quarta-feira, 20 de julho de 2011

Ressignificando o passado.

Uma das maneira eficazes de lidar com o passado é reinterpreta-lo, o que exige lidar com ele com menos complexidade, atribuir-lhe menos perigo do que se supõe ou menor prejuízo do que pensamos ter causado.
 A tendência do choque do trauma sofrido é aumentar o seu potencial destrutivo, o que implica que sempre dimensionamos para mais aquilo que aconteceu. Dimensionamos para o pior, para o negativo, para a autocompaixão. E uma das consequências é nos vitimarmos diante da situação.
Esta foi a postura da esposa de Jó, diante das perdas que eles sofreram:
“Então sua mulher lhe disse: ‘Voce ainda mantém a sua integridade? Amaldiçoe a Deus e morra”.
A mulher de Jó não olha os bons tempos do passado: prosperidade- bem estar- filhos felizes- mas se concentra na tragédia e não enxerga nada bom no futuro. Se vê como vitima e culpa a Deus por tudo o que aconteceu.

 Quando agimos assim deixamos de encarar a nossa responsabilidade em agir diante da crise sofrida. Porque quem se vitimiza se fragiliza, se retrai, esperando apenas a compaixão das pessoas.
 Agir pela via da vitimização só aumenta a dor e não ajuda a curar os efeitos do trauma. Quando caminhamos pela via da responsabilidade, nós assumimos que temos um papel na solução do que aconteceu. E isso exige pararmos de esconder o que aconteceu. 
Essa é a primeira reação natural de quem enfrentou uma crise: ter vergonha do que os outros vão dizer. Ter medo de ser culpada por outros pelo que sucedeu. È o caso dos divórcios e adultérios. A parte inocente não quer que ninguém descubra porque de certa forma atribui inconscientemente uma culpa pela traição. Acha que não cuidou da aparência,  devia ser mais paciente, dar mais atenção. 
Mergulhar neste circulo de culpabilidade quanto ao passado: ‘por que eu não fiz....’ não contribuirá para o prosseguimento da vida, o que é o mais importante. Por mais dolorido que seja nunca esconda o seu passado, mas compartilhe sua dor com pessoas que possam ajudar a diminui-la. 
A reação adequada a seguir é o enfrentamento responsável da situação. Por maior que seja a dor temos que parar de brigar com quem nos feriu porque a hostilização aumenta os efeitos da ira, da revolta e da angustia. 
Enfrentar a situação neste caso é reler o acontecido com menos exagero e mais realidade:
1.    “Isso poderia ter acontecido comigo”, em vez de: “Isso jamais deveria acontecer”.
2.    “Outras pessoas também sofreram esta dor”, em vez de: “Eu sou a única pessoa do mundo que passou por isso”.
3.    “È possível superar esta dor” em vez de: “Nunca vou conseguir superar isso”.
4.    “Deus irá me curar essa angustia” em vez de : “Essa é uma ferida incurável”.
A reação de Jó sinaliza a postura certa diante das dores do passado. Ele vê a historia não como ela deveria ser em sua imaginação e sonhos, mas como ela está acontecendo. Ele não procura retocar a historia, mas agarra-se a Deus para superar a dor:
“Disse Jó: ‘Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei. O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor”.
A história da humanidade não é o registro do ideal e sim do real. A Biblia não revela a perfeição de um mundo edênico mas a realidade de um paraiso perdido, onde as pessoas romperam com Deus, com seu próximo e consigo mesmas, dando vazão ao pecado e a seus desejos. 
A consequencia foi catastrófica e ruim. Mas Deus decidiu apanhar os cacos desta humanidade esfacelada e recomeçar o seu projeto original através do seu Filho, Jesus Cristo. 
O que prova que Deus não desistiu do ser humano apesar dos erros que a humanidade tem cometido. Sua intenção é restaurar o ser humano por meio de dois instrumentos muito poderosos: o perdão e o amor.   
Por meio do perdão, em Jesus, Deus redime nossos pecados porque Jesus os tomou sobre si na cruz. Ele se tornou o culpado e substituiu-nos a fim de que possamos nos reaproximar de Deus com confiança e na condição de filhos.
O seu amor nos garante que sua relação conosco não é meritória mas intermediada pela Graça. Seu amor pode nos curar e nos ajudar a curar nossos relacionamentos quebrados com as pessoas.
Ressignificar o passado é incluir nele o perdão e o amor de Deus; permitir a sua intromissão no acontecido, a fim de que a restauração produzida por Jesus nos erga do desalento, da tristeza e da ausência de sentido. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário