terça-feira, 29 de maio de 2018
sexta-feira, 25 de maio de 2018
quarta-feira, 23 de maio de 2018
Quando eu era criança.
Acho interessante que, escrevendo longamente sobre o
belíssimo sentimento do amor, Paulo, o apóstolo, descreva sua apreensão como
uma passagem do infantil ao adulto.
O amor é na maior parte do tempo infantil,
amor de memória, o Édipo revisitado muitas vezes e como Freud afirma, “é
verdade que o amor consiste em novas adições de antigas características e que
ele repete reações infantis. Mas este é o caráter essencial de todo estado
amoroso. Não existe estado deste tipo que não reproduza protótipos infantis.”
Buscamos no amar uma satisfação ergóica e às vezes permeado
de muito narcisismo. Daí o autor do texto dizer que amar não é dominar pelo
conhecimento, nem dominar pela espiritualidade, mas desarmar-se de preventivos
que me levem somente a querer o que me beneficia e que não me faça mal.
Se amo
com prevenção é porque o que chamo de ‘medo de sofrer’ não passa de reação narcísica
repetida.
Amar é estar vulnerável ao outro quando se escolhe
amar. Quantos você já amou que nunca lhe
retribuíram? Nem mesmo Jesus viu a gratificação de seu amor na maior parte da
multidão que o seguia. Mas ele prosseguiu amando porque escolheu amar.
E então,
vendo na escolha o amar e não na necessidade ser amado subimos o degrau que
separa a infância da maturidade, a ponto do apostolo afirmar que ‘agora nosso conhecimento
(sobre o amor) é incompleto, mas quando vier o que é perfeito, essas coisas
imperfeitas desaparecerão’.
Num outro texto bíblico do Novo Testamento lemos que ‘o
perfeito amor lança fora o medo’. Então amor maduro é aquele que perdeu o medo.
É o amor aberto ao sim e também ao não. É o amor que se doa sem receber
recompensa muitas vezes. É o ser que se torna pai e mãe de si mesmo e adota
outros como filhos e filhas.
Amor de Deus é assim. E o desafio nosso é aprender
o dele. Para que ao amar cuidemos da criança carente dentro de nós, não a
mimando com um amor de dependência, mas ensinando a dividir seu amor com
outros. Como a gente ensina nossos filhos a repartir seus brinquedos com seus
amigos.
Caleb Mattos.
terça-feira, 22 de maio de 2018
sexta-feira, 18 de maio de 2018
O carro na frente dos bois.
‘Se você não sabe como decidir faça o que manda seu coração’.
Bela frase, não é?
Mas eu gostaria neste artigo de desconstruir essa ideia
dicotômica entre razão e sensibilidade. Porque nós somos um ser integrado e
integrador de relações.
E como tal o tempo todo interagimos usando tanto nosso arcabouço
técnico e razoável como nosso lado mais afetivo. Pensar que alguém consegue em
qualquer tipo de assunto ser mais cabeça do que coração é tornar o ser humano alguém
esquizofrênico que tanto não separa o real do imaginário, como num momento vive
pela emoção e outro só pelo raciocínio.
Essa noção de agir fazendo o que manda o coração contem mais
um valor cultural do que um principio bom para se viver e tomar decisões. Porque
nossa cultura é marcada pelo desejo da busca pelo prazer, prazer aqui entendido
como a fuga de tudo aquilo que possa ser pesado, custoso, difícil e de longo
prazo.
Bauman fala das modernas relações humanas que são liquidas e
que se substituem facilmente pelo critério do ‘gostei disso’ ou ‘não gostei
daquilo’ e consequente inclusão e exclusão.
Freud em ‘O mal-estar na civilização’
afirma que ‘grande número de pessoas empreende a tentativa de assegurar a
felicidade e proteger-se do sofrimento através de uma delirante modificação da
realidade’.
Por não aceitarmos nossas realidades desejamos maquia-las
para não nos parecerem tão hostis. E é justamente aí que cometemos nossos maiores
equívocos. Porque se acreditamos que o coração, os sentimentos, são a fonte única
e segura de certezas e prazer então estamos dizendo que é melhor sentir do que
pensar e planejar. Que é melhor viver sensações do que lidar com a vida.
E inevitavelmente os que fazem o que manda o coração são os
que mais sofrem emocionalmente pois na medida em que fogem da sua realidade por
causa da dor esquecem que seu coração já está machucado e contaminado com a
dor.
A solução não é sobrecarregar a emoção com mais emoção e sim
com menos. O ato de se refugiar, ficar em silencio, pensar com calma nas
circunstancias e então montar um plano de ação é a melhor medida. Quem sempre
age no calor de uma emoção colhe resultados ruins.
Aprenda, portanto, que você é um ser holístico, todo
integrado, inseparável e indistinto. Use tudo o que você é para escolher. Não
coloque o carro na frente dos bois.
Caleb Mattos
quinta-feira, 17 de maio de 2018
Você já enfrentou seu monstro?
No mito de Édipo, numa de suas etapas de tornar-se
plenamente ele mesmo precisa enfrentar a Esfinge, que é um tetramorfo com pés
de touro, corpo de leão, asas de águia e rosto de homem. Curiosamente o tetramorfo
aparece também nos 4 Evangelhos do Novo Testamento.
O homem representa o evangelista Lucas e aponta para a
humanidade de Cristo. O touro representa o evangelista Marcos porque nos seus
escritos há demonstrações evidentes de poder, exorcismos e curas em Jesus que
se tornou servo entre os homens. Mateus está representado pelo leão porque fala
muito do Reino de Deus e do seu domínio na terra. E João representa a águia,
falando basicamente da eternidade-divindade de Jesus, reconhecido como ‘filho
de Deus’.
Juntando os 4 simbolismos dos Evangelhos temos a percepção simbólica
de que como Jesus precisamos crescer até atingir a plena consciência de nossa
realidade humana: a razão, o sentimento, a transcendência, e a imanência. Porque o enigma da Esfinge é este: ‘qual o
animal que pela manhã tem quatro pernas, ao meio-dia tem duas e no entardecer
tem três?’
Édipo responde que é o homem que na infância engatinha, como
adulto se apoia em suas pernas e na velhice recorre a um cajado para se apoiar.
O desafio da existência é assumir a própria condição humana sem transferências ou
dependências exteriores, buscando no cultivo do autorrecolhimento a descoberta
do bem-estar, sublimando muitas vezes nossas pulsões mais primitivas em prol de
outras realidades mais permanentes.
Porque se o monstro estava pronto a devorar Édipo, um ser
superior em força diante de um simples mortal, este mortal agora vence o tetramorfo
que se atira do penhasco. Quando se desvenda os mistérios que nos apavoram, os
monstros de nossa psique somem porque passamos a domina-los na consciência de
que eles eram representações simbólicas que apavoravam a criança que em nós
ainda persiste.
E se ela não nos deixa jamais ao longo da vida é preciso protege-la
tornando-se dela pai e mãe, como homem ( ou mulher ) responsável pela transmissão
da segurança da emoção. Se, afinal, o
enigma é a própria condição de ser humano, nada melhor do que amar o humano que
habita em nossa condição.
Jesus se fez ser humano, deixando a gloria do Céu para amar
o ser humano e levanta-lo á condição superior. Quem recusa sua humanidade se
torna presa permanente dos monstros e dos enigmas que atormentam. ‘Decifra-me
ou devoro-te’. Qual será a sua opção?
Caleb Mattos.
segunda-feira, 14 de maio de 2018
sexta-feira, 11 de maio de 2018
O operador do holofote.
Sua tarefa era tão simples quanto anônima.
Segurar e ajustar o foco do holofote para que pessoas
importantes recebessem o destaque adequado. Vestia-se de maneira simples até
porque permanecia na sombra do palco o tempo todo e nunca era notado.
Mas sua tarefa era das mais essenciais para o sucesso do evento.
Sem ele e seu trabalho a luz não incidiria sobre a chegada da celebridade, nem
permitiria o som de aplausos no final.
Findo o evento em que
todos se acotovelavam para a selfie com a estrela do palco, o operador do
holofote guardava suas ferramentas de trabalho na bolsa e saía do teatro tão discreto
e desconhecido como sempre.
Às vezes as pessoas lhe perguntavam se ele era a luz da
noite. Satisfeito com seu trabalho relevante ele respondia que apenas
direcionava o foco para o verdadeiro astro. E o tempo passou.
O operador de holofote já não podia mais trabalhar pois lhe
faltava a força necessária para a tarefa. Em sua casa, reunido á sua família,
vivia das lembranças dos grandes espetáculos. Mas um dia ele recebeu uma
homenagem eternizada no livro. Escreveram sobre ele, o anônimo.
Registraram pela primeira vez seu nome, João. E o autor do
livro fez questão de destacar que sem o operador do holofote ele jamais teria
atingido tudo o que tinha planejado. Sua fama mundial só foi possível graças ao
João que permitia que a luz brilhasse sobre a sua atuação.
João não morreu de velhice, mas essa é outra parte da história.
Mas ele permanece como paradigma de todo aquele que no anonimato colabora para
fazer da Estrela da Manhã a pessoa mais conhecida e amada deste mundo.
Caleb Mattos.
terça-feira, 8 de maio de 2018
O melhor da vida está nos intervalos.
Deus não criou o mundo em um dia.
Foi preciso que após um determinado período (ou eras) houvesse um tempo de repouso. Isso fica claro na constante declaração presente na narrativa do Genesis: ‘E viu Deus que ficou bom’.
Este comentário aparece todos os dias, após algo ser criado. O ato de ‘ver’ aponta não para uma atividade da visão, mas para um gesto de apreciação. Ver é contemplar, admirar, deter-se para celebrar. Independentemente do fato de você crer ou não em Deus essa é a ordem de todas as coisas que existem, inclusive é a ordem que sua vida deveria seguir.
Somos pressionados pelo tempo cronológico a encaixar a nossa existência dentro de uma agenda e também no limite de ponteiros, de manhã à noite. Acostumados a esta ditadura da urgência queremos que eventos que não dependem de um tempo marcado aconteçam dentro dos minutos que estabelecemos.
E nos frustramos com frequência porque não entendemos que o princípio é: ação-repouso-contemplação-ação. Nos movemos de atividade em atividade e nem desfrutamos o que fizemos ou atingimos e de novo nos lançamos á maquina do ativismo, sem nos perguntarmos qual o sentido de viver assim.
Pense em tudo o que diz respeito ao seu cotidiano seja no campo profissional, familiar e afetivo. Se não obedecer ao período de descanso para admiração você vai envelhecer como o homem que Salomão apresenta e que diz no fim dos seus dias: ‘Não tenho prazer nenhum em viver’.
Grande parte das pessoas corre enquanto é jovem pensando em preparar seu futuro para só lá então, quando ele chegar, desfrutar a vida. Mas, quem sabe o dia de amanhã? A Escritura diz que ‘somos como neblina, que aparece e logo dissipa’. Por isso, altere seu padrão de funcionamento para o modelo natural feito pelo Criador. Afinal, são nos intervalos que as coisas mais bonitas da vida acontecem.
Caleb Mattos.
segunda-feira, 7 de maio de 2018
sexta-feira, 4 de maio de 2018
Jesus e o meio ambiente.
Acostumado a ensinar sobre a ressurreição de Jesus há muitos
anos eu confesso que não tinha reparado num detalhe da narrativa de João no seu
evangelho.
Na versão que eu uso
é dito que quando Pedro e o discipulo amado entram no sepulcro encontram o pano
que cobria a cabeça de Jesus dobrado e colocado próximo dos lençóis que
envolveram seu corpo. Diante da magnitude do evento maior, a ressurreição,
todos os demais detalhes perdem importância.
Mas se o escritor quis registrar um detalhe é preciso
prestar atenção. O tumulo onde Jesus foi colocado não era dele, era emprestado.
Ele esteve ali sepultado até o terceiro dia. E quando Deus o ressuscita ele sai
do sepulcro, mas não sem antes arrumar aquele espaço que ocupou.
Deixou tudo
dobrado e organizado.
Prova de seu agradecimento à pessoa que lhe forneceu aquele
espaço.
Levando esse detalhe para o campo das nossas responsabilidades diárias
temos que aprender com ele que tudo quanto ocupamos no momento é um ambiente
para o qual fomos convidados a participar.
Seja a nossa família, o nosso trabalho, a casa de nossos amigos,
o transito, a fila de um banco, o consultório, o passeio, a praia, estamos ali
somente por um determinado tempo.
E porque partimos, dadas as inevitáveis
mudanças, precisamos deixar o ambiente que um dia ocupamos, limpo, organizado,
melhor.
É ruim quando pessoas não sabem sair de seus espaços e os
destroem pela falta de sensibilidade de que aquilo não lhes era de direito, mas
que pertencia a um todo maior. Um exemplo são as praias e as serras, onde
turistas jogam no chão seu lixo e vão embora deixando a marca de seu desprezo
por outros.
Até mesmo o lençol, que envolveu seu corpo e o pano que cobriu
sua cabeça, Jesus devolveu arrumado e dobrado.
A fé cristã não pode se converter em uma alienação da natureza, uma
alienação dos convívios humanos saudáveis, uma alienação do dever do bom
exemplo. Jesus deixou o tumulo, que antes nunca tinha sido usado, organizado,
limpo e com a marca da gratidão. Você, quando entra e sai dos ambientes, segue
o exemplo dele?
Caleb Mattos.
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