‘Ana
começou a se alimentar novamente, e seu rosto já não estava triste’ (1 Samuel
1:18)
Ir
ao templo pode ser feito com o coração alegre: ‘Entrai por suas portas com ações
de graças’(Salmos 100).Ou pode ser pesaroso quando a alma está abalada.
Ana
vai ao templo, mas é provocada todas as vezes porque Penina zomba dela. Bebês
eram levados ao templo. Os de Penina estavam sempre a seu lado. Ana, porém, era
estéril.
Voltava
para casa e não comia. Suas lagrimas eram seu alimento. Um único tema ocupava suas
preces: um filho. E na obsessão por ele, menos alegria, menos alimento, mais
tristeza.
A depressão é uma somatória das lagrimas e da falta
de um sentido. Perde-se o apetite porque o sabor da vida fica amargo. Tudo é monotônico,
repetido, o alfabeto se reduz a poucas letras, a conversa gira em torno da falta
e o que existe não é causa de gratidão.
O
marido de Ana tenta lembra-la do seu carinho, o afeto entre eles, o amor dedicado.
Ana é incapaz de celebrar o que tem. Peso da zombaria das mulheres, boatos de
que Deus fechou seu útero, o sacerdote acusando-a de embriaguez.
Na
depressão a culpa acrescenta mais peso ao que já não se suporta. Deus, porém, a
observa, a escuta, prepara o balsamo que se derramará sobre o odor do pranto
acumulado. Eli pronuncia a benção: ‘Vá em paz, que o Deus de Israel lhe conceda
o que você pediu’.
A
mulher de aflições, pela primeira vez em meses de melancolia, diz: ‘obrigada!’
A gratidão é indicativa de que a depressão está arrefecendo. Ana substitui o
silencio pela fala. As lagrimas pelo riso. O prato vazio pelo prato cheio. A
libido retorna. Ana engravida. Nasce Samuel.
Tristeza
que se vive sozinho é como labirinto. Melancolia vertida em oração é semente
que se planta para o novo dia. Como havia prometido, Ana devolve o filho após desmama-lo.
Ele
será o conselheiro de muitos reis de Israel e um sacerdote abençoado. Ela o
devolve e em seu gesto fica a lição: depressão pode ser revertida quando transformamos
uma obsessão em oferta. Doamos aquilo que julgávamos imprescindível á vida. E
vivemos satisfeitos porque não somos mais dependentes de nada.
Caleb
Mattos
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