quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

DEUS PARA CONSUMO.

             
 

          Gosto muito de ler Zigmunt Baumann. Para mim ele é um profeta do mundo contemporâneo. Do alto dos seus 86 anos de idade o sociólogo polonês tem escrito coisas que me fascinam pela clareza da sua análise.
             Uma delas é a transição que ele registra da sociedade humana para a sociedade de consumo. A nossa valiosa humanidade está sendo constantemente massacrada pela ideologia de consumo. E não somos mais humanos mas apenas consumidores de tudo: do aparelho de TV até a estética do corpo; da literatura à Deus.
             Deus tem sido esvaziado da sua gloria por nós, tão ávidos de vê-lo fazer alguma coisa que nos surpreenda. Nossa monotonia e chatice, de sermos obrigados ás rotinas diárias, nos lançam no desejo de querer algo que só Ele pode dar.
             Vamos às celebrações com a seguinte questão: 'o que acontecerá hoje, de novo, de inédito, de inesperado'?
           Lemos a Biblia como o nosso manual de auto-ajuda.
           Encontramos aqui e ali um texto, uma passagem que serve de embasamento para dizer que nossos sonhos todos serão cumpridos.
          Meditamos nela para encher de esperança o nosso futuro não planejado e nem pensado - o futuro é um presente que receberemos no colo caído do céu.
          Nós transformamos Deus em um atendente das nossas carências. O balcão dele está repleto de ofertas, basta pedir o que quiser e você receberá prontamente.
       Não que Deus tenha deixado de lado sua bondade e o desejo de nos abençoar. Ele é mesmo 'o pai que se compadece de seus filhos'.
        Mas eu acho que estamos caminhando para um período perigoso que é o da associação da fé com o consumo. Baumann diz que nesta relação humana com o consumo, o consumo sempre vence e ele desfaz tudo o que é humano, tudo que é relacional, tudo que é simples e desinteressado.
          Estamos desfazendo a devoção a Deus e jogando-a no lixo em troca do consumo religioso.
        A gloria de Deus, a prevalência do seu nome e da sua presença, o atendimento da sua vontade acima da nossa esse é o tema recorrente das Escrituras.
        Não estamos no mundo porque Deus o tenha criado para nós. O mundo é dele, como eu e você somos dele. 
        Eu acho que estamos dando uma resposta errada para a vida.
        A vida não é uma dádiva de Deus para cada um viver como bem quiser e fazer o melhor que puder com ela.
        A vida é uma dádiva de Deus para cada um viver para Ele e no atendimento da sua vontade, a fim de torná-lo conhecido por intermédio do que fazemos.
       Se continuarmos 'consumindo Deus' estaremos tão perdidos e vazios como quando não íamos a uma igreja, nem quando não liamos a Biblia.
      O mandamento maior não é 'pedir a Deus que tudo me seja dado'. O maior mandamento é: 'Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, alma e entendimento'.
        Se Deus continuar sendo consumido, o que vai acontecer quando 'o produto' não mais for atrativo?

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

È MORAL O QUE VOCÊ CHAMA DE LEGAL?

              


                'Muitos de vocês estão usando essa lei como desculpa para seu egoísmo e seus caprichos, fingindo que estão fazendo algo justo só porque é legal'.  Mateus 5.31-32.
               Já dizia Roberto Carlos: 'Tudo o que eu gosto é ilegal, é imoral, ou engorda'.
              A distinção entre aquilo que é legal e aquilo que é moral sempre foi clara. Costumava-se dizer que algumas coisas, mesmo sendo embasadas na lei nem por isso eram dignas de serem feitas porque afetavam a moral, os bons hábitos e os valores acumulados pelas gerações.
           tínhamos um lastro moral muito mais influente e isto servia de freio para determinadas posturas na vida pública e privada.
          Com a chegada da Era Contemporânea, no dizer de Zigmunt Baumann, nós trocamos o valor da segurança pelo principio da liberdade de tal maneira que nos importa mais, não a segurança das bases de sentido, justiça e integridade, mas sim, a possibilidade de testarmos a vida ao máximo em todas as suas possibilidades, e, por que não dizer, em todas as ofertas que transbordam à vontade sem nenhum recato e limite.
           Jesus no texto acima trata da lei do divórcio. E ele diz que já em seu tempo os homens usavam a lei da separação para justificar qualquer defeito que vissem na esposa, desde o descuido com a aparência até a ausência de dotes culinários. Tudo era motivo para se divorciar sem qualquer critério. Então ele levanta o lado moral da lei.
           E ele afirma que muitas pessoas preferem a lei do que a moral porque assim justificam seus caprichos e legitimam suas vontades. A lei não serve necessariamente para melhorar a conduta de ninguém. Ela é uma forma de dar respaldo à condutas humanas que não desejam viver por princípios e valores de Deus. 
          Hoje no Brasil temos leis para tudo o que antes era tido como imoral: lei para união civil de homossexuais; lei para beneficiamento financeiro de criminosos retidos na prisão; lei para proteger os políticos desonestos de serem condenados. Parece que a moral não é mais a normativa e sim os parágrafos e alíneas das leis.
          Há sempre como reinterpretar a lei conforme a conveniência. Mas se queremos ser honestos de fato temos que admitir que estamos nos afastando da vontade de Deus em prol das nossas cobiças. E o caminho para que Deus cure nosso coração se chama 'arrependimento'.
          È preciso trocar a desculpa e a justificativa pela decisão de corrigir o que está errado. Assim teremos a paz de verdade, fruto da coerência interna. Embora muitas coisas possam ser legais, nem sempre são morais. E o resultado de abraçar apenas o que é legal pode nos tornar frios e racionalistas, removendo a nossa sensibilidade ao Deus que nos criou.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

QUEM VAI GANHAR ESTA LUTA?





           'Abençoados são vocês, que conseguem mostrar que cooperar é melhor que brigar ou competir. Desse modo, irão descobrir quem vocês realmente são e o lugar que ocupam na família de Deus'. Mateus 5.9.

            Competir tem se tornado uma das finalidades da vida contemporânea.
            Somos chamados a competir pelos primeiros lugares, pela vaga do emprego, pelo amor da nossa vida, pelo sorteio do carro no consórcio, da casa que financiamos, e até pela vitória da nossa opinião.
             Ligamos a TV e tudo o que assistimos lembra uma disputa.
             São os cantores que se candidatam ao teste da gravadora e à fama.
           São os anônimos que se trancam numa casa para ver quem ganha o milhão de reais.
          São os partidos políticos que lutam para desmoralizar seus pares.
          Novelas cujo enredo é a tentativa de ser feliz às custas do sacrifício da existência dos outros.
          Filmes que mostram a eliminação de gente que atrapalha os projetos e sonhos.
         As lutas de UFC são a sensação do momento.
         Disputamos, no dia a dia, enraivecidos, uma vaga de estacionamento nas ruas lotadas.
         Disputamos, com pressa, uma mesa vazia no restaurante.
         O espirito de competição tomou de vez a nossa alma.
        As nossas ruas estão sendo tomadas pelos 'black blocks' que sem qualquer sentimento estouram bombas que matam o primeiro que ficar no caminho delas, seja este um cinegrafista ou uma mãe com seus filhos. Não importa quem seja, nem o que esteja fazendo lá. Quem não está de máscaras é inimigo, é infiltrado, é 'parte do sistema'.
        Parece que estamos tão acostumados com este espirito de competição que já nem sabemos por que continuamos vivendo assim. Certo dia estava dirigindo atrás de uma longa procissão de carros. Era meu caminho e não tinha como evitar passar por aquela rua.  Um veiculo que estava para entrar na rua perguntou a um senhor que estava na calçada: 'o que é isso aí?' O senhor lhe disse: 'é uma procissão'. E o motorista: 'Ah, então eu também vou'. Não se pensa mais o por que das coisas, se adere a elas como que por osmose.
             Jesus diz que cooperar é melhor que brigar e disputar.
             Porque quando cooperamos nós descobrimos nossa verdadeira vocação como filhos de Deus que estão no mundo com a missão de socorrer, colaborar, amar. E ele diz que mais feliz é quem coopera do que quem disputa.
           Porque na disputa entra o estresse, a raiva, o ódio, mas, na cooperação se manifesta a paz.  Na cooperação com os outros nós humanizamos a sociedade e a livramos desta índole da morte e da violência. Eu acho que os acontecimentos contemporâneos são uma amostra de que já estamos todos no nosso último limite de suportabilidade.
             Se como filhos de Deus em Cristo não começarmos a desconstruir a violência e a competição, através de nossos atos de cooperação com todos, não acredito que teremos  esperança por dias melhores.
        Como dizia o teólogo John Stott, se as trevas perduram muito tempo não adianta culpar o ambiente. O que se deve fazer é perguntar: 'onde está a luz'?
        Façamos amigos em vez de concorrentes; doemos um pouco de nós para não ficarmos com tudo. Sempre há mais gente em pior situação, esperando que alguém se importe. 
        Vamos aceitar o desafio de Jesus?

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

AUTOSSABOTAGEM.


                    


                          O músico e compositor Chico César tem uma música que diz:
                          'Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa, da bondade da pessoa ruim, Deus me governe e guarde, ilumine e zele assim'.
                         Ele começa a música pedindo para não ser enganado.
                        Mas o seu medo começa com ele mesmo.
                       Ele teme se sabotar, enganar a si próprio e, como é muito comum, culpar outros por seus fracassos.
                     A autossabotagem é a pratica de nos iludirmos com raciocínios não verdadeiros, criados com base em sensações afetadas por acontecimentos e por uma tendência em ler situações de maneira defensiva e não criativa. Quando atuamos sobre a vida com um tom de defesa em geral somos tomados pela vitimização, o que nos conduz á autocomiseração e ausência de um planejamento intencional para mudarmos nosso comportamento.
                       Viver de forma criativa significa sempre abordar os eventos com a perspectiva de um novo dia: tudo começa novamente, com amplas chances de reverter o que não é bom. A criatividade não apenas desperta nosso desejo de viver com mais alegria como oferece uma visão diferente sobre o mesmo cenário que nos preocupa.
                        È por causa da autossabotagem que, segundo Chico César, gente má se mostra boa. No caldo das ilusões e encenações vamos reproduzindo mentiras, que de tão repetidas, acabamos acreditando nelas e todos fazem o mesmo. O ministro da propaganda de Adolf Hitler costumava dizer que 'é fácil fazer as pessoas acreditarem que uma coisa é verdadeira e certa mesmo que seja mentirosa - basta repeti-la indefinidamente'.
                     Sabendo que somos propensos a praticar a autossabotagem é necessário contarmos com a ajuda de Deus para que abracemos a verdade, sem nos deixarmos guiar por motivos questionáveis para representar o que não somos: insegurança relacional, medo da rejeição, desejo de aceitação. Salomão nos aconselha escutarmos mais a voz de Deus todos os dias para que nossa consciência não acabe nos enganando e nos levando a resultados ruins.
                     Ele diz: 'Ouça a voz do Eterno em tudo o que você fizer, aonde for. Ele manterá você no melhor caminho. Não pense que você sabe tudo. Corra para o Eterno! Fuja do mal! Seu corpo irradiará saúde, seus ossos irão vibrar de tanta vida!'  Provérbios 3.6-8.
                     Que a nossa oração seja esta: 'Deus, me proteja de mim'. E que planejemos estar com Deus para ouvi-lo, para que nossa mente adquira a capacidade de distinguir quando está sendo enganada, às vezes por nós mesmos.
http://youtu.be/2L6LUgtUG-c