A morte do filho que Davi teve com Bate-Seba é uma das historias mais importantes sobre a superação das dores do passado. Logo que a criança nasce é acometida de uma enfermidade mortal. Davi fica em jejum por um longo período e se recusa a desfrutrar das alegrias do palácio, tudo em função de seu filho.
Ele vive intensamente o momento, fazendo todo o possível para buscar a cura da criança. Mas, apesar do seu esforço, de seu jejum prolongado e de seus longos dias de oração a criança morre.
Davi então decide retomar a sua vida. Ele toma um banho, se perfuma, troca de roupas e se alimenta. Isso causa estranheza em seus conselheiros porque Davi não faz o luto da criança mas passa imediatamente a uma nova fase de superação da dor que ele viveu por longos meses. A sua resposta aos conselheiros é: “Enquanto a criança ainda estava viva, jejuei e chorei. Mas agora que ela morreu, por que deveria eu jejuar? Poderia eu traze-la de volta á vida? Eu irei até ela, mas ela não voltará para mim”.
O principio que Davi demonstra é que a intensidade do sofrimento precisa ser vivida na hora em que ele acontece e nunca depois. Davi se entristece, jejua, muda sua rotina em função da enfermidade da criança. O primeiro principio:
1. ENFRENTAR A DOR COM TODO O SEU REALISMO.
A primeira reação que ele tem é a de não negar a sua dor ou fingir que ela não existe. Ao dar espaço para a realidade da doença de seu filho Davi nos ensina que é preciso viver a historia tal como ela se apresenta e não como achamos que deveria ser. O ato da negação é comum em momentos de dor. Serve como um mecanismo de afastamento emocional da sensação da dor, embora isso seja ineficaz. È como tomar um sedativo para dormir a fim de esquecer do problema por algumas horas. O fato é que ninguém pode viver sedado durante toda a vida. Por mais doloroso que seja o acontecimento ele precisa ser encarado com realidade no momento em que ocorre. Davi passa sete dias em absoluto jejum, ausência de sono e se afasta das atividades do governo. Ele está focado no problema de seu filho, buscando a Deus pela cura da enfermidade. Grande parte das pessoas, ao se depararem com o imprevisível, o não esperado, empreendem uma fuga da realidade: alguns optam por beber, outros preferem ir às compras, alguns querem mudar de cidade, de emprego, outros tomam remédios.
Nossa geração está sendo ensinada a não aceitar a vida mas a maquia-la para lhe dar uma imagem menos ruim. E quanto mais dura o adiamento da realidade maior a frustração e as neuroses. O que Davi nos lembra é que há um tempo para cada realidade da vida e nós não podemos pular etapas quando o sofrimento bate à nossa porta.
Não fuja do problema quando ele se apresentar, nem rejeite-o como se isso não pudesse acontecer. Viva a realidade por mais difícil que ela seja porque isso contribuirá para sua maturidade emocional e principalmente para aprender a confiar no amor de Deus.
2. BUSCAR INTENSAMENTE A PRESENÇA DE DEUS.
A segunda decisão de Davi foi buscar a Deus pelo filho. Ele permanece sete dias em jejum e oração onde a única coisa que faz é estar na presença de Deus. O que o sustenta durante este período de abstinência é a companhia do Senhor. Ele não adoece por passar tanto tempo sem comer e sem dormir; ele não perde a razão por estar tanto tempo orando.
Seus oficiais estão muito preocupados com sua saúde mas Davi está bem, tanto no corpo quanto na mente. Quando Davi faz da oração o sustento na hora da dor isso revela uma regra: que é Deus quem nos sustenta em nossa historia de vida, nos momentos bons e maus. Davi não se alimenta mas Deus preserva a sua saúde; ele não dorme mas Deus preserva o seu cérebro.
Nós confiamos pouco na pratica da oração. Achamos que orar e dedicar tempo a Deus é privilegio de alguns mais treinados nessa pratica. Damos mais credito às soluções que nós podemos criar do que à intervenção de Deus. No entanto, o que as Escrituras nos ensinam é que o que comanda a vida na terra é o governo de Deus e não a sabedoria dos homens.
Quando apresentamos as nossas dores a Deus isso proporciona uma transferência saudável de ansiedade – ela passa das nossas mãos para as mãos de Deus. È como se largássemos um fardo pesado que estamos carregando sozinhos.
Mais do que mudar uma situação desagradável, a oração tem o poder de nos mudar, nos transformar: ela diminui a tensão; reduz a ansiedade; produz a sensação de bem estar; e faz crescer a certeza de que Deus está cuidando da nossa questão e dará a ela a melhor solução que poderia existir.
3. RETOMAR A VIDA DEPOIS DA PERDA.
Deus levou a criança, mesmo com todo o seu empenho no jejum e na oração. Isso demonstra que Davi sabia aceitar a soberania de Deus mesmo quando ela não estava de acordo com as suas idéias. Ele não se revolta com Deus, nem com a vida, mas adota duas posturas que sinalizam a superação do passado.
A primeira é retomar a alegria de viver: “Então Davi levantou-se do chão, lavou-se, perfumou-se e trocou de roupa. Depois, entrou no santuário do Senhor e o adorou. E, voltando ao palácio, pediu que lhe preparassem uma refeição e comeu”.
Davi se perfuma – há um aroma e uma expectativa de novidade em sua historia. È preciso trocar o cinza pelas cores; o odor pelo perfume e o choro pela alegria.
Davi adora a Deus – é a manifestação de um coração reconciliado com sua historia e com Deus. È necessário fazer as pazes com Deus e com a historia antes que a amargura tome conta dos sentimentos.
Davi come – o prazer de se alimentar é o sinal de que ele está curado. Os longos dias de oração e jejum produziram em Davi a restauração do seu corpo( a refeição); da sua alma( o perfume ); do seu espirito( a adoração no templo). Faça o mesmo depois que você passar pela dor.
A segunda medida de Davi depois do luto é decidir ter outro filho: “Depois Davi consolou sua mulher Bate-Seba e deitou-se com ela, e ela teve um menino, a quem Davi deu o nome de Salomão”. A palavra “Salomão” vem de “shalom” = paz.
Davi estava definitivamente restaurado do seu sofrimento porque ele resolve ter outro filho no lugar daquele que morreu. E a este novo filho ele dá o nome de ‘paz’. Esse era o estado do seu coração naquele novo momento.
Isso quer dizer que toda dor não precisa acabar em tragédia; ela pode terminar em paz desde que a postura seja a mesma de Davi.
O filho que Davi perdeu não teve um nome; foi um filho não planejado, fruto do seu adultério. Mas o filho que ele planejou recebeu o nome de ‘paz’.
Os nossos erros do passado não devem nos perseguir pelo resto da vida – precisam ser esquecidos, perdoados, sepultados. Mas os nossos acertos do presente, com Deus, precisam ser nomeados, celebrados e comemorados com muita festa e muita paz.
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