quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Uma palavra sobre o preconceito.



É atribuída ao rabino Hillel, que viveu nos dias de Jesus, o dito: ‘Todo homem deve agradecer a Deus diariamente por três coisas: por não ter nascido um cachorro, por não ter nascido gentio, por não ter nascido mulher’. Pelo menos dois preconceitos muito fortes embasavam esta crença: preconceito racial e preconceito de gênero.

Mas esse era o panorama religioso daqueles dias. A Bíblia menciona uma mulher nascida na Grécia que era mãe de uma menina atormentada por maus espíritos. Esta mulher vai até Jesus e pede socorro, mas, de início, o Mestre lhe diz que ‘não pode pegar o pão dos filhos e dá-lo aos cachorrinhos’. Eu não consigo imaginar Jesus, o Filho de Deus, tendo alguma forma de preconceito de qualquer tipo, porque sua pratica diária mostrou justamente o contrário.

Ele só podia estar se referindo ao ditado de Hillel e reproduzindo esse pensamento cultural para seus discípulos questionarem a validade disso e assim desconstruírem essa cultura de rejeição. Não era diretamente para a mulher que ele falava, mas para todos que o acompanhavam.

 E com a insistência da mulher, assumindo que mesmo sendo uma cachorrinha, se contenta com uma migalha que seja que ele possa lhe dar, Jesus fica espantado com a fé que ela demonstra ter nele. Jesus se admira com aquela resposta e ordena a cura da garota, que acontece de imediato. A cura da menina fere na raiz o preconceito de raça e de gênero.

Porque se o Mestre concordou em atender aquele pedido é porque mostra que Deus sempre demole a construção social e cultural do preconceito. Ele não endossa a força opressiva da discriminação, tampouco justifica isso, mas mostra que há uma igualdade absoluta no ser humano: a igualdade do vazio e da necessidade.

Podem vir até ele todos sem exceção que serão atendidos, amados e supridos. Não importa onde nasceram, não importa que gênero tenham, Deus os vê como feitura das suas mãos, obra de arte do oleiro que ele é.

Diante de tanta polemica sobre atacar e ofender uns aos outros nestas duas questões o caminho cristão não é erguer uma bandeira a favor, nem erguer uma espada contra. E nem o consenso. O caminho cristão é aquele que abraça, acolhe e não ama baseado em classificações, mas ama sem condições prévias. Porque amor condicionado a alguma coisa é dominação. Melhor não amar fingido do que fingir amar.
Caleb Mattos.

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