O evento da Encarnação é um testemunho do valor humano.
Porque na linguagem paulina, embora Cristo fosse Deus
decidiu se tornar homem. O que levou o Criador a desejar se tornar criatura?
Este é um mistério que nem mesmo séculos de Teologia puderam
desvendar. Era de fato necessário se tornar um de nós para nos salvar. Mas
acredito que o mistério vá além.
A admiração que Cristo produzia nas pessoas revela que todos
no fundo projetavam nele seu sonho de ser como ele. A aspiração humana pela transcendência
é real e se percebe nas artes, na religião, na contemplação do belo.
Temos a tendência de opor corpo á espirito. E por que? Por
sofrermos ainda da dicotomia grega entre espirito e matéria. Ora se o mal prejudica
não significa que ele se instale num corpo.
Isso restringiria e limitaria sua atuação, o que, convenhamos,
ao mal nem pensar estar confinado a pequeno espaço. E do mesmo jeito que ao mal
se busca expansão, ao bem a expansão é inerente.
O mal não se confina ao corpo e por isso o corpo não é mau.
Ele é ‘um santuário’ onde Deus decide residir. Assim sendo, odiar o corpo ou
odiar quem um corpo tem, detestar a humanidade vendo nela a residência da
maldade é no mínimo um esquecimento básico da lei de que ‘Deus criou o homem (ser
humano) á sua imagem e semelhança’.
No momento em que amamos a nós passamos a cuidar daquilo que
se chama reflexo de Deus. ‘Deus amou o mundo’ diz João, não a esfera geográfica,
mas as pessoas que nele moram. Razão pela qual Jesus lembra que é preciso amar
a si mesmo.
O que Deus odeia eu odeio. Mas o que Deus ama eu devo amar.
Tenho valor porque embutida no embrião da minha essência
está a assinatura do Poeta, que transforma desvalia em pérola, pó da terra em Adões
e Evas, indefinidamente.
Caleb Mattos.
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