Semana-Tranquila
quinta-feira, 16 de novembro de 2023
quinta-feira, 11 de maio de 2023
PROVAS
‘O SENHOR pôs José à prova, até chegar a hora de cumprir sua palavra’ (Salmos 105)
Na minha vida escolar o dia que eu mais tinha medo era o dia da prova. Nunca fui aluno brilhante. Nem mesmo nos esportes me destaquei. Mas nunca repeti o ano. Deve ter sido por milagre da Providência.
Hoje, ainda cursando uma Pós-graduação, esse medo me acompanha novamente. Eu tenho mais expertise nos estudos desde então, após várias experiencias na área. E você? Também tinha medo das provas?
As provas são componente inevitável da vida. Nem sempre devem ser entendidas como algo nocivo. Elas ensinam a descobrir, por exemplo, quem somos. Compreender as escolhas que fazemos. As provas nos desafiam até mesmo a decidir quando procrastinamos demais uma tomada de posição. Aceitaremos aquela proposta?
Continuaremos praticando nossos princípios? Seguiremos a recomendação medica? Perdoaremos? Seguiremos com a nossa vida a despeito de tudo o que aconteceu?
Diz o texto acima que o SENHOR pôs José à prova. Ele foi odiado por seus irmãos e depois vendido como escravo aos egípcios. Por uma serie de acontecimentos foi parar na prisão injustamente.
Mas quando chegou o momento propicio, Deus o tirou da cadeia.
Revelando o sonho de Faraó, ele foi subindo na hierarquia egípcia até se tornar governador do Egito. Tinha agora o comando do palácio real. Administrava todos os bens do soberano. Ensinava os conselheiros da corte. A prova acabou.
José foi aprovado. E recebeu uma ditosa recompensa pelo tempo em que foi reduzido a uma condição humilhante.
Deus prova a todos aqueles que confiam nele. Não há como fugir disso. Um cântico que conheço diz:
‘Senhor se por ti estou sendo provado, quero aprovado ser.
Agora sei o que tens a dizer,
E creio nisto também
Basta-me a graça’
Em meio às provas que a existência nos impõe é importante lembrar um detalhe. Você reparou no início do texto que Deus é chamado de SENHOR? Isso mesmo. SENHOR com todas as letras em maiúsculo. Isso acontece porque no texto hebraico quando este nome divino aparece ele aponta para o tetragrama YHWH, que foi traduzido como SENHOR, O Deus da aliança.
Deus tem uma aliança perpetua com aqueles que pertencem a ele. Que submeteram sua história a Ele. Ele é fiel a esta aliança e ela jamais será desfeita. Ela vale, inclusive para a nossa descendência, nossos filhos e netos.
Por isso suporte a prova. Como acontecia no tempo escolar ela dura apenas algum tempo. Virão outras provas. Mas também não terão o beneficio da perpetuidade. Toda prova que Deus coloca sobre você obedece ao prazo que ele mesmo estipulou.
Continue orando. Continue fazendo o que deve fazer. Quando essa prova acabar, Deus cumprirá a palavra que estipulou a seu respeito. E então, aquela prova de hoje será apenas a lembrança da antecipação do tempo feliz e incomparável que você estará provando amanhã.
Caleb Mattos
terça-feira, 9 de maio de 2023
AQUELE QUE NOS VÊ
‘A
vida consiste mais em ir atrás de um rosto do que seguir um mapa. É descoberta
e não direção’ (Eugene Peterson)
Eu
gosto deste contraste entre um rosto e um mapa. Embora hoje usemos um sistema
de navegação muito mais eficiente que um mapa, ele teve seus dias de gloria.
Queremos descobrir para onde ir e que sentido dar a quem somos e ao que
fazemos. Parte dessa tendencia preferencial pelo mapa brota do conceito de que
fomos colocados aqui neste planeta por puro capricho de um destino impessoal.
‘Caímos de paraquedas’ neste mundo e em nossa
ignorância carecemos de direção para tudo. E então, acreditamos que diferentes mapas,
conceitos, sugestões, uma quantia incontável de tudo que já foi produzido é o
bastante para encontrar a finalidade de existir. A dificuldade é que os que
elaboraram os mapas se achavam tão confusos e perdidos como nós.
Resta sempre a possibilidade de que o mapa esteja
desatualizado e o GPS sem conexão produz aquele looping irritante que nos faz
parar o trajeto até acharmos uma saída. Mas, e se a vida consiste mais em ir
atrás de um rosto? Já começa a se perceber uma diferença positiva. Porque consultas
a mapas e GPS exige que olhemos para baixo.
Mirar
um rosto exige elevar os olhos. O mapa, o conceito, a ideia, o constructo, o
postulado, parte de uma junção de várias hipóteses estabelecidas a partir da
matéria de que todos somos feitos. O mapa é criação, o rosto é criador. Este
rosto se revela do alto sobre nós e seu reflexo se acha exposto em tudo que
veio da voz que segue a face.
Há
uma antiga benção que pede o seguinte: ‘Seja Deus gracioso para conosco, e nos
abençoe, e faça resplandecer sobre nós o rosto; para que se conheça na terra o
teu caminho e, em todas as nações, a tua salvação’. Conhecer o rosto é se
conhecer. Descobrir o plano, surpreender-se com um caminho já traçado com antecedência,
incomparavelmente bom e seguro.
Não
somos navegantes entregues á mercê de um mar caprichoso e cheio de surpresas.
Aquele que nos vê é o mesmo que nos desenhou. Um mapa é frio e impessoal. O
rosto comunica o que o nosso olhar procura. Neste encontro somos salvos em meio
aos cruzamentos da vida que nos levaram a lugar algum.
Caleb
Mattos
sexta-feira, 2 de dezembro de 2022
NÃO É UM MITO
Clive Lewis certa vez foi interpelado por um ateu. Esse ateu argumentou que o pensamento moderno precisa não somente desacreditar o mito cristão, mas até mesmo aboli-lo. Cirurgia radical de um suposto tumor que enferma mentes esclarecidas. O escritor lembra que povos antigos sempre falaram de um deus que morre e que ressuscita depois. Crenças de épocas distintas e povos dos mais longínquos rincões repetiam tal mito.
Mas um dia aquele que os povos chamavam de
Mito apareceu no mundo como Fato nascendo de uma virgem. E nele todo e qualquer
enigma é esclarecido. Aqueles que se impuseram a missão de remover a realidade
deste Fato viveram em todos os séculos. Eles partiram, o Fato ficou. Como ficará a despeito de esforços de sempre
dos que pensam entender, mas não tem olhos para ver. Combateram o que chamavam
de Mito e o Fato os venceu.
O estilo de Lewis é
mitopeico na maioria das suas obras. Isso não faz dele um ser que não existe e
nem de seus livros algo sem base na realidade. É só questão de estilo da
redação. Podemos ler Apocalipse e encontrar ali dragões e bestas de várias
cabeças. Isso não faz de Joao, seu autor, alguém que escrevia fábulas, mas o
homem que viu pelos olhos do Fato o encerramento da história humana e o triunfo
dos que creem naquele que transcende toda letra.
O que lemos na Revelação
se dirige tanto ao inculto, à criança e ao poeta em cada um de nós, como também
ao moralista, ao intelectual e ao filosofo. O Fato se fez homem para que o
homem desnamore a pura razão, seca e morta, e se enlace com a alma enamorada daquele
que a fez.
Caleb Mattos
quarta-feira, 30 de novembro de 2022
OS INCOMODADOS QUE SE MOVAM
Recentemente eu estudei Neemias. Ele conta suas memórias em um livro que leva seu nome. No tempo em que os persas dominavam o mundo também governavam a terra de seus pais. Neemias servia o rei como copeiro. Era responsável em provar a bebida antes do monarca verter o copo. Profissão de status e também de risco.
Era preciso estar feliz na presença do rei
para lhe dar a bebida. Mas um dia Neemias recebe a carta de seu irmão. Seu país
está devastado, a cidade queimada, ruínas por todo o lado e seu povo passando
por humilhação e dificuldades. Lida a carta, Neemias fica triste, passa dias
orando, sem comer e chorando. Até que toma coragem e pede ao rei um tempo para
voltar à sua pátria e ajudar da forma que for possível.
Então o soberano o autoriza
e lhe fornece material, dinheiro e cartas de recomendação para que circule
naqueles domínios em segurança. Ele fica incomodado com o sofrimento. E este
incômodo não o faz criar um movimento político-revolucionário. Seu incomodo
pessoal o faz abrir mão de seu conforto e estabilidade social por um tempo para
amar de maneira concreta.
Tem muita gente que
entende o cristianismo como um movimento zen. Uma anestesia que fecha os olhos para
a realidade e nos insere num tipo de paraíso místico cheio de palavras e gestos
que abrem portais mágicos para um tipo de mundo ideal, onde não se participa de
nada que traga dor e nem incomode a paz. Aprendi que Cristo deixou seu conforto
celestial, a homenagem diuturna dos anjos, a plenitude da perfeição eterna, e
desceu á nossa terra repleta de necessitados que não sabem discernir a mão
direita da esquerda.
Que amou concretamente
fornecendo pão, abraço, palavra e companhia. Nunca levantou bandeira a favor ou
contra Cesar. Não tinha tempo a perder com isso. O incomodo dos que sofriam o
incomodava. E ele se movia para onde quer que havia um pedido. A fé cristã não é
um anestésico, ela é um colírio. Não visa ganhar um lugar na corte do rei, mas
ter mãos ocupadas em prol da reconstrução de quem foi destruído.
Caleb Mattos
quinta-feira, 24 de novembro de 2022
DAR GRAÇAS
DAR GRAÇAS
‘Em
tudo dai graças’
Quando
Jesus se reuniu com seus discípulos pela ultima vez celebrou com eles a ceia. Tomou
o pão, deu graças, distribuiu entre todos e disse: ‘comam dele porque isso é o
meu corpo’. A mesma coisa ele fez com o vinho. Dando graças, o distribuiu entre
eles, repetindo: ‘bebam dele porque isso é o meu sangue’.
Não eram meras palavras metafóricas. Horas
depois ele estaria pendurado numa cruz, oferecendo seu corpo e seu sangue como substituição
pelos pecadores. Na hora da ceia, sabendo o que iria lhe acontecer, mesmo assim
ele deu graças. As circunstâncias que se apresentavam não eram boas. Havia um
julgamento à sua espera, uma condenação e uma pena a ser cumprida. Mas deu
graças mesmo assim.
Deu
graças por seus amigos estarem com ele no momento mais decisivo pelo qual iria
passar. Deu graças por comer pela ultima vez. Deu graças por tudo o que antes
sinalizou o favor divino em sua história. Deu graças por estar em paz com aquilo que
decidiu que faria de sua vida. Deu graças porque sua alma não estava dividida
entre o que ele resolveu e o que lhe aconteceu. Deu graças porque disse a
Pilatos que ninguém seria capaz de tirar sua vida uma vez que ele mesmo a
ofereceu como ato voluntário. Para dar graças não é necessário ter um sorriso
no rosto. Basta aceitar que venha o que vier não se trata de teste nem de
destino. Não tente explicar aquilo que você não entende. Confie naquele que te
conduz pelo caminho. ‘Entrega teu caminho ao Senhor, confia nele e o mais ele
fará’.
A
gratidão não é um segredo mágico que resolve tudo. Ela é uma consciência de que
chegamos a este mundo vazios. E que vamos recebendo dádivas não solicitadas,
umas mantidas e outras desfeitas. Umas retidas e a maior parte (tomara), doadas.
Não são umas nem outras que definem quem somos. Você não é sua perda como você
não é seu ganho. Você é feitura e obra-prima da mão de quem cria tudo com
beleza e generosidade. Você é alguém que
ao longo dos anos vai deixando em outros um pouco de si, e, acredite, essa é a
maior riqueza que alguém possa desejar. Seu legado não é o que saiu da sua
carteira. Seu legado é quem você foi para quem um dia cruzou o seu caminho.
Caleb
Mattos
segunda-feira, 21 de novembro de 2022
NAO PRECISA SER ASSIM
Diz o livro de Genesis que o primeiro homem foi feito do pó da terra e que nele depois foi soprado o espirito de vida. Eva foi criada e então o homem diz que ela é ‘osso dos seus ossos e carne da sua carne’. Ela é o lugar no mundo onde ele se sente em casa. O relacionamento íntimo com Eva, carne da sua carne, cria o conceito de lar.
Somos carne porque temos um componente físico que nos permite existir, alimentar, realizar, amar, relacionar. Podemos dizer que todo ser humano é carnal. No entanto, os gregos, quando queriam diferenciar uma característica inerente de um mau hábito, usavam duas palavras quase iguais, trocando somente uma das letras. Eram os termos ‘sarkinoi’ e ‘sarkikoi’.
Sarkinoi era a essência material de que somos feitos. Mas ‘sarkikoi’ descrevia um conflito entre duas ou mais pessoas toda vez que o ego de uma ou de ambas falava mais alto. Neste caso, embora sejamos ‘sarkinoi’ nem por isso devemos ser ‘sarkikoi’. Sarkikoi se aplica a discussões iradas, agressões, contendas, gritos, ofensas, desavenças.
Na carta que o apostolo Paulo escreveu á Igreja na cidade de Corinto ele os chama de ‘carnais’(sarkikoi) porque esse povo havia se desentendido e gerado pequenos grupos definidos como ‘eu sou de’. Não há problema em ter preferências ou opiniões distintas. Isso é próprio da experiencia humana. O que não é bom gira em torno das plataformas erigidas em prol de homens transformados em ídolos. É este o ponto onde ‘sarkinoi’ se torna ‘sarkikoi’.
Não há outro salvador senão aquele que se deu na cruz. Creia nele e sua mente terá saúde. Adore outros salvadores e em breve você se verá defendendo e lutando uma batalha inglória à semelhança do cavaleiro de triste figura. Muito do que defendemos na vida tem a ver com reflexos do nosso interior. Quem adora ídolos se torna igual a eles. Honestamente, no reino de ‘sarkinói’, eu não vejo material melhor do mesmo de que sou feito.
Caleb Mattos