segunda-feira, 18 de agosto de 2014

MOTOCICLETA.



Ela era vermelha, novinha, saída da agencia e paga com meu salario. Tudo bem que não era potente mas era meu maior prazer pilotá-la. Eu a usava da manhã até a noite;  do serviço militar me dirigia ao trabalho e de lá para a escola. O dia todo na motocicleta. Nos fins de semana muitos passeios, gasolina barata, pouco consumo, muitos quilômetros. 

Gostava também de tirar racha com amigos, um deles hoje também pastor, era meu companheiro nas aceleradas. Ele não vai gostar de ler isso mas eu sempre o deixava para trás na poeira, ou melhor, na fumaça, já que a minha tinha um motor de 2 tempos que enchia o ar de aroma de óleo combustível.

Ela me levava onde eu queria e eu gostava de tudo nela. Até do cheiro que emitia, do ronco que fazia no tanque de gasolina nas reduzidas, do funcionamento do motor barulhento. Parecia ser parte de mim ao estar comigo em todas as horas.

Depois eu a vendi. Troquei por outras até nunca mais usa-las. Mas ficou na memoria aquele sentimento gostoso de liberdade, vento no rosto, aventura em alta velocidade, sensação de que nada poderia me limitar na vida.

O tempo, como tudo, passou. Eu percebi que a chegada de limites próprios da condição da maturidade instalou em mim uma série de trocas: velocidade pela tranquilidade; aventura pela segurança;  solidão pelos compromissos. 

Mas a motocicleta nunca tirou de mim uma coisa: a metáfora de ir de um ponto estático a outro. Seja lenta ou rapidamente. Seja hoje ou amanhã. Seja de forma silenciosa ou barulhenta. Mas é preciso mudar.

Porque a vida nos força a isso todos os dias e quem estaciona se torna como uma motocicleta parada no tempo: pegando ferrugem e se deteriorando. Para chegar até ao ponto que Deus permite para nós precisamos montar novamente em nossas motocicletas, colocar o capacete, dar a partida e acelerar. 

Enquanto a viagem acontece, vamos aproveitar o cenário. Quando chegarmos lá ficaremos agradecidos ao Pai que nos permitiu jamais fazer da nossa vida um monte de peças desmontadas mas um veiculo que nos levou para mais longe.

By Caleb Mattos.

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