Em Gênesis há o relato de que Deus forma Adão do pó da
terra. Ele não passa de um boneco de artífice, com beleza estética, mas sem
vida.
Imóvel, incapaz de pensar, sentir, apreender a beleza da Criação
diante de seus olhos que nada enxergam. Não há existência concreta da alma, da
psique, a não ser quando o Criador sopra sobre ele o fôlego da vida. E com o
folego da vida, Adão agora vê, sente o aroma do Éden, cobiça com fome seus
frutos, dá nome aos animais e se apaixona por Eva.
Tudo em razão de que sem a ânima, a essência interna que nos
permite existir não existimos de fato, somos extensão de um outro. Quando acontece
o desmame é que a criança nota que não era um apêndice da mãe, mas um outro ser
que precisa aprender o processo da individuação.
E ele não é simples, daí o choro inicial e o momento em que
precisa saber que existe por si e que é capaz ao longo de determinado tempo e
vivencias de construir quem será. Muitos existem como extensões de outros
devido a vários processos afetivos não saudáveis, o que causa dependência desnecessária
e que gera dizeres como ‘eu não vivo sem você’, ‘eu dependo de você’, ‘sem você
eu morreria’.
Bonito como tema de romance, mas ruim no que diz respeito ao
desenvolvimento da personalidade. Porque pela individuação vamos tomando consciência do que decidimos ser ou não ser. Escolher ou rejeitar.
Estar próximos ou nos afastar. Estar acompanhados ou sozinhos. Decidir e não se
arrepender.
O próprio Deus nos permitiu a existência ao soprar o seu
fôlego porque ele é o único que existe em si mesmo e não depende de nada que o
sustente, e de ninguém precisa para substituir. Ele é o auto existente, o ‘Sou o
que sou’.
Reflexos da sua imagem e semelhança somos construídos para
em reconhecimento grato à sua dádiva de existência, construirmos a nossa em
sintonia com a dele, ‘porque Deus é amor’.
E para existir, nada melhor do que
amar, porque sem amor tudo não passa de som que não soa, de luz que não brilha.
Amar a si é o primeiro passo da constatação da existência. Se nem a isso ainda
chegamos está na hora de começar o processo.
Caleb Mattos.
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