terça-feira, 24 de abril de 2012

MARTELO


                     

                      Existem vários tipos de martelo:  os  que são usados em cirurgias, os martelos domésticos para pequenos serviços, o martelo culinário para bater carne, o martelo de borracha usado em consertos de pneus e os martelos pneumáticos empregados nas industrias. Eles diferem por tamanho e utilização e são específicos para cada tipo de tarefa.

                         Todos nós já sentimos a dor de uma martelada no dedo ou de um martelo caindo em nosso pé. Se nos limitarmos a analisar apenas o martelo domestico podemos aprender com ele algumas lições uteis sobre prevenção de acidentes emocionais no convívio com aqueles que amamos.

                     Em primeiro lugar, o martelo sempre se encontra numa posição de superioridade – há sempre algo para ser batido, encaixado e perfurado – mas é sempre ele quem executa este serviço. Pessoas-martelo acreditam que sua função no mundo é colocar os outros em seus devidos lugares. Eles se consideram responsáveis por dar os golpes que os outros precisam levar para acordar, chegar à maturidade ou encontrar a lucidez.

                  Em segundo lugar, pessoas-martelo ou estão batendo ou arrancando aquilo que fizeram na força. Raramente o prego sai reto depois que o martelo o remove com a outra parte do cabo. Pessoas assim até pedem perdão pelo que fizeram, mas foram tão agressoras que deixaram os demais tortos nas suas emoções e sentimentos.

                   Em terceiro lugar, pessoas-martelo não se importam se erram o alvo – elas miram no prego mas se acertam o dedo nem por isso se importam – bater no dedo foi um mero desvio de trajetória, um simples detalhe e nada mais que isso. Elas raramente utilizam o bom senso e a razão – preferem usar a força e  a imposição para lidar com seus relacionamentos.


                   Dois discípulos de Jesus tinham a personalidade de martelos logo que começaram a aprender com o Mestre. Tiago e João, que eram filhos de um pescador e irmãos, agiam como se a mensagem do Evangelho tivesse que ser crida por todos, ainda que fosse por métodos não convencionais. Uma das passagens que ilustra a atitude destes irmãos se encontra no Evangelho de Lucas capitulo 9, versos 51 a 56:

               “E aconteceu que, completando-se os dias para a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém.  E mandou mensageiros adiante de si; e, indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos, para lhe prepararem pousada. Mas não o receberam, porque ele ia para Jerusalém. Tiago e João, vendo isto, disseram: Senhor, queres que peçamos para que desça fogo do céu e os consuma? Voltando-se, porém,  Jesus, repreendeu-os, e disse: Vocês não sabem de que espécie de espírito vocês são, pois o Filho do homem não veio para destruir a vida  dos homens, mas para salvá-los. E foram para outro povoado.”


                       Jesus havia dado claras instruções aos discípulos sobre a pregação do Evangelho. Ele disse que se eles não fossem bem recebidos numa casa ou cidade, deveriam simplesmente ir embora com educação sem ofender, julgar ou condenar as pessoas pela falta de fé e acolhimento. Mas, quando eles passam pela cidade de Samaria, tem a oportunidade de por em pratica um grande teste. Porque judeus e samaritanos eram inimigos históricos desde muito tempo. A mulher samaritana que deu água para Jesus beber estranha sua presença pouco tempo antes na cidade e mais ainda que ele estivesse conversando com ela. O rabino Hillell costumava ensinar que todo judeu deveria agradecer diariamente a Deus por não ter nascido animal, nem mulher, nem samaritano.

                O samaritano era um tipo mestiço, como o brasileiro, uma mistura de raças que incluía o sangue judeu. Mas eles eram odiados justamente por não serem considerados sangue puro. Quando os samaritanos se recusam receber Jesus na sua cidade, ele dá as costas e começa a ir embora, mas Tiago e João querem defende-lo.   

              Eles ficam irritados com as pessoas por um duplo motivo: por serem de raça diferente e por terem se negado a ouvir a mensagem da salvaçao. Então, como todo martelo, eles encontram uma solução rápida e indolor – uma martelada certeira nos samaritanos – que Deus envie fogo do céu e queime tanto a cidade como todos os seus moradores, e que, de sobra, destrua a raça samaritana de uma vez por todas. Por que eles agem dessa forma? Encontramos pelo menos 3 motivos para esta reação tão irada dos irmãos, que ilustram a maneira como pessoas-martelo pensam a vida e enxergam o mundo...




                    1. Pessoas-martelo odeiam ser contrariadas.
                         Quando Tiago e João percebem que os samaritanos não querem ouvir Jesus eles levam isso para o lado pessoal porque era também proposito deles convencer os samaritanos a respeito da sublimidade do Evangelho. Com a recusa eles se sentem na obrigação de fazer algo para punir ou se vingar já que o desejo deles não foi satisfeito. As pessoas-martelo tem muita dificuldade em ouvir um ‘não’ como resposta a seus argumentos e idéias porque acreditam que, recusando sua opinião as pessoas as estão rejeitando, deixando de ama-las.

                      Jesus disse aos dois irmãos que eles queriam matar os samaritanos – mas a sua missão era justamente o oposto – Ele veio para salvar pessoas. Quando oram pelo incêndio de Samaria, Tiago e João estão se colocando contra a própria missão de Jesus e o objetivo pelo qual ele os chamou para serem seus colaboradores. 

                Estavam sabotando o próprio plano do Evangelho e colocando em risco tudo quanto Jesus construiu e consolidou com tanto sacrifício. Por esta razão, quem se identifica como martelo tem que tomar cuidado para não prejudicar nem a si mesmo, nem os planos que pretende realizar, nem as pessoas à sua volta que contam com sua colaboração.



                           2. Pessoas-martelo agem por impulso.
                       Ao pedir fogo do céu sobre a cidade os dois irmãos não refletiram na sua oração. Uma oração assim jamais seria ouvida e muito menos atendida por Deus. Se Deus fizesse conforme eles pediram até eles, e inclusive Jesus, seriam queimados, porque todos eles estavam dentro da cidade de Samaria. Pedir a destruição da cidade naquele lugar era pedir a morte para si mesmo. São palavras irrefletidas e sem nexo. Isto revela que as pessoas-martelo são extremamente passionais.

              Acreditam em tudo o que mexe com suas emoções mesmo que seja falso e ardilosamente produzido.  Elas podem se decepcionar profundamente e com frequências nos relacionamentos porque a única voz que escutam é o som dos sentimentos. Entre refletir e sentir, elas sempre preferem a segunda opção.

                3. Pessoas-martelo confundem problemas com pessoas.
                        Pedro e João foram chamados, como também os outros discípulos de Jesus, para refletir o caráter do Mestre em suas palavras e em seus comportamentos. O problema verdadeiro dos samaritanos era a falta de fé – e isso é uma questão que só o Espirito Santo pode resolver.A rejeição era o problema – e isso Deus iria tratar no tempo certo. Como de fato aconteceu através da pregação de Felipe tempos depois, quando a cidade praticamente toda se converteu a Jesus.


                 Mas as pessoas de Samaria não eram o problema, eram apenas pessoas de quem se devia ter compaixão e por quem se devia orar, nada mais. Por isso é que Jesus afirma que veio salvar a vida das pessoas. Porque é preciso aprender a separar o erro daquele que errou, o pecado daquele que pecou, a injustiça da pessoa que a praticou. A pessoa nunca é o verdadeiro problema, e sim, a sua atitude, o seu comportamento, seu jeito de abordar os acontecimentos e as suas reações.

             Pessoas-martelo, ao confundirem pessoas com problemas agem com crueldade porque não dão aos outros a oportunidade de se arrependerem e mudarem de  atitude. Temos que atacar o problema certo se não queremos começar a dar marteladas no dedo, em vez de martelar os pregos.


                Como lidar com pessoas-martelo.
                     A palavra final de Jesus para Tiago e João embasa a maneira como precisamos lidar com aquelas pessoas do nosso circulo de convivência que agem como martelos:

“Voltando-se, porém,  Jesus, repreendeu-os, e disse: Vocês não sabem de que espécie de espírito vocês são, pois o Filho do homem não veio para destruir a vida  dos homens, mas para salvá-los. E foram para outro povoado.”



                       Pessoas-martelo precisam ser repreendidas mas com amor e carinho. È preciso chamar-lhes a atenção para suas atitudes que prejudicam, primeiro a elas mesmas e depois os que estão à sua volta. Como tem dificuldade para escutar é bom não se deixar pressionar por suas palavras, pressa e jogo emocional. Como são dominadas pela emoção, a melhor medida é não perder a paciência com elas e mostrar por meio de argumentos racionais outras opções que elas não estão enxergando. È por isso que Jesus diz que eles não sabem de que espécie de espirito são. Porque o seu Espirito é de amor e não de ódio, de tolerância e não de vingança.


                 Pessoas-martelo precisam aprender que as pessoas são o bem mais precioso que existe, mais até do que qualquer trabalho, tarefa ou responsabilidade. Tiago e João queriam que os samaritanos cressem de qualquer jeito em Jesus, ou  por convicção pessoal ou até pela violência e medo de serem queimados. A tarefa – pregar o Evangelho – estava acima das vidas.



                       Eles não entenderam que odiar alguém é contradizer a própria palavra de Deus que se pretende anunciar. Ajude as pessoas-martelo a valorizar os momentos de conversa, de bate-papo, de convivios informais, para que elas não sacrifiquem pessoas no ambiente de trabalho, nem na igreja, nem na familia.


Nenhum comentário:

Postar um comentário