terça-feira, 21 de agosto de 2018

O poder do querer.



‘Senhor, eu quero ver!’, respondeu o homem.

Há uma história registrada no Evangelho de Lucas que fala de um cego que também era mendigo. Diariamente ficava assentado á beira do caminho esperando uma esmola de alguém que cruzasse aquele trajeto.

Quando ele descobre que Jesus está passando por ali grita duas vezes pedindo a atenção do Mestre. As pessoas que acompanham Jesus até tentam faze-lo calar-se, mas ele insiste pedindo misericórdia. E Jesus não só para o trajeto e fala com ele, como também o cura instantaneamente, restaurando-lhe a visão.

Mas não sem antes perguntar: ‘O que você quer que eu lhe faça?’ 

O cego tinha perdido apenas um dos sentidos mas ainda podia ouvir e falar. E privado do que lhe restringe ele usa o que tem pedindo para poder enxergar. Essa história me chamou a atenção porque não ver é a causa de estar sentado á margem da vida.

Não estar mais encaixado, incluído, partícipe. Quem vive á margem é marginal no sentido correto desta palavra. E acontece de ser também marginalizado. Diz o ditado que ‘o pior cego é aquele que não quer ver’. Porque ainda que privados da capacidade de perspectiva é possível restaurar a dimensão mais ampla de possibilidades e oportunidades que diariamente se apresentam a nós.

Sempre me indaguei por que Jesus pergunta ao cego o que ele quer. Não seria óbvio? Eu sempre achei que sim. Mas descobri que nem todo aquele que é cego quer enxergar. A cegueira pode ser um lugar confortável para quem não deseja superar limites e ir mais além do que pode no momento.

A cegueira pode ser um tipo de dependência que nos ajuda a darmos desculpas pela situação ruim que estamos vivendo, em vez de agirmos com determinação para sairmos da escuridão da ignorância.

È preciso querer enxergar para enxergar.

E quando se decide enxergar não há mais razão para continuar à margem do caminho porque nos tornamos protagonistas da nossa realidade e vamos mudando tudo que nos bloqueava e nos limitava.

Diariamente passa por nós o mesmo que passou pelo caminho daquele cego. Só o fato dele vir até onde estamos mostra que seu desejo é nos tirar da marginalidade. Mas ele sempre vai perguntar se queremos. E aquele que quiser, bendito será.
Caleb Mattos.

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