas horas difíceis. Nossa capacidade de reação é extremamente reduzida: nos alegramos nos bons momentos, mas nos maus perdemos a alegria e a esperança. Não existe em nós nenhum instrumento que nos permita encontrar um sentido, uma razão e uma esperança na hora da dor. Isso tem que ser acrescentado por Deus.
A Graça por isso é uma dádiva, uma concessão divina e não parte da nossa genética. È por causa da Graça que Paulo pode dizer em outro texto: “Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, sejam bem-alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece”. Filipenses 4:12-13. Olhando para nós encontramos motivos de sobra para desencanto e ausência de perspectivas. Mas olhando para Deus e confiando nele nós começamos a receber tudo o que é necessário para passar das sombras para a luz; da tristeza para a alegria; do lamento para o canto.
“Toda vez que o mundo (e nós nele) surpreende, saindo de sua constante miséria interesseira, vaidosa, traiçoeira, monotonamente previsível, eu sinto o cheiro da graça”. Luiz Felipe Pondé- filósofo.
“O meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”.
Fraqueza lembra o limite humano e sua incapacidade de tocar a própria vida. A restrição humana é evidente na falta de respostas para os problemas mais sérios da Humanidade como drogas, guerras, criminalidade, corrupção politica. Temos fóruns intermináveis de discussão e eventos mundiais que tentam achar uma saída. Mas tudo permanece no nível do projeto, do diálogo, das boas idéias. Por uma razão muito simples: quem vai convencer o ser humano a mudar de atitude? Um decreto, uma lei?
È neste momento que Deus entra no cenário com sua proposta eficaz : a Graça. Porque a Graça vai operar na fraqueza e sobre ela para revesti-la de um poder celestial. Foi assim que aconteceu com os discípulos de Jesus. Só a Graça explica a mudança de Pedro, um arrogante em um servo , que pede para morrer crucificado de cabeça para baixo por sua indignidade. È a Graça que tornou João, filho do trovão, no apostolo do amor. A mesma Graça que levou Zaqueu a dividir sua riqueza com os pobres.
Graça que transformou Paulo, de perseguidor de cristãos em mensageiro do Evangelho. A Graça que motivou Francisco de Assis a rejeitar a herança dos bens dos seus pais e fundar uma comunidade de assistência aos pobres e marginalizados. A Graça que fez Martin Luther King a pregar contra a discriminação dos negros e a morrer por aquilo que pregava. Deus não precisa de pessoas fortes e corajosas; ele só precisa de pessoas frágeis e dependentes dele.
Ele não exige que sua fé seja do tamanho de um monte; basta que ela seja pequena como grão de mostarda. O poder não está na sua fé, mas na Graça de Deus. Não é você que derruba gigantes, é Deus quem os derrota. Não foi a pedrinha de Davi que derrubou Golias, e sim a mão forte de Deus. A Graça é suficiente para todas as fraquezas que nós temos.
Não acredite em seu potencial, acredite no poder ilimitado de Deus. Paulio termina o texto dizendo: “Pois quando sou fraco é que sou forte”. A nossa fraqueza é o holofote que acende para revelar a Graça de Deus. O importante é quem está no palco e faz o espetáculo acontecer; nós somos tão somente os holofotes que mostram ao mundo o Deus que entra em cena para salvar, socorrer e amar.