‘Senhor, eu quero ver!’, respondeu o homem.
Há uma história registrada no Evangelho de Lucas que fala de
um cego que também era mendigo. Diariamente ficava assentado á beira do caminho
esperando uma esmola de alguém que cruzasse aquele trajeto.
Quando ele descobre que Jesus está passando por ali grita
duas vezes pedindo a atenção do Mestre. As pessoas que acompanham Jesus até tentam
faze-lo calar-se, mas ele insiste pedindo misericórdia. E Jesus não só para o
trajeto e fala com ele, como também o cura instantaneamente, restaurando-lhe a
visão.
Mas não sem antes perguntar: ‘O que você quer que eu lhe
faça?’
O cego tinha perdido apenas um dos sentidos mas ainda podia ouvir e
falar. E privado do que lhe restringe ele usa o que tem pedindo para poder
enxergar. Essa história me chamou a atenção porque não ver é a causa de estar
sentado á margem da vida.
Não estar mais encaixado, incluído, partícipe. Quem vive á
margem é marginal no sentido correto desta palavra. E acontece de ser também marginalizado.
Diz o ditado que ‘o pior cego é aquele que não quer ver’. Porque ainda que
privados da capacidade de perspectiva é possível restaurar a dimensão mais
ampla de possibilidades e oportunidades que diariamente se apresentam a nós.
Sempre me indaguei por que Jesus pergunta ao cego o que ele
quer. Não seria óbvio? Eu sempre achei que sim. Mas descobri que nem todo aquele
que é cego quer enxergar. A cegueira pode ser um lugar confortável para quem
não deseja superar limites e ir mais além do que pode no momento.
A cegueira pode ser um tipo de dependência que nos ajuda a
darmos desculpas pela situação ruim que estamos vivendo, em vez de agirmos com
determinação para sairmos da escuridão da ignorância.
È preciso querer enxergar para enxergar.
E quando se decide enxergar não há mais razão para continuar
à margem do caminho porque nos tornamos protagonistas da nossa realidade e
vamos mudando tudo que nos bloqueava e nos limitava.
Diariamente passa por nós o mesmo que passou pelo caminho daquele
cego. Só o fato dele vir até onde estamos mostra que seu desejo é nos tirar da
marginalidade. Mas ele sempre vai perguntar se queremos. E aquele que quiser,
bendito será.
Caleb Mattos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário