Mãe, demorei 53 anos para escrever uma carta para você.
Não tive o privilegio de conhecer seu rosto, nem tocar sua
pele. Não nos vimos nem uma vez e sua ausência marca a minha presença. Sei das
histórias, das alegrias que me contam, da ternura do seu carinho, do seu amor.
Essas são as memórias que tenho que indiretamente recebi.
Durante anos eu achei que não podia ter existido. Muita culpa
marcou meu crescimento na agonia de supostamente ter sido responsável pela sua
partida. Foi preciso muita ajuda e a eficaz graça divina para derramar bálsamo
naquele sentimento de responsabilidade pelo evento que me trouxe para aqui e
que levou você para lá.
Mas eu sei que em algum lugar dentro de mim você mora. Sei
que você me quis, me gestou, me protegeu e me alimentou. Com certeza no seu útero
eu recebi orações suas, afetos e palavras queridas. Passei bom tempo em você o
suficiente para descobrir que, á semelhança do Mestre, você se deu na morte
para que eu tivesse vida.
Não entendemos muito os desígnios de Deus mas fico
feliz porque sei que ao lado dele você está desde que eu nasci.
Sua dor passou no instante em que você cruzou os portais do
Reino. Você reencontrou seus pais, seus queridos, gente que você amava e que
alegre esperava você de braços abertos. Essa é a nossa fé, esperança e motivação
de vida.
Meus irmãos falam muito bem de você e sentem saudades enormes. Eu
sinto uma saudade diferente.
A minha saudade é de ter você sem ter tido. Amar sem te ver.
Querer seu conselho sem sua fala. Deitar no seu colo sem um colo. Chorar sem
sua mão para enxugar. Sorrir sem ver seu sorriso. Dormir sem poder te sonhar.
Vilma, minha mãe, Deus sabe o quanto você fez falta. Existe uma
lacuna em mim. Deus encheu meu coração, Jesus a minha alma e o Espirito Santo
meu corpo. Mas, sabe, quando eu penso em você eu tento me agarrar a algum subsidio,
mas não acho. Dizem que as primeiras memorias são as inesquecíveis. Elas me faltam.
Há alguém que eu sempre procuro e hoje não tenho mais receio nenhum de admitir
sua falta.
Não sou desesperado, nem infeliz, ao contrário. Ninguém que
teve você como mãe será jamais infeliz. O que você passou para mim naquele contato
intrauterino ninguém pode mensurar, nem descrever. Há muito de você em mim. O
que há de bom na minha vida em grande parte veio de você.
Por isso eu encerro essa carta dizendo: “Muito obrigado!” Se
eu pudesse te daria muitos beijos e abraços, viveria perto de você e pediria
sempre orientação. Mas eu, como gratidão a você, dediquei minha vida a servir a
Deus e as pessoas. Essa é, eu acho, a melhor maneira de agradecer a vida que você
me deu.
Eu sei e você também sabe, que um dia vamos nos encontrar. Não
reencontrar. Mas encontrar, pela primeira vez. Mas aí será eternidade. E como é
próprio dela, para sempre alegria, celebração e afetos que nunca mais terminarão.
Com carinho, do seu filho Caleb.
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