De certa forma todos nós criamos expectativas às vezes irreais sobre como deve ser a vida. Baseamos estas expectativas em nossos medos, especialmente o de não sermos capazes de continuar provendo nossas necessidades e o medo de não sermos aceitos pelas pessoas.
Jesus chama estes dois medos de 'ansiedade pelo comer e ansiedade pelo vestir'. Nos preocupamos com o que comer amanhã porque tememos não termos a saúde necessária para trabalhar; além disso, nos preocupamos com as roupas porque temos receio de que nossa aparência exterior seja criticada pelas pessoas, já que todos buscamos aceitação social.
Tais medos se fundamentam numa crença infantil de que sempre seremos fortes e capazes o bastante para conseguir tudo pelo trabalho e esforço. Não contamos e nem nos preparamos para a doença e a velhice.
Acreditamos também que sempre conseguiremos agradar todas as pessoas, que elas jamais irão deixar de nos amar, responderão com bondade, e serão gratas, reconhecendo tudo que lhes fizemos. Mas a vida, infelizmente, não segue o roteiro de um conto de fadas. Porque ela é constituida pela chegada inevitável da maturidade, o mundo adulto, que se contrapõe ao mundo infantil. Como é a vida sob a realidade do adulto, daquele que já amadureceu?
1. A recompensa nem sempre existe.
Vivemos o tempo todo esperando que as pessoas de alguma forma nos retribuam aquilo que investimos e nos esforçamos para fazer e produzir: um elogio, um presente, um agrado, um aumento salarial, um destaque no meio social. Nos iludimos com a noção de que, necessariamente, se fizermos algo bom, automaticamente, teremos uma gratificação por nosso ato. Mas isso nem sempre acontece porque as pessoas estão amadurecendo gradativamente na vida ou se recusam a faze-lo. Nem mesmo Jesus, que só fez o bem e demonstrou amor foi recompensado – o seu final foi numa cruz. Por isso, ficamos ansiosos para ganhar a aceitação das pessoas, e, quando ela não acontece, nos desiludimos e tratamos as pessoas com ira. Mas isso é uma postura própria de criança, que o tempo todo quer ouvir elogio e ganhar presentes.
2. A razão nem sempre prevalece.
Não podemos viver como se a justiça sempre estivesse a nosso favor. Em alguns momentos sofreremos injustiças da parte das pessoas. Não seremos compreendidos, amados, bem tratados e tratados com bondade. A injustiça que habita o mundo e o coração das pessoas também pode nos atingir, e dela não estamos livres apenas por sermos de Deus. Paulo menciona duas situações em que foi alvo de injustiça da parte das pessoas que ele mais amava. Mas a sua reação surpreende porque é adulta e amadurecida:
“Procura vir ter comigo depressa. Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica, Crescente para Galácia, Tito para Dalmácia. Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério. Também enviei Tíquico a Éfeso. Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos. Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras. Tu, guarda-te também dele, porque resistiu muito às nossas palavras. Ninguém me assistiu na minha primeira defesa, antes todos me desampararam. Que isto lhes não seja cobrado. Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que por mim fosse cumprida a pregação, e todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão.” 2 Timoteo 4:9-17.
3. Nem sempre as pessoas vão se esforçar em fazer o melhor.
A ansiedade pode se manifestar quando dependemos de outras pessoas que parecem não dar o melhor de si em determinada tarefa ou responsabilidade. Às vezes os filhos, cônjuges, e subordinados ou colegas de trabalho não estarão devidamente motivados a colaborar conosco naquilo que pretendemos fazer. E quando isso acontece gera um desgaste mental e emocional muito alto, o que desencadeia discussões e ira interior. Quem gosta de ser caprichoso em tudo que faz e quem é pontual são os que mais sofrem com esta questão. Mas é preciso não se permitir desanimar se as pessoas não cooperam, nem desistir do projeto se elas não o valorizam.
Talvez o que seja preciso é usar outros métodos mais pro-ativos que incentivem as pessoas a colaborar, do que simplesmente cobrar e brigar com elas. A atitude infantil neste caso é nunca estar preparado para ser contrariado, para ouvir um ‘não’ como resposta. Precisamos crescer, aprendendo a respeitar o ritmo de cada pessoa, não tentando acelerar este ritmo só porque o nosso plano tem que dar certo.
4. Nunca existe só um jeito de fazer as coisas.
Somos desafiados, no mundo adulto, a mudarmos o tempo todo a nossa maneira de encarar desafios, problemas e convivios. Quem não está pronto a aceitar as mudanças ficará para trás, lamentando que não foi compreendido. Isso quer dizer que é necessário aprender a ouvir as pessoas e ouvir opiniões diferentes das nossas porque nem sempre a nossa idéia é a mais adequada para a questão. Quem quer se impor o tempo todo, sua opinião, sobre outros, está agindo como a criança, que não aceita ser contrariada e chora porque não fizeram sua vontade. Salomão, que foi considerado o mais sábio rei do oriente, dá uma dica importantíssima :
“Quem recusa bons conselhos terá seus planos fracassados, mas quem os aceita verá seus projetos sair do papel, e eles serão bem-sucedidos” – Proverbios 15:22.
Apesar de ser o mais sábio do oriente em sua época, Salomão tinha inúmeros conselheiros de cada área de administração para ajuda-lo a governar Israel. Sua sabedoria estava em contar com especialistas em campos distintos do conhecimento.
Infelizmente, muitos são os que continuam vivendo como crianças - esperando sempre gratidão, reconhecimento, elogios, compreensão e que tudo saia do seu jeito. No dia da frustração, inevitável que é a sua chegada, eles se fecham para o mundo, recusam-se amar novamente e se amarguram porque nada saiu do jeito que propuseram.
Mas, os que confiam na providencia do Senhor, confiam a Ele suas vidas e o rumo que ela tomar. Não estão presos aos detalhes mas ao roteiro como um todo, dirigido pelo Pai que nos ama acima de qualquer circunstância.
Deixaram de agir como bebês e amaram as pessoas, apesar das falhas que elas apresentam. Não desistiram nunca de amar e de perdoar. Sabem que também são passíveis de praticar injustiça e nem sempre são capazes de dar perdão. Acima de tudo olham para seu Criador que as mantém vivas todos os dias em superação constante, em crescimento incessante, numa santa teimosia de amar apesar de tudo.
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