Fui criança de viver em cima de árvores.
Onde nasci tinha várias delas.
O quintal reunia uma goiabeira, laranjeira, limoeiro,
mamoeiro, ameixeira daquelas amarelas,
além de outras variadas. Mas a que eu mais gostava era o pé de pinha, ou, como
chamam hoje, atemóia.
Era uma gigante frente ao meu tamanho na época. Depois
das aulas eu subia naquele pé, e ficava no ultimo galho. Sempre subia com uma
colher na mão. Lá em cima apanhava a fruta, abria com a mão e metia a colher naquele
tipo de mingau branco, delicioso, depois cuspindo as sementes pretas.
Todos os
dias eu estava lá, religiosamente. A árvore alta permitia enxergar longe a
avenida que dava acesso a minha rua, um tanto longe.
Além de comer as frutas, eu deitava naqueles galhos bem
largos e ficava ali curtindo a tarde.
Também passava o tempo olhando para
aquela avenida. As bicicletas dos trabalhadores da ferrovia que subiam pedalando
a certa altura, mas depois empurravam as bicicletas. Via os carros, as
carroças, gente a pé com guarda-chuvas protegendo do sol da tarde. Homens e
mulheres, crianças e velhos.
Gostava daquela visão que a árvore me permitia. Ela ampliava
em muito os meus horizontes, me permitindo ver além do quintal, além da minha família,
além da minha idade, além do meu momento.
Não sei por que gostava tanto de subir
e ficar ali. Mas era delicioso sentir o cheiro das folhas, dos galhos e com frequência
me arranhar ao subir e ao descer...
O tempo passou, eu cresci e meus horizontes se expandiram
muito. Até então, o mais longe que eu ia era a escola, próxima de casa , além
da rua onde brincava de bola e pipa com os amigos. No alto da árvore, porém,
tudo era maior e mais cheio de oportunidades.
Hoje eu não preciso mais da árvore, embora sinta muito a
falta dela e daquelas tardes cheias de simplicidade. Enxergar mais longe foi uma
lição que aprendi ao subir naqueles galhos, mas é claro que eu nunca mais parei
de ampliar os limites.
Tenho aprendido que, para enxergar mais longe, é preciso
subir mais alto. Ver o que não se via, acreditar que tudo pode melhorar,
receber um momento de refrigério através de diálogos, encontros, orações,
leituras e mesmo ouvindo e conversando com pessoas queridas tem aumentado meus
horizontes.
E eu decidi nunca parar de crescer. Continuo subindo na
árvore que hoje é só um recurso da memória. Porque é melhor ter os horizontes
ampliados do que lamentar que nunca se foi além do que se poderia.
Que se
restringiu a vida a um diâmetro curto sem olhar para a soma e a multiplicação
das variáveis que Deus nos permite.
Quem nunca subiu numa árvore não sabe o poder que ela tem.
Ainda bem que na minha casa tinha aquela, que me levou do
pequeno garoto ao homem que hoje me tornei.
Com a visão que adquiri, com a
amplitude que Deus me concedeu.
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