sexta-feira, 16 de maio de 2014

Meu primeiro amor.



         "Você abandonou o seu primeiro amor". Apocalipse 2.4.

         Nosso primeiro amor jamais é esquecido. Ele permanece na memória como uma lembrança de um tempo simples, onde nada era dificil e complicado para o encontro, a conversa, a troca de olhares e as incontáveis promessas.

      Não, eu não estou falando aqui de romance.
       Eu trato do amor a Deus, que é o foco da passagem.
      Jesus diz a um determinado grupo de pessoas, seus seguidores de então, que eles haviam abandonado o primeiro amor por ele.
     Eu me lembro de que quando conheci o Evangelho introduziu-se em mim uma amizade tão grande por Deus que me dava um prazer imenso orar e ler as Escrituras. 
    O mistério de não ver nada mas sentir a Ele por perto e por dentro era maravilhoso. 
     O dia começava mais feliz, com muito entusiasmo, trabalhar era algo feito não especificamente para ganhar dinheiro mas com a intenção de fazer o melhor para Ele.
      Amar as pessoas era a grande vocação, exercer o perdão, o grande desafio. Não tinha muitos problemas do tipo: frustração eclesiastica, questionamentos das intenções alheias, nem mesmo queria julgar os atos de ninguem.
      O encontro com Deus deixava a vida leve, gostosa, sossegada.
      Nos domingos, indo a pé para as reuniões da igreja, era expectativa incomparável reencontrar os amigos, sair com eles para uma lanchonete, cantar os cânticos em rodas pequenas acompanhados do violão. 
       Estar numa igreja era tão bom porque o que importava não era o lugar mas a companhia daqueles que estavam na mesma jornada da fé.

        Hoje eu assisto desolado o desencantamento das pessoas e da igreja.
        Tudo parece ter perdido o mistério, o belo, o simples.
         Hoje não convivemos como família mas disputamos espaço de forma concorrida com outros grupos.
      Tudo ficou difícil, exigente e absurdamente complexo.
      Teimamos em afirmar que Deus está em nosso grupo e não em outros, que aqui ele fala mais do que em outras igrejas, que descobrimos algum segredo não revelado que nos torna receptores exclusivos de um dom do Espirito Santo.
     
       Ridículos, nós nos achamos o canto do sagrado do mundo e quem quiser estar conosco tem que falar a mesma língua e confessar a mesma cartilha, cantar as mesmas musicas, orar do mesmo jeito, e ter a mesma 'visão' - quanta bobagem que é própria da adolescência da fé.

        Eu acho que perdemos a Deus porque perdemos a simplicidade de Deus.
       Eu tento, teimoso, perpetuar aquela noção de encantamento em minha pratica, aquela simplicidade tipica de Jesus que focava mais contato humano do que descobertas teológicas aparentemente inéditas.
       Para mim, a amizade é a principal marca da espiritualidade cristã.
       E a simplicidade do Evangelho, o seu maior convite.
       Eu não quero perder o primeiro amor.
      Temo que se perde-lo, não terei mais nada para fazer na igreja.
      Não quero, como muitos, enveredar pela politica eclesiástica, pelos conchavos,  pelo amor ao dinheiro dos fiéis, tudo em nome do poder.
     Suspeito de que, onde isso existe, Deus já pegou suas malas e foi embora.

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