O ‘Sonho de um Homem Ridículo’ é um conto do escritor russo
Fiódor Dostoiévski de 1877. É dividido em cinco partes e contado por um
narrador-protagonista, que teve uma revelação através de um sonho utópico.
Ele
relata suas experiências a partir do momento em que conclui que não há mais
nada para viver, e, portanto, determina-se a cometer suicídio. Um encontro
casual com uma jovem o faz mudar de ideia.
O personagem, á certa altura, se vê
no paraíso. Mas lá, naquele lugar da perfeição e do fim da dor, por incrível
que possa parecer, ele tem saudades do seu mundo, da sua terra. Por uma razão:
no paraíso ele não consegue amar.
Ele só consegue amar quando está na sua
terra, onde existe dor, sofrimento, angustia – sem isso não há amor. Ele não
consegue amar se não for através da dor.
Esse conto tem, como em todas as
obras do autor russo, um fundo cristão. Porque foi através da dor de Deus que
ele nos amou em Cristo quando decidiu sacrificar o Filho amado por todos nós
que desconsiderávamos sua pessoa, sua ternura e sua bondade.
O amor de Deus não
é platônico, de admiração do objeto à distância. È um amor encarnado na
história de homens e mulheres, que se vê obrigado a contemplar seus fracassos,
suas desditas, suas misérias, seus retrocessos.
Mas o amor nunca deixa de se
apaixonar não importa quanto o tempo passe. Porque Paulo dirá em sua carta aos
Corintios que ‘o amor é sofredor’, e que podem passar o céu, a terra, os dons,
a sabedoria, mas ‘o amor durará para sempre’.
Esta aparente contradição, do amor que
sofre, nos lança em um mundo de realidade cristã, onde desconstruímos a falsa
noção de que basta amar para parar de sofrer.
De que o amor é o oposto da dor.
De que quem ama está vacinado contra desilusões. O amor nunca para de sofrer
porque ele é apaixonadamente interessado pelo outro a vida toda.
Ele protege o
ser amado de quedas, de feridas, ou tenta evitar que o amado padeça porque quer
sempre vê-lo feliz. Mas mesmo vendo a felicidade do outro ele sofre porque
existem milhares de vidas ainda em desalinho, em rota de colisão com a própria
alma.
Ele continua amando e a cada nova historia, mais amor e mais dor. Mais
interesse e mais compaixão. Mais sentimento e mais piedade.
Amar dói, sim.
Paulo diz que ‘o amor tudo sofre’.
E quem não sofre por amor não conhece o amor
de Deus. O poeta Catulo da Paixão Cearense já dizia: ‘Quem quiser conhecer o
amor tem de conhecer a dor de Deus’.
Se você sofre por amor sinta-se bem-vindo
ao mundo da normalidade, ao mundo dos que conhecem a Deus de fato.
Porque
embora doa, a dor do amor não mata; ela
apenas nos mantém saudáveis em meio a uma geração cada dia mais vazia de
sentimentos, de afetos, de ternura.
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