“Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros”. João 13:34-35.
O que chama a atenção nas palavras de Jesus é ele afirmar que está implementando um ‘novo’ mandamento: o amor. No entanto, este é um mandamento que desde o principio fez parte da Lei de Moises. O que provavelmente Jesus diz é que este mandamento não é novo no sentido de algo inédito, mas novo no sentido da aplicabilidade. Novo porque Ele é quem o praticou da maneira como Deus sempre quis.
Os rabinos diziam que era preciso amar o próximo e odiar os inimigos: Mateus 5.43-44. Jesus reformula o mandamento, ampliando a noção de ‘próximo’ e incluindo nesta categoria até mesmo os inimigos. A essência da questão é amar como Deus ama, sem separatismo e discriminação. Deus envia o sol e a chuva sobre maus e bons, justos e injustos: Mateus 5:45. Portanto, o ‘próximo’ para Deus é tanto o que se aproxima dele como o que se distancia da sua presença.
Mas a ambos Ele trata com amor incondicional e maduro. Assim, ao falar do mandamento do amor, Jesus não está falando nada de novo mas apenas acrescentando um modelo correto: ‘como eu vos amei’. Porque existem maneiras de amar que não se assemelham em nada ao tipo de amor de Jesus. Uma delas era a dos fariseus: amar só os irmãos de fé e de raça. Isso lhes dava a pretensão de controlar o amor, restringindo-lhe a ação e amplitude.
Um grande erro, já que o verdadeiro amor não pode se limitar a nenhum tipo de categoria, moralidade ou retribuição. O amor é livre para se oferecer à todas as pessoas, independente da resposta que elas derem. Por isso, ao falar sobre este assunto, Jesus não diz que qualquer tipo de amor é saudável, bíblico, terapêutico e bom.
Há amores patológicos, baseados em troca, em mérito, em interesse egocêntrico. Mas o amor segundo Deus é baseado num modelo. O modelo de Jesus: ‘Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros'.
Como é o modelo do amor de Jesus?
1. Ele nos aceita incondicionalmente.
No próprio ato da escolha dos discípulos encontramos este principio de Jesus. Ele convida a segui-lo os mais improváveis lideres que alguém escolheria nos moldes atuais de gestão de pessoas. Todos eles marcados por incoerências, preconceitos, arrogância e segundas intenções: Pedro(o arrogante ); Tiago e João( ódio dos samaritanos ); Tomé ( o desconfiado ); Judas ( o traidor ); Simão Zelote( o guerrilheiro); Mateus ( o cobrador de impostos ); Natanael ( o preconceituoso ). Jesus amou à todos eles, tendo paciência com suas fraquezas e investindo em sua transformação.
Jesus visava nas pessoas não o que elas eram, mas em quem poderiam se tornar se fossem amadas de verdade. Jesus não tinha medo de amar. Ele poderia correr o risco da decepção com pessoas, como de fato aconteceu quando todos os seus discípulos fugiram na hora do seu julgamento. Quando Judas o entregou pelas moedas. Quando o jovem rico decide rejeita-lo por causa do dinheiro. Quando apenas um leproso volta a agradecer depois de ter curado dez.
Amar como Jesus é estar preparado para receber a rejeição quando ela acontecer; é não se importar com elogios, reconhecimento, gratidão, mas investir tudo em pessoas, orando para que Deus venha transforma-las e lhes dar um sentido para a vida.
Amar, por isso, não pode ser confundido com conveniência: tratar bem e investir somente naqueles que nós sabemos que irão nos dar algum tipo de retorno no investimento. O amor de Jesus nos ensina a não pensarmos em nós quando amamos: “O amor não procura os seus interesses”. 1 Corintios 13.
2. Ele age com bondade.
Logo depois de ter ressuscitado, quando então passou pelo julgamento e a cruz sem a presença de nenhum dos discípulos que o abandonaram, Jesus aparece na praia onde estão todos eles, prepara um peixe e convida todos a comerem. Todos permanecem um tempo calados, sem ter o que dizer. Mas o ato de Jesus voltar para encontra-los e lhes preparar uma refeição já diz tudo. Ele é incapaz de fazer o mal, praticar a vingança, punir ou se indispor.
Porque a essência do amor de Jesus é a bondade. É assim que ele trata inclusive os fariseus que o tempo todo o acusam, blasfemam dele, inventam mentiras a seu respeito. Na série de ‘ais’ que ele profere sobre os escribas e fariseus não existe um ranço nas palavras. Mesmo ao usar a palavra ‘hipocritas’ ele o faz no sentido grego – os que se escondem atrás de máscaras porque tem medo de mostrar o que há em seus corações.
O curioso é que estes ‘ais’ não são um termo jurídico, uma sentença, mas um lamento, uma expressão de pena, de dó, diante da dureza do coração e da cegueira que eles viviam. Isso significa que o amor de Jesus é maduro o suficiente para não se deixar afetar pela reação inadequada das pessoas. È um amor que não se modela pelo outro, mas que influencia positivamente acreditando que, fazendo isso, estará efetivamente vencendo todo o mal.
A luta do amor não é direcionada contra pessoas mas contra a maldade em todas as suas formas e manifestações. È capaz de separar o pecado do pecador; o que pratica o mal do mal como essência. Não entende que as pessoas são o inimigo e sim que estão sendo joguetes na mão do opositor de Deus. Por isso é capaz de amar e tratar com bondade ao enxergar que as pessoas estão doentes e só o poder do amor pode cura-las.
Ele mesmo disse aos discípulos: ”Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos”. João 15:13. O amor, no paradigma de Jesus é marcado sobretudo pela doação. Ao decidir nos amar Deus não negocia conosco; não oferece uma troca; não pede uma compensação. Ele simplesmente oferece o melhor para pessoas que não tem a menor condição de retribuir.
O amor de Deus trabalha pela via da conquista: ele nos surpreende com seu gesto de ofertar tudo quanto precisamos, nunca nos tratando mal, nem nos punindo por nossos erros e pecados. È por causa desta doação que somos atraídos para Deus, e afinal, decidimos pertencer a Ele, segui-lo e fazer sua vontade. A generosidade é uma das marcas diferenciais do amor de Jesus.
Ele não pode retribuir o mal com o mal porque é da sua essência dar somente o que possui. Ele não tem vingança, ressentimentos, nem amarguras. Ele desconhece o que é ‘maltratar’. Sua generosidade é a qualidade que diferencia seu amor dos outros tipos de amor que existem. Por isso, tratar bem só os que nos tratam bem não é amor, é egoísmo. Somente a assimilação deste amor de Jesus pode nos converter em pessoas que amam com ato frequente de generosidade dispensada a todos, sem exceção.
Nós, via de regra, amamos as pessoas de acordo com um modelo humanista e falho. Deus nos convida a aprender, com Ele, a amar as pessoas de maneira madura, oferecendo aceitação, bondade e generosidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário