quarta-feira, 13 de junho de 2018

O Milagre do desmame e a chegada da existencia.



Em Gênesis há o relato de que Deus forma Adão do pó da terra. Ele não passa de um boneco de artífice, com beleza estética, mas sem vida.

Imóvel, incapaz de pensar, sentir, apreender a beleza da Criação diante de seus olhos que nada enxergam. Não há existência concreta da alma, da psique, a não ser quando o Criador sopra sobre ele o fôlego da vida. E com o folego da vida, Adão agora vê, sente o aroma do Éden, cobiça com fome seus frutos, dá nome aos animais e se apaixona por Eva.

Tudo em razão de que sem a ânima, a essência interna que nos permite existir não existimos de fato, somos extensão de um outro. Quando acontece o desmame é que a criança nota que não era um apêndice da mãe, mas um outro ser que precisa aprender o processo da individuação.

E ele não é simples, daí o choro inicial e o momento em que precisa saber que existe por si e que é capaz ao longo de determinado tempo e vivencias de construir quem será. Muitos existem como extensões de outros devido a vários processos afetivos não saudáveis, o que causa dependência desnecessária e que gera dizeres como ‘eu não vivo sem você’, ‘eu dependo de você’, ‘sem você eu morreria’.

Bonito como tema de romance, mas ruim no que diz respeito ao desenvolvimento da personalidade. Porque pela individuação vamos tomando consciência do que decidimos ser ou não ser. Escolher ou rejeitar. Estar próximos ou nos afastar. Estar acompanhados ou sozinhos. Decidir e não se arrepender.

O próprio Deus nos permitiu a existência ao soprar o seu fôlego porque ele é o único que existe em si mesmo e não depende de nada que o sustente, e de ninguém precisa para substituir. Ele é o auto existente, o ‘Sou o que sou’.

Reflexos da sua imagem e semelhança somos construídos para em reconhecimento grato à sua dádiva de existência, construirmos a nossa em sintonia com a dele, ‘porque Deus é amor’. 

E para existir, nada melhor do que amar, porque sem amor tudo não passa de som que não soa, de luz que não brilha. Amar a si é o primeiro passo da constatação da existência. Se nem a isso ainda chegamos está na hora de começar o processo.
Caleb Mattos.



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