quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Paixão é a mamadeira ; Amor é a picanha.


“O amor não é apenas um sentimento;  é também uma arte”.  Honoré de Balzac.

A tendência humana sempre tem sido a de reduzir o amor a uma sensação prazerosa que se acredita nunca diminuir ou mesmo acabar. Confundimos ‘paixão’ com ‘amor’ com muita facilidade. Enquanto ‘paixão’ é definida por Aurélio como ‘um entusiasmo intenso’, o ‘amor’ é descrito como ‘a dedicação de um ser à outro’.

Na paixão nós temos mais evidenciada a sensação emocional, mas no amor o que predomina é um compromisso com o outro que envolve mais do que sentimentos. De fato, em nossas relações, nós carecemos mais de amor do que de paixão, porque precisamos de respeito, comunicação sincera, bom humor, lealdade, paciência, altruísmo. O amor poderia ser descrito como um cacho de uvas, o fruto em si, mas cada uva em particular é um componente indissociável do fruto.

O verdadeiro amor nunca vem sozinho; ele se faz acompanhar de uma série de pré-requisitos que comprovam sua autenticidade. No texto de 1 Corintios 13, o apostolo Paulo define o amor não como um sentimento apaixonado mas como um teste de verificação. Ele começa dizendo que poderia doar todos os seus bens aos pobres mas se isso não fosse motivado por amor não valeria a pena. Prossegue afirmando que mesmo que fizesse um grande sacrifício  por alguém mas seus motivos mais sinceros não fossem o amor este seria um sacrifício inútil. 

Paulo tem uma compreensão de que o amor verdadeiro é sobretudo maduro ,  adulto.  Ele ajuda eficazmente a curar o medo, a maior dificuldade para amar.

 João afirma que o medo, seja ele de que tipo for, só pode ser curado pelo amor : “o perfeito amor lança fora o medo”(1 João 4.18). O substantivo grego ‘perfeito’ é melhor traduzido como ‘maduro’. Assim, não é qualquer tipo de amor que resolve os problemas humanos, mas unicamente o amor que cresceu, que se tornou adulto.  Porque existem amores doentios e insanos, pelo menos na forma como as pessoas o entendem e manifestam dependência destes tipos de ‘amor’.

 1. Baixa tolerância ao sofrimento. 
Há pessoas que acreditam que amar exclui qualquer forma de dor. Basta amar para parar de sofrer. Paulo diz: “O amor tudo sofre” . O ser humano tem predileção por uma vida sem imprevistos e mudanças. Prevenir o estresse é saudável(masoquismo não é bom a ninguém), mas chorar por qualquer imprevisto que acontece e querer que a vida seja gratificante as 24 horas do dia é uma atitude infantil de quem ainda não amadureceu.

 È claro que a capacidade de suportar a dor varia de pessoa a pessoa. Isso não depende apenas da genética mas também da educação. Alguem que foi superprotegido na infância terá maiores dificuldades de desenvolver paciência nas horas de conflito. Sua vida será dirigida pelo prazer( a idéia de que tudo tem que dar certo, sempre). Essa pessoa dificilmente terá capacidade de lidar com adversidades da vida, será dominada pela insegurança e aceitará qualquer tipo de relação, seja danosa e até prejudicial. Sua maneira de pensar é: “Não importa quão danosa seja a relação que tenho. Não estou pronto para a perda. È melhor um pássaro na mão, que dois voando”.

 2. O mundo gira ao meu redor. A chave para entender isso é o egoísmo. Tudo tem que ser do jeito que eu programei e se não for assim fico deprimido ou parto para a agressão. Atitude própria da criança que ‘arma’ o circo quando lhe negam o seu pedido. Neste caso, pessoas assim  entendem o amor de forma possessiva. O outro não é um ser com quem se compartilha a vida mas uma posse pessoal. Resultado: ciúmes exagerado, desconfiança crônica e não aceitar perdas como luto ou separação. Sua maneira de pensar é: “ A pessoa que amo deve girar ao meu redor e me dar satisfação. Eu sou o objeto do amor. Amélia que era a mulher de verdade”.

3. Ilusão de permanência. As pessoas se esquecem de que nada dura para sempre. Mas  acreditam que o ser amado jamais morrerá porque a presença do provedor(em todos os sentidos) garante a provisão. Tudo que se ganha pode se perder. O apego é a causa do sofrimento. O erro neste caso é achar que a relação com as pessoas sempre será a mesma, não enfrentará percalços ou mudanças na forma. Quando a intensidade diminui ou o amor assume a variável do companheirismo,  estas pessoas lamentam: ‘Ele(a) não me ama mais”...

Quando esperamos um amor idealizado(que existe só em nossa mente) podemos nos frustrar com as pessoas, esperando delas algo que é impossível de atingir ou oferecer. O apostolo Paulo procura corrigir nossa visão deturpada sobre o amor, oferecendo as duas primeiras evidencias dele:

1.       A paciência.
“O amor é paciente”.
Do grego ‘makrothumia’, significa ‘ resistência’. A menção é ao folego do atleta na maratona. A paciência tem a ver com duas vertentes: pessoas e situações. O verdadeiro amor é capaz de não desistir de alguém ainda que as circunstancias sejam difíceis. O paradigma que podemos usar é o da mãe que não abandona seu filho mesmo quando ele está na penitenciaria, e o visita todos os dias, cuidando das suas necessidades e esperando por sua libertação. Costuma se dizer que ‘paciencia tem limites’, mas no verdadeiro amor, não. Os limites somos nós que estipulamos porque a paciência não conhece restrição, tempo, nem é condicionada a uma reação adequada.


Quando amamos a alguém de verdade vamos lutar por esta pessoa não importa o que os outros digam e mesmo que fiquemos sozinhos. Isso explica porque certas esposas, depois de serem traídas, continuam tentando salvar o casamento ainda que tenham passado pela dor da infidelidade. Dificilmente vamos entender esta persistência em recuperar o marido. Só o amor explica esta resistência e perseverança.

 O mesmo se aplica ás mães que lutam por seus filhos viciados. Pessoas que desistem de uma relação só porque foram contrariadas, porque receberam um ‘não’ ou porque estão conhecendo  mais profundamente aqueles com quem convivem  e não gostam da descoberta, na verdade não amam; entraram nesta relação por conveniência, medo de ficarem sozinhas ou desejo de agradar a opinião da sociedade. Se você quer amar de verdade, aprenda a desenvolver paciência com as pessoas e com as situações imprevisíveis, que fazem parte natural de qualquer relacionamento.


2.       A Bondade.
“O amor é bondoso”.
Bondade não é uma idéia moral, é a demonstração pratica de carinho.  Isso quer dizer que o verdadeiro amor só é capaz de fazer o bem, e de tratar com carinho e de dar o melhor à pessoa amada. Porque ele não depende da reação da pessoa, e sim da sua própria decisão pessoal. O amor que trata com bondade é capaz de dar o melhor de si porque não se preocupa com o que o outro sente ou como irá responder. Ele não é influenciado, nem determinado por uma reação; ele se antecipa em socorrer e ajudar porque não quer ver o outro sofrendo.


A parábola do bom samaritano é o clássico modelo do amor bondoso. Ele mal conhece a vitima, mas se solidariza, carrega-o sobre seu animal, cuida de suas feridas, paga sua hospedagem. O detalhe é que a vitima era seu inimigo. Mas quando o amor é determinado pela bondade ele desconsidera categorias de amigo-inimigo; irmão-estranho; merecedor-indigno. A maior recompensa do amor é justamente poder amar alguém e fazer o melhor para esta pessoa.

A maior alegria de quem ama é ver o outro feliz, bem, estabilizado e livre de perigos, mesmo que não diga um ‘obrigado’. A satisfação do amor é justamente o anonimato. Quando amamos de verdade não condicionamos nossas palavras, atitudes e afetos à resposta que iremos receber. Ainda que esperemos uma resposta favorável, se ela não vier, não iremos mudar nosso jeito de agir contrariados e tomados pela amargura. Amar é tratar sempre com bondade, mesmo àqueles que ainda não sabem como amar ou como retribuir o nosso amor.

A paixão é como a mamadeira - dura tanto tempo quanto leva para um bebê crescer. O amor é como a picanha - só os adultos são capazes de degustá-la, saboreá-la e digeri-la.




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