Esta frase que muitos pensam e não pronunciam pode ser
eleita a matriz do mundo contemporâneo. Pense nos milhares de refugiados pelos
continentes e no fechamento de fronteiras por países. A mensagem é clara: ‘você
não é bem-vindo aqui’, e quando o indivíduo de outra nação já está, se fará de
tudo para que saia.
Esta é, porém, uma história muito antiga e não somente um
fenômeno de nossos dias. Ela é bem ilustrada por um conto do escritor russo Dostoievski
em ‘O sonho do homem ridículo’.
Cansado de uma vida sem sentido um homem
resolve se matar. A caminho de seu intento ele tem duas epifanias.
A primeira é uma estrela que brilha vividamente no céu. A
segunda, uma menina que pega em sua mão e solicita ajuda para sua mãe enferma.
Livrando-se da garota ele sobe ao quarto e pega a arma. Mas então dorme e
sonha. Seu sonho é com o paraíso.
Todos sorriem e ninguém fala ou explica nada.
Querendo saber o segredo da felicidade desta perfeição, ele não para de perguntar.
Então uma multidão se junta ao seu redor e começa a perguntar-lhe várias
coisas. E quanto mais perguntam, mais irritadas ficam, até começarem a se
matar.
O homem acorda e decide viver. Vai até a casa da menina
socorrer-lhe a mãe. Mas enquanto isso, vai pensando no sonho. Que ele estragou
aquele paraíso ideal quando pôs seus pés lá. Ele foi a serpente daquele paraíso.
E quando percebe que o mal na verdade está dentro de si, desperta. Na consciência
de que a vida não é má, mas que ele é mau, descobre que existe a Graça que pode
sara-lo e a todos que são iguais a ele.
Quando, então, pensamos em outro alguém como aquele que
estragou tudo quando chegou, precisamos olhar para dentro de nós e notar que,
na verdade, causamos o estrago de algum paraíso também. Por sofrermos o mal e não
por evitarmos passar pela dor está nossa consciência de identificação com todos.
E na negação de que somos parte da massa falida da humanidade está a nossa
patologia.
Por isso a recomendação bíblica: ‘Confessem seus pecados uns
aos outros para que sejam sarados’. Na admissão de nossa própria propensão a
estragar tudo é que paramos de tentar salvar tudo e entregamos ao genuíno Salvador
nossas vidas e nossa historia.
Experimentamos assim a Redenção, a porta de acesso ao
Paraíso onde não haverá morte, pranto, nem dor, nem lágrimas, não porque
fingimos não chorar mais, mas porque Deus em Cristo enxugou dos olhos toda
lágrima.
Então, sem mais medo, diremos uns aos outros: ‘Está tudo
bem, você chegou’.
Caleb Mattos.
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