terça-feira, 1 de julho de 2014

Sofrer por amor.



O ‘Sonho de um Homem Ridículo’ é um conto do escritor russo Fiódor Dostoiévski de 1877. É dividido em cinco partes e contado por um narrador-protagonista, que teve uma revelação através de um sonho utópico. 

Ele relata suas experiências a partir do momento em que conclui que não há mais nada para viver, e, portanto, determina-se a cometer suicídio. Um encontro casual com uma jovem o faz mudar de ideia. 

O personagem, á certa altura, se vê no paraíso. Mas lá, naquele lugar da perfeição e do fim da dor, por incrível que possa parecer, ele tem saudades do seu mundo, da sua terra. Por uma razão: no paraíso ele não consegue amar. 

Ele só consegue amar quando está na sua terra, onde existe dor, sofrimento, angustia – sem isso não há amor. Ele não consegue amar se não for através da dor. 

Esse conto tem, como em todas as obras do autor russo, um fundo cristão. Porque foi através da dor de Deus que ele nos amou em Cristo quando decidiu sacrificar o Filho amado por todos nós que desconsiderávamos sua pessoa, sua ternura e sua bondade.

 O amor de Deus não é platônico, de admiração do objeto à distância. È um amor encarnado na história de homens e mulheres, que se vê obrigado a contemplar seus fracassos, suas desditas, suas misérias, seus retrocessos. 

Mas o amor nunca deixa de se apaixonar não importa quanto o tempo passe. Porque Paulo dirá em sua carta aos Corintios que ‘o amor é sofredor’, e que podem passar o céu, a terra, os dons, a sabedoria, mas ‘o amor durará para sempre’. 

Esta aparente contradição, do amor que sofre, nos lança em um mundo de realidade cristã, onde desconstruímos a falsa noção de que basta amar para parar de sofrer. 

De que o amor é o oposto da dor. De que quem ama está vacinado contra desilusões. O amor nunca para de sofrer porque ele é apaixonadamente interessado pelo outro a vida toda. 

Ele protege o ser amado de quedas, de feridas, ou tenta evitar que o amado padeça porque quer sempre vê-lo feliz. Mas mesmo vendo a felicidade do outro ele sofre porque existem milhares de vidas ainda em desalinho, em rota de colisão com a própria alma.

 Ele continua amando e a cada nova historia, mais amor e mais dor. Mais interesse e mais compaixão. Mais sentimento e mais piedade.

 Amar dói, sim. Paulo diz que ‘o amor tudo sofre’. 

E quem não sofre por amor não conhece o amor de Deus. O poeta Catulo da Paixão Cearense já dizia: ‘Quem quiser conhecer o amor tem de conhecer a dor de Deus’. 

Se você sofre por amor sinta-se bem-vindo ao mundo da normalidade, ao mundo dos que conhecem a Deus de fato.

 Porque embora doa,  a dor do amor não mata; ela apenas nos mantém saudáveis em meio a uma geração cada dia mais vazia de sentimentos, de afetos, de ternura.

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