quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

PORQUE FICAR EM SILENCIO É TÃO IMPORTANTE.



Aprendi que entre o ultimo profeta do Antigo Testamento, Malaquias, e o primeiro ‘profeta’ do Novo Testamento, João Batista, passaram-se nada menos do que 400 anos. A Teologia chama esse período de ‘anos de silencio’. Os profetas silenciaram e não tinham mais nada a dizer. O que se supunha era que Deus havia silenciado e nada mais diria.

Se Deus silenciasse isso poderia dar a entender duas coisas: ou ele estava muito irado com o fato de não ser ouvido; ou seria uma estratégia para, em seu silencio, fazer o ser humano sentir-lhe a falta e busca-lo. Não temos a resposta para essa questão. Embora sobrem testemunhos de que ele não silencia por aborrecimento já que não guarda rancor, mas abunda amor eterno e incondicional por todos nós.

Os 400 anos de silencio, embora se tenha escrito muita teologia nesse tempo, são emblemáticos, mas importantes. Eles mostram que embora Deus fale muito ele também se cala. O amor divino para ser apreendido carece de contemplação. Não se percebe esse amor do alto em meio a uma festa badalada com musica alta e danças. Tampouco com cerimonialismo religioso bem treinado. É preciso escutar o silencio de Deus para percebe-lo e senti-lo em nós.

Gosto da expressão que o filosofo Luiz Felipe Pondé usa para descrever o estado do ser humano moderno: polifonia. Estamos cercados dela e mesmos viciados nela. Queremos falar, expressar, comentar, ter algo a dizer. Amamos debates, questionamentos, disputas e argumentações. Detestamos ficar em silencio.
O silencio provoca aquilo que mais tememos neste mundo polifônico: anonimato. Porque esse é nosso maior medo contemporâneo nos obrigamos a ter o que falar. E quanto mais se fala menos se diz. Temos excesso de conteúdo, mas com uma profundidade zero.

 Púlpitos cheios de performance, mas ocos. Salas de aula com mestres amantes da oratória, mas que se limitam a ler textos de outros sentados atrás das mesas. E nas mais diversas áreas onde a palavra é o veiculo se escuta mais ruído do que sinfonia. 

Zygmunt Bauman diz que ‘a linguagem pode nos informar como as coisas são, mas também é uma faca que nos corta... na medida em que podemos tecer com as palavras telas que não representem realidade alguma’. (Zygmunt Bauman, Vidas Desperdiçadas, Zahar, 2012, p. 127).

Posso ter muito a dizer, mas não dizer coisa alguma com isso. Por essa razão o silencio é fundamental. Escutar o silencio ajuda a disciplinar esse costume não saudável de querer opinar sobre tudo e todos apenas por ato frívolo. Disciplina nossa mente a não desperdiçar energia com o vicio da difamação. Disciplina nosso coração a ser educado e gentil, pacificado e contente consigo mesmo. Disciplina nossa emoção contra o veneno da amargura.

Um detalhe final. O ultimo dos profetas do Antigo Testamento, Malaquias, encerra seu livro com a palavra ‘maldição’. Depois de 400 anos de silencio onde essa foi a ultima coisa dita, o que esperar? Mateus, primeiro dos Evangelhos registra um anjo falando a José e Maria sobre Jesus: ‘Ele será chamado ‘Emanuel’, que que dizer ‘Deus conosco’.
Viu como vale a pena cultivar o silencio?
Caleb Mattos

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