quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

DE COR.



Eu cursei o Ensino Fundamental na década de 1970. Naquele tempo o que era bastante comum não era tanto a compreensão da matéria, mas a ‘decoração’ dos princípios. Tudo era decorado, pouco compreendido. Mesmo hoje quase nada me recordo quando tento aplicar todos aqueles conteúdos para alguma coisa pratica.

O tempo passou e a ‘decoração’ ficou mesmo para trás na Pedagogia. Mas, quero salientar neste artigo uma coisa positiva que aprendi com a palavra ‘de cor’. Decorar. Decoração. Esta ultima palavra tem ‘oração’ no meio. Porque ‘de cor’ na verdade quer dizer ‘de coração’. Saber algo de cor implica em mais do que a mente, usar o coração.

O coração na tradição judaico-cristã é o lugar onde o corpo, a alma e o espirito se tornam um. Hoje quando falamos do coração nos referimos apenas a um sentimento, em oposição ao frio intelecto. Mas nos tempos bíblicos coração expressava a fonte de todas as energias físicas, emocionais, intelectuais, volitivas e morais.

 O coração é o centro da vontade; planeja e toma boas decisões. É o órgão unificador da nossa vida. Nosso coração determina nossa personalidade e é o lugar onde Deus habita.

Mas o coração também é o centro dos ataques do mal, que nos fazem duvidar, ter medo, entrar em desespero, lamentar, consumir em excesso. Por isso carecemos de orar para encontrar de novo o caminho do coração onde Deus nos transforma. Henri Nouwen conta uma estória do escultor, que mostra de forma clara esse princípio do coração:

‘Um menino olhava um escultor trabalhando. Por varias semanas o escultor trabalhou neste grande bloco de mármore. Depois de mais algumas semanas ele havia criado a estatua linda de um leão. O menino ficou maravilhado e disse: ‘Como o senhor sabia que havia um leão na pedra?’

Nouwen conclui dizendo que o escultor precisa conhecer o leão de coração antes de começar a trabalhar na pedra. Aquilo que ele conhece de coração, reconhece no mármore. Pensei muito nesta metáfora. O que eu conheço de coração eu reconheço na minha vida. Como está meu coração implica na forma como enxergo meu ambiente, minha história, meu presente. 

Jesus disse que ‘a boca fala do que está cheio o coração’. Mas eu também acho que o olho vê aquilo que o coração mostra.

Esse é um exercício constantemente necessário. Avaliar como está meu coração. Porque fatalmente eu projetarei nas coisas o meu conteúdo interior. Meu coração ligado a Deus carece ser transformado dia a dia. Dentro dele podem residir as trevas da mágoa, da tristeza, do sentimento de autopiedade, da ausência de alegria. 

Preciso purgar tudo isso pelo caminho do coração. Decorar tem dentro de si o orar. Paulo diz que precisamos ‘orar sem cessar’. Faxina da mente, limpeza da alma. Orar para ver luz nas trevas, orar para sorrir apesar de tudo.

Vamos decorar a nossa vida. Vamos conhecer a vida com o coração. Vamos orar para que ele se encontre com Deus, com os outros, e para que nos unifique corpo, alma e espirito.
Caleb Mattos.

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