Aprendi que entre o ultimo profeta do Antigo Testamento,
Malaquias, e o primeiro ‘profeta’ do Novo Testamento, João Batista, passaram-se
nada menos do que 400 anos. A Teologia chama esse período de ‘anos de silencio’.
Os profetas silenciaram e não tinham mais nada a dizer. O que se supunha era
que Deus havia silenciado e nada mais diria.
Se Deus silenciasse isso poderia dar a entender duas coisas:
ou ele estava muito irado com o fato de não ser ouvido; ou seria uma estratégia
para, em seu silencio, fazer o ser humano sentir-lhe a falta e busca-lo. Não
temos a resposta para essa questão. Embora sobrem testemunhos de que ele não
silencia por aborrecimento já que não guarda rancor, mas abunda amor eterno e
incondicional por todos nós.
Os 400 anos de silencio, embora se tenha escrito muita
teologia nesse tempo, são emblemáticos, mas importantes. Eles mostram que
embora Deus fale muito ele também se cala. O amor divino para ser apreendido
carece de contemplação. Não se percebe esse amor do alto em meio a uma festa badalada
com musica alta e danças. Tampouco com cerimonialismo religioso bem treinado. É
preciso escutar o silencio de Deus para percebe-lo e senti-lo em nós.
Gosto da expressão que o filosofo Luiz Felipe Pondé usa para
descrever o estado do ser humano moderno: polifonia. Estamos cercados dela e mesmos
viciados nela. Queremos falar, expressar, comentar, ter algo a dizer. Amamos
debates, questionamentos, disputas e argumentações. Detestamos ficar em
silencio.
O silencio provoca aquilo que mais tememos neste mundo polifônico:
anonimato. Porque esse é nosso maior medo contemporâneo nos obrigamos a ter o
que falar. E quanto mais se fala menos se diz. Temos excesso de conteúdo, mas
com uma profundidade zero.
Púlpitos cheios de performance,
mas ocos. Salas de aula com mestres amantes da oratória, mas que se limitam a
ler textos de outros sentados atrás das mesas. E nas mais diversas áreas onde a
palavra é o veiculo se escuta mais ruído do que sinfonia.
Zygmunt Bauman diz que
‘a linguagem pode nos informar como as coisas são, mas também é uma faca que
nos corta... na medida em que podemos tecer com as palavras telas que não representem
realidade alguma’. (Zygmunt Bauman, Vidas
Desperdiçadas, Zahar, 2012, p. 127).
Posso ter muito a dizer, mas não dizer coisa alguma com
isso. Por essa razão o silencio é fundamental. Escutar o silencio ajuda a
disciplinar esse costume não saudável de querer opinar sobre tudo e todos apenas
por ato frívolo. Disciplina nossa mente a não desperdiçar energia com o vicio
da difamação. Disciplina nosso coração a ser educado e gentil, pacificado e
contente consigo mesmo. Disciplina nossa emoção contra o veneno da amargura.
Um detalhe final. O ultimo dos profetas do Antigo
Testamento, Malaquias, encerra seu livro com a palavra ‘maldição’. Depois de
400 anos de silencio onde essa foi a ultima coisa dita, o que esperar? Mateus,
primeiro dos Evangelhos registra um anjo falando a José e Maria sobre Jesus: ‘Ele
será chamado ‘Emanuel’, que que dizer ‘Deus conosco’.
Viu como vale a pena cultivar o silencio?
Caleb Mattos
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