quinta-feira, 27 de maio de 2021

Comida no prato e sorriso no rosto.

 



‘Ana começou a se alimentar novamente, e seu rosto já não estava triste’ (1 Samuel 1:18)

Ir ao templo pode ser feito com o coração alegre: ‘Entrai por suas portas com ações de graças’(Salmos 100).Ou pode ser pesaroso quando a alma está abalada.

Ana vai ao templo, mas é provocada todas as vezes porque Penina zomba dela. Bebês eram levados ao templo. Os de Penina estavam sempre a seu lado. Ana, porém, era estéril.

Voltava para casa e não comia. Suas lagrimas eram seu alimento. Um único tema ocupava suas preces: um filho. E na obsessão por ele, menos alegria, menos alimento, mais tristeza.

 A depressão é uma somatória das lagrimas e da falta de um sentido. Perde-se o apetite porque o sabor da vida fica amargo. Tudo é monotônico, repetido, o alfabeto se reduz a poucas letras, a conversa gira em torno da falta e o que existe não é causa de gratidão.

O marido de Ana tenta lembra-la do seu carinho, o afeto entre eles, o amor dedicado. Ana é incapaz de celebrar o que tem. Peso da zombaria das mulheres, boatos de que Deus fechou seu útero, o sacerdote acusando-a de embriaguez.

Na depressão a culpa acrescenta mais peso ao que já não se suporta. Deus, porém, a observa, a escuta, prepara o balsamo que se derramará sobre o odor do pranto acumulado. Eli pronuncia a benção: ‘Vá em paz, que o Deus de Israel lhe conceda o que você pediu’.

A mulher de aflições, pela primeira vez em meses de melancolia, diz: ‘obrigada!’ A gratidão é indicativa de que a depressão está arrefecendo. Ana substitui o silencio pela fala. As lagrimas pelo riso. O prato vazio pelo prato cheio. A libido retorna. Ana engravida. Nasce Samuel.

Tristeza que se vive sozinho é como labirinto. Melancolia vertida em oração é semente que se planta para o novo dia. Como havia prometido, Ana devolve o filho após desmama-lo.

Ele será o conselheiro de muitos reis de Israel e um sacerdote abençoado. Ela o devolve e em seu gesto fica a lição: depressão pode ser revertida quando transformamos uma obsessão em oferta. Doamos aquilo que julgávamos imprescindível á vida. E vivemos satisfeitos porque não somos mais dependentes de nada.

Caleb Mattos

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