Assisti recentemente numa série sobre o narcotraficante
colombiano Pablo Escobar que ele costumava carregar no bolso da camisa um
caderninho e uma caneta. Ali estavam anotados todos os seus desafetos: políticos,
policiais, magistrados, concorrentes, jornalistas e até o diretor da escola do
seu filho.
Para cada anotação correspondia um atentado posterior e a
morte daquele desafeto. Terrível ato de alguém que fazia questão não apenas de
tratar a todos como inimigos reais e potenciais, mas que via o mundo sob os
óculos da vingança e dos caprichos do seu império de sangue.
Mas me chamaram a atenção o caderninho e a caneta. Com eles
nós podemos registrar o bem ou o mal. Recordar o amor, as boas lembranças e
afetos recebidos e doados, ou não. De qualquer maneira registramos na memória
tudo que nos acontece e isso permanece lá até aflorar, via inconsciente, de uma
forma construtiva ou ruim.
Mas como seria a vida se também carregássemos no bolso um
caderninho e uma caneta para anotar as boas ocasiões em que recebemos de Deus e
das pessoas afetos, palavras, elogios, felicitações e promessas?
Como estaria o
nosso sentimento se escrevêssemos mais, nesta era tão digital, as impressões
que tivemos ao fazer uma caminhada, ao contemplar um entardecer, ao voltar de
uma visita a alguém, alegrias, esperanças e decisões?
Como estaríamos hoje se começássemos a resgatar o antigo
hábito de escrever todos os dias tudo o que se passa dentro e fora de nós, como
fez a menina Anne Frank durante o nazismo?
Que legado deixaríamos aos filhos e
ás futuras gerações se escrevêssemos mais sobre nós mesmos e o nosso convívio ao
longo dos anos?
Escrever é um hábito que não apenas melhora a gramática e a
redação mas que melhora o estado de nossa alma. Escrever pode se tornar um meio
de desabafo, um jeito de ser e estar no mundo, de maneira mais leve, mais livre
e menos reativa.
Aprenderíamos, ao escrever, que em grande parte o que sentimos
é muito passional e precisa ser purificado por um raciocínio mais equilibrado e
ponderado para não nos tornarmos vítimas de nossas palavras impensadas.
Afinal, se o Deus que nos criou mandou escrever o que ele
disse é porque ele zela por aquilo que mandou registrar. Ali o conhecemos e
sabemos que é imutável. Ao escrever afirmamos nosso caráter, valores e rumo que
vamos dar ao nosso presente e futuro. Confiaremos mais em quem somos porque
escrevemos o que somos.
Caleb Mattos.
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