sexta-feira, 20 de abril de 2018

Pare de bater em si mesmo.



O evento da Encarnação é um testemunho do valor humano.

Porque na linguagem paulina, embora Cristo fosse Deus decidiu se tornar homem. O que levou o Criador a desejar se tornar criatura?

Este é um mistério que nem mesmo séculos de Teologia puderam desvendar. Era de fato necessário se tornar um de nós para nos salvar. Mas acredito que o mistério vá além.

A admiração que Cristo produzia nas pessoas revela que todos no fundo projetavam nele seu sonho de ser como ele. A aspiração humana pela transcendência é real e se percebe nas artes, na religião, na contemplação do belo.

Temos a tendência de opor corpo á espirito. E por que? Por sofrermos ainda da dicotomia grega entre espirito e matéria. Ora se o mal prejudica não significa que ele se instale num corpo.

Isso restringiria e limitaria sua atuação, o que, convenhamos, ao mal nem pensar estar confinado a pequeno espaço. E do mesmo jeito que ao mal se busca expansão, ao bem a expansão é inerente.

O mal não se confina ao corpo e por isso o corpo não é mau. Ele é ‘um santuário’ onde Deus decide residir. Assim sendo, odiar o corpo ou odiar quem um corpo tem, detestar a humanidade vendo nela a residência da maldade é no mínimo um esquecimento básico da lei de que ‘Deus criou o homem (ser humano) á sua imagem e semelhança’.

No momento em que amamos a nós passamos a cuidar daquilo que se chama reflexo de Deus. ‘Deus amou o mundo’ diz João, não a esfera geográfica, mas as pessoas que nele moram. Razão pela qual Jesus lembra que é preciso amar a si mesmo.

O que Deus odeia eu odeio. Mas o que Deus ama eu devo amar.

Tenho valor porque embutida no embrião da minha essência está a assinatura do Poeta, que transforma desvalia em pérola, pó da terra em Adões e Evas, indefinidamente.

Caleb Mattos.

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