terça-feira, 19 de junho de 2018
Eu fiz calar a minha alma.
Embora seja um Salmo de Davi ele tem declarações muito
próximas á experiencia de Jó. O Salmo 38 é uma longa narrativa sobre alguém que
adoeceu em todos os sentidos, desde o corpo até a consciência.
O autor tem a sensação de que todos olham para ele com
desprezo por conta do que lhe aconteceu como se fosse um maldito castigado. Ele
sofre também com o sentimento de que está sendo perseguido e ameaçado de morte.
Chega a dizer no texto que está á beira de um colapso nervoso.
Mesmo assim decide adotar uma postura: ‘Escolhi nada ouvir e
nada responder. Pois espero por ti, ò Senhor’. Aquietar-se é a escolha quando o
sentimento da alma é de perturbação.
Dificuldades causam polifonias incontáveis
dentro de nós, e neste volume de monólogos com a consciência não se acha alivio
eficaz.
Aquietar-se é o ato de obrigar a consciência a não mais
dizer nada.
Obrigar o pensamento a não mais lançar sugestões que causem
assombro. Por termos controle sobre a consciência nós conseguimos com algum
treinamento mantê-la calada. E um dos meios eficazes de fazer isso é falar com
Deus.
È dirigir intencionalmente o pensamento a Ele e meditar em
tudo o que ele promete, garante e repete. Em Deus não existe mutação, de forma
que sempre encontraremos descanso emocional e equilíbrio mental quando em
assombro.
Esperar nele não é não fazer nada. Esperar nele é trocar a polifonia
pelo diálogo.
Orar é a mais antiga forma de psicanalise que existe. Saber
que alguém nos escuta e que nos orienta a ver mais amplamente o cenário total.
Os que oram sentem o corpo relaxar, a mente sossegar e a esperança reaparecer.
È sempre bom calar nossas polifonias internas buscando um lugar quieto para
falar com nosso Deus. Lá acharemos o bom repouso para as horas de aflição.
Caleb Mattos
quarta-feira, 13 de junho de 2018
O Milagre do desmame e a chegada da existencia.
Em Gênesis há o relato de que Deus forma Adão do pó da
terra. Ele não passa de um boneco de artífice, com beleza estética, mas sem
vida.
Imóvel, incapaz de pensar, sentir, apreender a beleza da Criação
diante de seus olhos que nada enxergam. Não há existência concreta da alma, da
psique, a não ser quando o Criador sopra sobre ele o fôlego da vida. E com o
folego da vida, Adão agora vê, sente o aroma do Éden, cobiça com fome seus
frutos, dá nome aos animais e se apaixona por Eva.
Tudo em razão de que sem a ânima, a essência interna que nos
permite existir não existimos de fato, somos extensão de um outro. Quando acontece
o desmame é que a criança nota que não era um apêndice da mãe, mas um outro ser
que precisa aprender o processo da individuação.
E ele não é simples, daí o choro inicial e o momento em que
precisa saber que existe por si e que é capaz ao longo de determinado tempo e
vivencias de construir quem será. Muitos existem como extensões de outros
devido a vários processos afetivos não saudáveis, o que causa dependência desnecessária
e que gera dizeres como ‘eu não vivo sem você’, ‘eu dependo de você’, ‘sem você
eu morreria’.
Bonito como tema de romance, mas ruim no que diz respeito ao
desenvolvimento da personalidade. Porque pela individuação vamos tomando consciência do que decidimos ser ou não ser. Escolher ou rejeitar.
Estar próximos ou nos afastar. Estar acompanhados ou sozinhos. Decidir e não se
arrepender.
O próprio Deus nos permitiu a existência ao soprar o seu
fôlego porque ele é o único que existe em si mesmo e não depende de nada que o
sustente, e de ninguém precisa para substituir. Ele é o auto existente, o ‘Sou o
que sou’.
Reflexos da sua imagem e semelhança somos construídos para
em reconhecimento grato à sua dádiva de existência, construirmos a nossa em
sintonia com a dele, ‘porque Deus é amor’.
E para existir, nada melhor do que
amar, porque sem amor tudo não passa de som que não soa, de luz que não brilha.
Amar a si é o primeiro passo da constatação da existência. Se nem a isso ainda
chegamos está na hora de começar o processo.
Caleb Mattos.
terça-feira, 5 de junho de 2018
#somostodoslevitas
Pelo visto o brasileiro se acostumou mesmo com o que existe
de pior.
Num dos últimos shows do cantor Fabio Junior em que ele cantava
seu hit ‘Alma Gêmea’ uma briga generalizada na plateia começou sem chamar a atenção
de ninguém que pudesse se importar para promover a paz.
Nem mesmo o cantor que
estava ali para fazer o seu trabalho se sensibilizou com a agressão e
prosseguiu interpretando sua música.
https://twitter.com/twitter/statuses/1003475521911615497
Quanto mais a gente vê a violência mais se acostuma com ela
a ponto de não interferir. Esse episodio me lembrou da história dos três personagens
da Bíblia: o sacerdote, o levita e o samaritano.
Todos passaram por um homem agredido e assaltado, caído e
ensanguentado, á beira da estrada. O sacerdote, porque tinha algo mais importante
a fazer, prosseguiu viagem sem socorrer. Ele estava repassando o sermão daquele
domingo e não tinha tempo de se sujar com um assunto que não lhe dizia
respeito.
O levita passou pela vítima, mas, porque tinha que ministrar
louvor no culto naquela noite, não podia se atrasar porque tinha que passar o
som na igreja mais cedo. E então o inesperado. Um samaritano que estava tão
ocupado como os outros desce do seu animal. Fica condoído com o sofrimento que
vê.
Pega o que tem ás mãos e passa sobre as feridas do agredido. Depois o transporta
para uma pensão e paga a estadia para que a vitima se recupere plenamente.
Faz alguns dias todos
nós postávamos nas redes sociais, #somostodoscaminhoneiros. Mas eu acho que
isso é apenas uma modinha que vai passar. No fundo nós somos todos levitas
mesmo.
Porque temos coisas mais urgentes e importantes para fazer do que
promover a paz, seja num show, seja na escola, seja na família, seja na vizinhança,
seja no país. Somos tão frios que, enquanto ‘o pau come’ somos capazes de
cantar ‘alma gêmea’.
Caleb Mattos.
segunda-feira, 4 de junho de 2018
Sem amor tudo é impossível.
Em seu livro ‘Cartas a Théo’, Vincent Van Gogh menciona,
dentre muitos assuntos da sua turbulenta vida, o momento em que ficou especialmente
enamorado de uma moça que, por fim, casou-se com outro. Longe de considerar
esta recusa como motivo de abatimento ele escreve sobre a questão: ‘Quem ama
vive, quem vive trabalha, quem trabalha tem pão’.
Ele narra que o período que esteve apaixonado, mesmo não
correspondido, foi o período que mais produziu em seu trabalho. De fato, o
motor que impulsiona toda e qualquer atividade humana é o amor. Nem sempre
dedicamos amor ao sentido romântico porque ele é tão abrangente que cabe também
em outras instâncias de nosso labor.
Quem ama o que faz produz com tal qualidade que fica, como
Van Gogh, imortalizado para sempre. Quem ama pessoas em situação de risco é
capaz de uma dedicação sem limites a causas humanitárias. Assim também quem ama
sua família. É de se pensar se o argumento do artista vale no sentido oposto.
Será que, quem não produz e enfrenta necessidades (não sendo
estas causadas por situações imprevisíveis como calamidades, sistemas de
governo ditatórias e coisas do tipo) é porque não ama mais?
Quantas pessoas você conhece que, no aspecto econômico não
tem grandes dificuldades, mas que perderam a pulsão da vida, a paixão do viver?
Entregaram-se ao carrasco da depressão e do rancor e são incapazes de uma
alegria e celebração; enxergam no cenário tempestades recorrentes; comentam que
nada vale a pena. Estes perderam o amor, e quando se perde a capacidade de amar
perde-se o sentido para viver e produzir.
Talvez seja por isso que em Apocalipse exista uma advertência
para ‘recuperar o amor’ antes que seja tarde demais. Não se pode fazer-se
prisioneiro de amarguras enquanto o sol brilha e as crianças brincam. Não se
deve maltratar a si mesmo enquanto muitos oferecem ombro e afeto.
Não se pode
morrer de fome enquanto o amor se oferece como o prato do dia. Se você perdeu
vitalidade no que faz examine seu nível de amor próprio e de amor pela vida. E
o mais urgente que lhe for possível volte a amar para não morrer de fome.
Caleb Mattos.
sexta-feira, 1 de junho de 2018
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