Existem vários tipos de martelo: os que são usados em cirurgias, os martelos domésticos para
pequenos serviços, o martelo culinário para bater carne, o martelo de borracha
usado em consertos de pneus e os martelos pneumáticos empregados nas
industrias. Eles diferem por tamanho e utilização e são específicos para cada
tipo de tarefa.
Todos nós já sentimos a dor de uma martelada no dedo ou de um
martelo caindo em nosso pé. Se nos limitarmos a analisar apenas o martelo
domestico podemos aprender com ele algumas lições uteis sobre prevenção de
acidentes emocionais no convívio com aqueles que amamos.
Em primeiro lugar, o martelo sempre se
encontra numa posição de superioridade – há sempre algo para ser batido,
encaixado e perfurado – mas é sempre ele quem executa este serviço.
Pessoas-martelo acreditam que sua função no mundo é colocar os outros em seus
devidos lugares. Eles se consideram responsáveis por dar os golpes que os
outros precisam levar para acordar, chegar à maturidade ou encontrar a lucidez.
Em segundo lugar, pessoas-martelo
ou estão batendo ou arrancando aquilo que fizeram na força. Raramente o prego
sai reto depois que o martelo o remove com a outra parte do cabo. Pessoas assim
até pedem perdão pelo que fizeram, mas foram tão agressoras que deixaram os
demais tortos nas suas emoções e sentimentos.
Em terceiro lugar, pessoas-martelo não se
importam se erram o alvo – elas miram no prego mas se acertam o dedo nem por
isso se importam – bater no dedo foi um mero desvio de trajetória, um simples
detalhe e nada mais que isso. Elas raramente
utilizam o bom senso e a razão – preferem usar a força e a imposição para lidar com seus relacionamentos.
Dois discípulos de Jesus tinham a
personalidade de martelos logo que começaram a aprender com o Mestre. Tiago e
João, que eram filhos de um pescador e irmãos, agiam como se a mensagem do
Evangelho tivesse que ser crida por todos, ainda que fosse por métodos não
convencionais. Uma das passagens que ilustra a atitude destes irmãos se
encontra no Evangelho de Lucas capitulo 9, versos 51 a 56:
“E aconteceu que, completando-se
os dias para a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a
Jerusalém. E mandou mensageiros adiante
de si; e, indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos, para lhe prepararem
pousada. Mas não o receberam, porque ele ia para Jerusalém. Tiago e João, vendo
isto, disseram: Senhor, queres que peçamos para que desça fogo do céu e os
consuma? Voltando-se, porém, Jesus, repreendeu-os,
e disse: Vocês não sabem de que espécie de espírito vocês são, pois o Filho do
homem não veio para destruir a vida dos
homens, mas para salvá-los. E foram para outro povoado.”
Jesus havia dado claras
instruções aos discípulos sobre a pregação do Evangelho. Ele disse que se eles
não fossem bem recebidos numa casa ou cidade, deveriam simplesmente ir embora
com educação sem ofender, julgar ou condenar as pessoas pela falta de fé e acolhimento.
Mas, quando eles passam pela cidade de Samaria, tem a oportunidade de por em
pratica um grande teste. Porque judeus e samaritanos eram inimigos históricos
desde muito tempo. A mulher samaritana que deu água para Jesus beber estranha
sua presença pouco tempo antes na cidade e mais ainda que ele estivesse
conversando com ela. O rabino Hillell costumava ensinar que todo judeu deveria
agradecer diariamente a Deus por não ter nascido animal, nem mulher, nem
samaritano.
O samaritano era um tipo mestiço,
como o brasileiro, uma mistura de raças que incluía o sangue judeu. Mas eles
eram odiados justamente por não serem considerados sangue puro. Quando os
samaritanos se recusam receber Jesus na sua cidade, ele dá as costas e começa a
ir embora, mas Tiago e João querem defende-lo.
Eles ficam irritados com as
pessoas por um duplo motivo: por serem de raça diferente e por terem se negado
a ouvir a mensagem da salvaçao. Então, como todo martelo, eles encontram uma
solução rápida e indolor – uma martelada certeira nos samaritanos – que Deus
envie fogo do céu e queime tanto a cidade como todos os seus moradores, e que,
de sobra, destrua a raça samaritana de uma vez por todas. Por que eles agem
dessa forma? Encontramos pelo menos 3 motivos para esta reação tão irada dos
irmãos, que ilustram a maneira como pessoas-martelo pensam a vida e enxergam o
mundo...
1. Pessoas-martelo
odeiam ser contrariadas.
Quando Tiago e
João percebem que os samaritanos não querem ouvir Jesus eles levam isso para o
lado pessoal porque era também proposito deles convencer os samaritanos a
respeito da sublimidade do Evangelho. Com a recusa eles se sentem na obrigação
de fazer algo para punir ou se vingar já que o desejo deles não foi satisfeito.
As pessoas-martelo tem muita dificuldade em ouvir um ‘não’ como resposta a seus
argumentos e idéias porque acreditam que, recusando sua opinião as pessoas as
estão rejeitando, deixando de ama-las.
Jesus disse aos dois
irmãos que eles queriam matar os samaritanos – mas a sua missão era justamente
o oposto – Ele veio para salvar pessoas. Quando oram pelo incêndio de Samaria,
Tiago e João estão se colocando contra a própria missão de Jesus e o objetivo
pelo qual ele os chamou para serem seus colaboradores.
Estavam sabotando o
próprio plano do Evangelho e colocando em risco tudo quanto Jesus construiu e
consolidou com tanto sacrifício. Por esta razão, quem se identifica como
martelo tem que tomar cuidado para não prejudicar nem a si mesmo, nem os planos
que pretende realizar, nem as pessoas à sua volta que contam com sua
colaboração.
2. Pessoas-martelo
agem por impulso.
Ao pedir fogo do
céu sobre a cidade os dois irmãos não refletiram na sua oração. Uma oração
assim jamais seria ouvida e muito menos atendida por Deus. Se Deus fizesse
conforme eles pediram até eles, e inclusive Jesus, seriam queimados, porque todos
eles estavam dentro da cidade de Samaria. Pedir a destruição da cidade naquele
lugar era pedir a morte para si mesmo. São palavras irrefletidas e sem nexo.
Isto revela que as pessoas-martelo são extremamente passionais.
Pedro e João
foram chamados, como também os outros discípulos de Jesus, para refletir o
caráter do Mestre em suas palavras e em seus comportamentos. O problema verdadeiro dos samaritanos era a falta de fé – e
isso é uma questão que só o Espirito Santo pode resolver.A rejeição era o problema – e isso Deus iria tratar no tempo certo.
Como de fato aconteceu através da pregação de Felipe tempos depois, quando a
cidade praticamente toda se converteu a Jesus.
Mas as pessoas
de Samaria não eram o problema, eram apenas pessoas de quem se devia ter
compaixão e por quem se devia orar, nada mais. Por isso é que Jesus afirma que
veio salvar a vida das pessoas. Porque é preciso aprender a separar o erro
daquele que errou, o pecado daquele que pecou, a injustiça da pessoa que a
praticou. A pessoa nunca é o verdadeiro problema, e sim, a sua atitude, o seu
comportamento, seu jeito de abordar os acontecimentos e as suas reações.
Como lidar com
pessoas-martelo.
A palavra final
de Jesus para Tiago e João embasa a maneira como precisamos lidar com aquelas
pessoas do nosso circulo de convivência que agem como martelos:
“Voltando-se,
porém, Jesus, repreendeu-os, e disse:
Vocês não sabem de que espécie de espírito vocês são, pois o Filho do homem não
veio para destruir a vida dos homens,
mas para salvá-los. E foram para outro povoado.”
Pessoas-martelo
precisam ser repreendidas mas com amor e carinho. È preciso chamar-lhes a
atenção para suas atitudes que prejudicam, primeiro a elas mesmas e depois os
que estão à sua volta. Como tem dificuldade para escutar é bom não se deixar
pressionar por suas palavras, pressa e jogo emocional. Como são dominadas pela
emoção, a melhor medida é não perder a paciência com elas e mostrar por meio de
argumentos racionais outras opções que elas não estão enxergando. È por isso
que Jesus diz que eles não sabem de que espécie de espirito são. Porque o seu
Espirito é de amor e não de ódio, de tolerância e não de vingança.
Pessoas-martelo precisam aprender que as pessoas são o bem mais precioso
que existe, mais até do que qualquer trabalho, tarefa ou responsabilidade.
Tiago e João queriam que os samaritanos cressem de qualquer jeito em Jesus,
ou por convicção pessoal ou até pela
violência e medo de serem queimados. A tarefa – pregar o Evangelho – estava
acima das vidas.
Eles não
entenderam que odiar alguém é contradizer a própria palavra de Deus que se
pretende anunciar. Ajude as pessoas-martelo a valorizar os momentos de
conversa, de bate-papo, de convivios informais, para que elas não sacrifiquem
pessoas no ambiente de trabalho, nem na igreja, nem na familia.