terça-feira, 12 de julho de 2011

Pare de brigar com seu passado!

Quando falamos de passado nos referimos a um tempo que ficou para trás. Embora este tempo tenha se tornado passado ele marcou a nossa historia. Por isso, o passado não é apenas um tempo, ele é uma memoria viva, porque as lembranças que ele evoca permanecem presentes.

Um aroma que sentimos pode evocar as lembranças da infância, assim também lugares e brincadeiras com nossos filhos. Não é possível apagar o passado porque ele constitui uma parte essencial da nossa historia. E quando as lembranças são boas temos que recuperar o passado para que as boas sensações alimentem nossa felicidade.

Mas nem sempre o passado é positivo. E quando ele nos marca negativamente se apresenta na forma comum dos traumas. Todo trauma tem a capacidade de ser ressentido, repetido quanto às sensações e angustias que vêm do ontem para o hoje. E traumas precisam ser saneados para que não nos impeçam de viver com esperança e alegria. O grande desafio que temos sobre o passado é o seu fardo de lembranças ruins.


Este fardo cria em nós uma atitude de confronto em relação às pessoas e à vida. È como se nós estivéssemos de prontidão, armados, para evitar que qualquer novo acontecimento ou pessoa nos faça sofrer o que sofremos no passado. Isso leva muitos de nós a nos tornarmos extremamente desconfiados com tudo o que acontece, cheios de medo e insegurança quanto ao futuro e incapazes de manter amizades mais íntimas pelo receio de abrirmos o coração e sermos traídos.

Quando a lembrança do passado é ruim ela apresenta a memoria de forma automática, não permitindo interpretações mais amplas do cenário à nossa volta, mas nos conduzindo a tão somente reagir por impulso, baseados em sentimentos e nem sempre na razão.  O que acontece neste caso  não é uma reflexão racional, adequada,  mas apenas uma reação emocional, permeada de patologias. 

Então, quando falamos do passado temos que pontuar duas verdades sobre ele: 1.ele é uma parte integrante da nossa historia; 
2.ele se tornou uma forma de memória integrada ao nosso psiquismo.
 Portanto, se não é possível apagar o passado, o que é necessário é reinterpreta-lo, resignifica-lo, retirando dele o poder de nos fazer adoecer e acabar com nossa alegria no presente e esperança no futuro.

O que precisa mudar não é o passado; o que precisa mudar é a nossa atitude sobre ele, deixando de considera-lo como um gigante invencível ou um demônio poderoso. 

Um dos exemplos desta abordagem correta encontramos na historia de José no Egito. Depois de reencontrar seus irmãos após longos anos ele recorda o seu passado familiar cheio de patologias de inveja, rancor e ódio de seus irmãos, e lhes diz:
 “Voces planejaram o mal contra mim(passado), mas Deus o tornou em bem(presente), para que hoje fosse preservada a vida de muitos(futuro)”. Gênesis 50: 20.

Estas três frases ditas por José pontuam a abordagem correta sobre o passado:

 Primeiro, ele precisa ser compartilhado e reafirmado como algo que feriu. Esconder o passado, reprimi-lo ou nega-lo só piora os sintomas de adoecimento da alma. José está repetindo em palavras o que os irmãos lhe fizeram há anos atrás. A confissão, a terapia, o aconselhamento pastoral proporcionam o necessário desabafo, alguém que escute e participe da dor, ajudando a carregar aquele fardo tão pesado e insuportável.

Segundo, o passado precisa permitir vermos a mão de Deus na história.  Ele afirma que Deus transformou o mal em bem. Sua convicção é a de que Deus não apenas participa do nosso passado, como também interage nele para filtrar os excessos de maldade que poderiam nos destruir.
È a perspectiva acerca da soberania de Deus que pode nos ajudar a suportar as difíceis lembranças do passado e enxerga-las de uma forma teológica: Deus participa da nossa historia muito tempo antes de adquirirmos a consciência: "Meus ossos não estavam escondidos de ti quando fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir".Salmos 139:15-16. 
A soberania de Deus significa sua intervenção em nosso ser antes de qualquer dia da nossa existência sobre a Terra. Davi afirma que Deus escreveu os nossos dias antes de nascermos. Isso significa que a historia que estamos vivendo não é resultante de eventos sem conexão, aleatórios, mas que tudo está devidamente amarrado a uma linha que está sendo segurada pela mão de Deus. A caneta que escreve a nossa historia não está nas mãos do destino, mas nos dedos do nosso Criador.

Terceiro,  o passado pode ser um instrumento a serviço dos objetivos de Deus. Se José não fosse para o Egito, nem se tornasse governador, a fome mundial teria atingido os israelitas e exterminado a geração dos patriarcas,  e todo o povo de Deus. Ao permitir tudo aquilo Deus estava retirando José do risco de ser morto pelos irmãos para salvar a vida deles e para preservar a historia de Israel, e assim cumprir a promessa do nascimento de Jesus, a salvaçao, o perdão dos pecadores e o anuncio do Evangelho à todo o mundo.

O que José diz sinaliza um fato inegável: nossa historia não se resume a nossas questões e preocupações: Deus está utilizando nossa vida e os acontecimentos para nos empregar como parte de seu plano para a Humanidade. O fato de que fazemos parte de uma historia maior do que nós mesmos, de que compomos o enredo de Deus neste mundo deve nos abrir os olhos para enxergarmos o nosso passado não como algo destrutivo mas construtivo – algo está em construção e o resultado será melhor do que o processo atual. 

Não brigue mais com seu passado; enxergue-o como parte da historia que Deus está ainda escrevendo, cujo final será surpreendentemente melhor e abençoado!

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