quarta-feira, 6 de julho de 2016

Anotações.






Assisti recentemente numa série sobre o narcotraficante colombiano Pablo Escobar que ele costumava carregar no bolso da camisa um caderninho e uma caneta. Ali estavam anotados todos os seus desafetos: políticos, policiais, magistrados, concorrentes, jornalistas e até o diretor da escola do seu filho.

Para cada anotação correspondia um atentado posterior e a morte daquele desafeto. Terrível ato de alguém que fazia questão não apenas de tratar a todos como inimigos reais e potenciais, mas que via o mundo sob os óculos da vingança e dos caprichos do seu império de sangue.

Mas me chamaram a atenção o caderninho e a caneta. Com eles nós podemos registrar o bem ou o mal. Recordar o amor, as boas lembranças e afetos recebidos e doados, ou não. De qualquer maneira registramos na memória tudo que nos acontece e isso permanece lá até aflorar, via inconsciente, de uma forma construtiva ou ruim.

Mas como seria a vida se também carregássemos no bolso um caderninho e uma caneta para anotar as boas ocasiões em que recebemos de Deus e das pessoas afetos, palavras, elogios, felicitações e promessas? 

Como estaria o nosso sentimento se escrevêssemos mais, nesta era tão digital, as impressões que tivemos ao fazer uma caminhada, ao contemplar um entardecer, ao voltar de uma visita a alguém, alegrias, esperanças e decisões?

Como estaríamos hoje se começássemos a resgatar o antigo hábito de escrever todos os dias tudo o que se passa dentro e fora de nós, como fez a menina Anne Frank durante o nazismo? 

Que legado deixaríamos aos filhos e ás futuras gerações se escrevêssemos mais sobre nós mesmos e o nosso convívio ao longo dos anos?

Escrever é um hábito que não apenas melhora a gramática e a redação mas que melhora o estado de nossa alma. Escrever pode se tornar um meio de desabafo, um jeito de ser e estar no mundo, de maneira mais leve, mais livre e menos reativa. 

Aprenderíamos, ao escrever, que em grande parte o que sentimos é muito passional e precisa ser purificado por um raciocínio mais equilibrado e ponderado para não nos tornarmos vítimas de nossas palavras impensadas.

Afinal, se o Deus que nos criou mandou escrever o que ele disse é porque ele zela por aquilo que mandou registrar. Ali o conhecemos e sabemos que é imutável. Ao escrever afirmamos nosso caráter, valores e rumo que vamos dar ao nosso presente e futuro. Confiaremos mais em quem somos porque escrevemos o que somos.
Caleb Mattos.

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