terça-feira, 17 de abril de 2012

TRENA.



         
                       Pessoas-trena são aquelas que julgam os outros por seus próprios padrões de retidão. Dizem que você sempre está aquém do que deveria, que não se esforçou o suficiente, nem fez o melhor. São perfeccionistas e críticos e se iludem achando que as pessoas estarão se enquadrando no molde que elas próprias construíram. 

                   Pessoas assim julgam os outros com muita rapidez, pois seus critérios não são isentos mas carregados de expectativas que elas criaram sobre o comportamento humano.

 Algumas características presentes nas pessoas-trena: 

1) Toda trena é graduada em metros, centímetros e milímetros. Nada escapa da pessoa que tem este comportamento – são observadores dos mínimos defeitos de tal maneira que nada passa despercebido no seu olhar fiscalizador. 

2) A trena pode ser usada com varias finalidades – desde uso domestico até medições topográficas. Em qualquer lugar e para qualquer objetivo pretendido se usa uma. Pessoas-trena estão presentes em todos os lugares e em todos os relacionamentos. Não há como evita-las, nem como escapar da presença delas.


3) Nas medições a serem feitas a trena sempre parte de um marco zero. A partir daí se mede a extensão que se deseja. Pessoas-trena não precisam de um motivo para medir os outros; elas usam seus marcos-zero, ou seja, mesmo que não achem nada para falar, nenhum motivo verdadeiro, mesmo assim, elas vão continuar medindo os demais.  

Uma das passagens bíblicas que ilustram este tipo de comportamento é uma parábola contada por Jesus sobre a oração de dois homens que certo dia foram ao templo para buscar a Deus. Um era cobrador de impostos, odiado pelos judeus e considerado pagão, ímpio e ateu; e o outro era um fariseu, lider da religião, moralmente ilibado, detalhista com cada aspecto da Lei da Deus.

“Dois homens foram ao templo para orar, um fariseu e um cobrador de impostos. O fariseu, cheio de pose, orava: ‘Oh, Deus! Sou grato por não ser como esse bando de ladrões, trambiqueiros, adúlteros ou como este cobrador de impostos. Sabes que jejuo duas vezes por semana e dou dizimo de toda a minha renda’. Enquanto isso, o cobrador de impostos, de cabeça baixa num canto, com as mãos no rosto, não ousava nem olhar para cima. Apenas dizia: ‘Deus, tem misericórdia! Perdoa este pecador’. Jesus comentou: ‘Quem voltou para casa justificado diante de Deus foi o cobrador de impostos, não o outro. Se você andar por aí de nariz empinado, vai acabar de cara no chão, mas, se com humildade enxergar quem você é, acabará se tornando uma pessoa melhor”.   Lucas 18:9-14.


                   Pessoas-trena agem como o fariseu. Elas agradecem por não fazerem parte da condição humana porque acreditam piamente que são moralmente superiores. E se acham no direito de rotular os outros pelas praticas exteriores que observam: os outros sempre serão a escoria, o pior que o mundo produziu: ladrões, trambiqueiros e adúlteros.

                     Na historia que Jesus conta o fariseu não está orando a Deus – está discursando em voz alta para que o cobrador de impostos escute o que ele pensa sobre suas atividades.

                Pessoas como ele tem dificuldade para olhar o próprio coração e encontrar algum pecado – eles se consideram irrepreensíveis só porque vão aos templos, dão ofertas e cumprem algum mandamento de Deus. Jesus diz que estas pessoas andam com o nariz empinado, pensam que estão em um nível acima da maioria. 

                       O maior perigo para quem age como trena é que fatalmente vai cometer o erro que condena nos outros – a ânsia de culpar e recriminar nada mais é do que um desejo oculto de fazer a mesma coisa que condena:

                         “Se você pensa que está em um nível mais elevado de onde pode apontar o dedo para os outros, esqueça. Cada vez que você critica alguém está se condenando a si mesmo. Voce é tão errado quanto quem você critica. Criticar os outros é uma forma bem conhecida de ignorar os próprios crimes e erros. Mas Deus não é enganado tão facilmente. Ele vê através da cortina de fumaça e o responsabiliza pelo que você faz”.    Romanos 2.1-2.


                      Em segundo lugar, pessoas-trena costumam fazer pose. Jesus diz que o fariseu, ao orar, montou um verdadeiro teatro para representar o que não era diante de Deus. Quando ele diz: “eu não sou como os outros homens” está mentindo.

            Porque ele diz que não é ladrão – Jesus  certa vez condenou os fariseus pela chamada lei de Corbã. Corbâ se referia a algo consagrado a Deus, geralmente uma oferta financeira. Não se podia usar isso em hipótese alguma. Os fariseus então diziam a seus pais: 'não podemos ajudar vocês em nada, não podemos lhes dar um centavo, porque todo nosso dinheiro já está comprometido – ele vai ser dado, inteiro, a Deus. Fazendo isso, eles nem davam nada para Deus, nem ajudavam seus pais em suas necessidades. Punham o dinheiro no bolso e ficavam com tudo. Eram ladrões porque prometiam dar a Deus mas mantinham o dinheiro na sua carteira. E a mesmo tempo agiam com crueldade com os próprios pais.
   
           Fariseus eram também trambiqueiros. Porque eles levavam os animais para serem vendidos no templo para os adoradores e ganhavam muito com isso, cobrando caro por cada animal. Quando Jesus expulsa os vendilhões do templo, que ali faziam este tipo de comercio lucrativo, chama-os de ‘covil de ladroes’. 

             Os fariseus também eram adúlteros – quando eles levam a mulher apanhada em adultério para ser apedrejada, e quando Jesus diz que, quem não tiver pecado atire a primeira pedra, ele, provavelmente quis dizer, ‘quem não tiver cometido o mesmo pecado que ela cometeu'. E os fariseus vão embora calados, a começar dos mais velhos. O que choca não é que o ser humano possa se tornar ladrão, trambiqueiro e adultero – o que choca é um religioso atirar pedras nos outros dizendo que nunca fez isso na vida.

                  Como conviver com pessoas-trena.

           A oração do cobrador de impostos é o ensino sobre como lidar com este tipo de comportamento. Em primeiro lugar o texto diz que ele ‘cobre o rosto com as mãos’. 

          Ou seja, ele se recusa a usar a mesma ferramenta que seu acusador. Quando cobre o próprio rosto, o cobrador de impostos não ousa medir-se por mais ninguém, nem se achar melhor – ele se conhece e sabe que Deus o conhece muito bem. Por isso não refuta a condenação que o fariseu faz sobre ele – o fariseu o chamou de pecador, e ele concorda – não é preciso dizer isso, ele já sabe que é.  


            Portanto, não entre no jogo da trena – não tente argumentar com quem age deste modo, é simplesmente ineficaz. A melhor medida para conviver com uma pessoa-trena é entender que, tudo o que ela condena em você, na verdade está recriminando em si mesma – ela só não tem a coragem de assumir. 

                Ela não tem autoridade moral mas você não precisa faze-la ficar quieta – simplesmente ignore, faça como o cobrador de impostos – com a mão no rosto – o que importa é o que Deus está vendo no meu coração e não o que outro está dizendo ver no meu comportamento.

            Em segundo lugar, ore pela pessoa-trena. Tenha compaixão dela. Ela está profundamente perdida e enganada. Está sabotando a si mesma. Pensa que é aquilo que não consegue ser. Finge o tempo todo uma vida que lhe disseram que ela tem que viver, mas que, até agora não decidiu se quer mesmo abraçar.

         Não temos que odiar uma pessoa-trena, temos que ter misericórdia dela. Está sofrendo muito porque não enxerga a própria condição e está transitando em um caminho de mentiras reforçadas, tentando se convencer de que tudo que imagina é real mas iludida em suas próprias neuroses.

           Ao orar e ter piedade da pessoa-trena você vai ajuda-la a ser menos rígida consigo mesma e com os outros, vai colaborar para que ela aprenda a celebrar a vida e não apenas cumprir metas e compromissos.


         Em terceiro lugar entenda que pessoas-trena ainda não amadureceram emocionalmente. O cobrador de impostos ao assumir seus pecados tem mais consciência da sua humanidade que o fariseu. Este se nega a confessar a Deus qualquer deslize ou erro. Não que não os tivesse – mas que se julgava melhor que a maioria – essa é uma atitude própria de quem não cresceu, ainda não se tornou adulto. 

             Somente os adultos sabem respeitar os diferentes; não andam de nariz empinado; não pensam que são uma categoria superior de ser humano na terra. Os adultos são humildes, são amigáveis, são compreensivos e pacientes. Quem aponta o dedo e condena ainda age como criança – vive no mundo da fantasia – ‘o mundo deveria ser assim’ – já os adultos estão orando e trabalhando para Deus transformar esta miséria humana em gloria.

          Convide-as a fazer algo de pratico toda vez que elas ficarem ao seu lado só para apontar defeitos e reclamar das coisas. De-lhes algo para fazer enquanto elas discursam. Fazendo isso, você estará ajudando-as a crescer e a ver a vida sob a ótica da ação, da atitude, do compromisso pratico.

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